Descrição de chapéu Banco Central

Ministros de Lula se irritam com fala de Campos Neto sobre meta, embora reconheçam acenos

Presidente do BC se declarou contra mudança em percentual de inflação a ser perseguido pela autoridade monetária, o que desagradou ao Palácio do Planalto

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Brasília

Integrantes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se irritaram com a declaração dada na segunda-feira (13) pelo presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, contra mudanças na meta de inflação. Apesar disso, avaliaram positivamente os acenos feitos ao governo.

Ministros tanto do Palácio do Planalto como da equipe econômica afirmam que Campos Neto teria defendido, em conversas reservadas, a mudança na meta de 2023 de 3,25% para 3,5%. Na entrevista ao Roda Viva na segunda-feira (13), no entanto, ele fez declarações no sentido contrário.

O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, na sala do Copom na sede do BC - Pedro Ladeira/Folhapress

Os membros do governo avaliam que a alteração de postura e o fato de não reconhecer que teria mudado de opinião representam uma quebra de confiança que dificulta a melhora no diálogo entre o Executivo e a autoridade monetária.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), elogiou os acenos de Campos Neto a Lula. Pacheco reafirmou que a autonomia do BC é questão superada no Congresso, e disse que aplaude a postura de Campos Neto de buscar o diálogo com o governo federal.

"[Campos Neto] que, aliás, é uma pessoa muito sensata, muito ponderada, muito equilibrada, capaz de ouvir. De fato, eu só rendo homenagens a ele por essa postura. Seria muito ruim se ele tivesse agora uma postura beligerante. Que estivéssemos discutindo agora uma perspectiva se ele fica, se ele sai, etc", disse Pacheco durante evento do banco BTG Pacutal. "Certamente, o presidente Lula e toda a sua equipe, sabedores de que nós temos desafios muito amplos pela frente, [entenderão que] nós não podemos dividir."

Lula já defendeu publicamente mudanças sobre o tema. O presidente acredita que a meta de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo, obriga o BC a implementar um arrocho econômico por meio da elevação dos juros em um momento em que o Brasil precisa crescer.

Campos Neto foi questionado durante a entrevista sobre notícias publicadas nos últimos dias pela imprensa de que teria sido a favor do aumento da meta em uma conversa com Lula.

"A única mensagem que passei [para o governo] é que a forma de vender qualquer tipo de aprimoramento [no sistema de metas] é falar de aprimoramento total e, nesse aprimoramento, existem várias variáveis. Em nenhum momento a gente defendeu simplesmente aumentar a meta no sentido de ganhar flexibilidade, mesmo porque não é nossa crença", respondeu.

Ele afirmou que há uma divisão entre economistas "que acreditam no sistema de metas" sobre como tratar o tema neste momento.

Segundo Campos Neto, há um grupo que entende que a meta deste ano é muito baixa mesmo e que, como ficou difícil de atingi-la, a mudança se faz necessária.

O presidente do BC disse que essa avaliação leva em consideração o fato de a meta ter sido estabelecida em outro cenário econômico e que houve uma mudança, entre outros motivos, pela inflação basal dos Estados Unidos e porque havia uma expectativa de que a pandemia da Covid-19 gerasse uma deflação.

O chefe da autoridade monetária, porém, disse que faz uma análise oposta.

"Tem outro grupo de economistas que pensa ‘não, olha só, se aumenta meta num momento como esse, onde a meta está um pouco desancorada, o que vai acontecer é o seguinte: os economistas e analistas vão projetar meta igual à nova meta, mas, como meta foi aumentada em momento onde você não está atingindo a meta, ela vai pedir um prêmio de risco maior ainda. Então você não só não vai ganhar flexibilidade como vai perder. Hoje, me situo neste segundo grupo", afirmou.

A meta de inflação é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que é composto por Campos Neto e pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet.

Nesta terça-feira (14), Campos Neto voltou a fazer acenos ao governo Lula e disse que é preciso ter boa vontade com o governo e elogiou sua política econômica.

"O investidor é muito apressado, muito afoito. A gente tem que ter um pouco mais de boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. Tem uma boa vontade enorme do ministro Fernando Haddad [Fazenda] de falar, 'olha, nós temos um princípio de seguir um plano fiscal com disciplina'. Tem um arcabouço que está sendo trabalhado, já foram elaborados alguns objetivos", disse Campos Neto durante evento do banco BTG Pactual.

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