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Gabi Monteleone e Ariel Kogan

Produção de vinho no Brasil do século 21 tem semelhanças com o Brasil do século 19

É inacreditável, vergonhoso e inadmissível em pleno século 21 mais de 200 trabalhadores serem resgatados em condições análogas à escravidão de empresas ligadas a vinícolas do Sul do país

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Gabi Monteleone

É sommelière, empresária e consultora, co-idealizadora e sócia do projeto "Tão Longe, Tão Perto", que faz trabalho de curadoria e comunicação de vinhos brasileiros. Tem como norte de seu trabalho a pesquisa permanente e a comunicação, não somente do vinho, mas de tudo que envolve esse universo

Ariel Kogan

É engenheiro industrial, empresário, sócio-fundador da Família Kogan Wines e também dos projetos “Tão Longe Tão Perto”, “Vinhos de Combate”, e “Vinhos Mysterius”. É um defensor do vinho ético, artesanal, produzido por pequenos produtores

São Paulo

O vinho, do alto de seu pedestal, muitas vezes luxuoso (luxo esse incentivado por uma elite consumidora alienada), sai de seu lugar primordial de alimento para o corpo e a alma, para dar palco a monstruosidades como uso incessante de veneno nas plantações e, agora, veja bem, trabalho escravo.

Como podemos contribuir para uma produção ética?

Sendo o vinho a segunda bebida alcoólica mais consumida do mundo, um produto que provém de uma fruta e que, portanto, depende da agricultura, depende de pessoas, depende de uma cadeia enorme, depende do clima, depende da água, da terra.

O vinho traz tudo isso em si, todos esses vieses. Campo, biodiversidade, regeneração, manejo, clima, geologia, cultura, economia, política, antropologia, arqueologia, tecnologia, pesquisa científica, ética, saúde, gastronomia, bem viver.

Segunda bebida mais consumida do mundo, vinho tem cadeia que envolve agricultura, clima, economia, cultura e toda a sociedade - Fotolia

É importante que o consumidor saiba diferenciar a forma de fabricação dos vinhos, entendendo as diferenças nas cadeias produtivas de cada marca. Entender a importância do manejo do solo, o ciclo das plantas, o terroir, o respeito à adaptabilidade das espécies e o respeito por quem nela trabalha.

Entender a diferença entre agricultura familiar e agricultura em larga escala. A diferença entre produção artesanal e produção em larga escala.

Esse diálogo é mais urgente do que nunca. Descobrir pessoas em situação análoga à escravidão envolvidas na cadeia produtiva de reconhecidas empresas vinícolas brasileiras é uma situação vergonhosa, horrorosa e urgente para o setor se mobilizar em torno de soluções sistêmicas para a prevenção, monitoramento, rastreamento e punição dos responsáveis.

É preciso se responsabilizar. Estar mais próximo de todas as frentes, da produção ao consumo, como um elo das diferentes cadeias. Promover um olhar mais lúcido em torno do vinho e agir com responsabilidade, ambiental e social, diante da complexidade de um produto, que é resultado de uma das maiores atividades agrícolas do mundo.

Não há escapatória se queremos consumir uma bebida de forma mais ética. É preciso cuidar.

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