Inflação dará alívio a pobres e pesará mais na classe média, dizem especialistas

Assista íntegra de encontro sobre o assunto promovido pela Folha e o Ibre-FGV

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São Paulo

Depois de castigar fortemente os mais pobres nos últimos três anos, a inflação de alimentos deve dar trégua em 2023. Neste ano, a classe média é quem deve sentir mais o peso da aceleração dos preços, que será mais forte nos itens administrados (como gasolina e energia elétrica) do que nos alimentos.

Em debate promovido pela Folha e o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, especialistas avaliam que uma das prioridades do governo Lula será manter e aperfeiçoar os benefícios sociais aos mais pobres. Pois, embora em ritmo de alta menor, os alimentos já reduziram muito o poder de compra dessa faixa da população.

Segundo André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do Ibre-FGV, os alimentos no domicílio dispararam 45% nos últimos três anos, para uma inflação oficial acumulada de 22,8% no período. Para 2023, Braz estima que a alta dos alimentos será de 3,7%, abaixo da expectativa de mercado para o IPCA, de cerca de 6%.

"Mas é preciso lembrar que os salários são muitas vezes corrigidos pela média do IPCA, não pela inflação de alimentos. Logo, a perda de renda dos mais pobres levará muito tempo para ter uma reposição em relação à variação passada dos preços da alimentação", afirma.

Braz destaca que outros índices de preços, como da inflação no atacado, vêm mostrando desacelerações importantes, assim como de bens duráveis, com previsão de alta entre 3,5% e 4%.

"Em 2023 haverá uma certa inversão, com os alimentos saindo do foco, que passará aos preços administrados, que atingem mais a classe média. A diferença é que esse grupo pode estar se beneficiando dos juros elevados, pois normalmente tem reservas em aplicações financeiras", diz.

Movimentação na feira de hortifrutigranjeiros, no Largo Zumbi dos Palmares, no centro de Porto Alegre. - Evandro Leal/Agência Enquadrar/Folhapress

Silvia Matos, pesquisadora e coordenadora do Boletim Macro Ibre-FGV, afirma que, embora haja alguma trégua na inflação de alimentos, a atividade econômica também está desacelerando, o que pode trazer perda ou estagnação da renda dos mais pobres. Em sua estimativa, a economia brasileira deve crescer ao redor de 0,3% neste ano.

"A baixa atividade não levará a grandes ganhos para os mais pobres no mercado de trabalho, daí a importância das políticas de transferência de renda, que precisam ser cada vez mais aperfeiçoadas, levando em conta o perfil dos beneficiários."

Matos lembra que, desde a pandemia, o volume de recursos destinados ao atual Bolsa Família (que virou Auxílio Emergencial e depois Auxílio Brasil no governo Bolsonaro) passou de 0,5% como proporção do PIB para 1,5% atualmente.

Para Daniela Campello, cientista política e professora da FGV-Ebape, o cenário de desaquecimento econômico em 2023, apesar dos benefícios sociais, pode trazer problemas de popularidade para o presidente Lula e à sua relação com o Congresso.

"Este é um governo que foi eleito com a proposta de melhorar a vida dos mais pobres, mas com margem muito apertada de votos e em um país dividido", afirma Campello.

"Há pouco espaço para uma lua de mel, e a relação do eleitor com a economia não considera fatores externos que possam estar afetando o desempenho do país. Eles acabam responsabilizado diretamente o presidente", afirma.

Assista abaixo a íntegra do encontro promovido pela Folha e o Ibre-FGV.

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