Descrição de chapéu Governo Lula

Lula repreende ministros que divulgam 'genialidades' sem consultar o Planalto

Presidente não citou nomes, mas fala foi percebida como recado contra anúncio de passagens aéreas a R$ 200, feito por Márcio França.

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou duramente seus ministros nesta terça-feira (14) para que não anunciem políticas públicas que não tenham sido apresentadas e recebido o aval da Casa Civil.

Lula afirmou que não quer "propostas de ministros", mas de governo. Em um tom mais duro, sem citar nomes, pediu que os titulares da pasta que sejam autores de alguma "genialidade" as apresentem para recebam o trâmite adequado dentro do governo antes de as tornarem públicas.

"Não queremos propostas de ministros. Todas as propostas de ministros deverão ser transformadas em propostas de governo, e só será transformada em proposta de governo quando todo mundo souber o que vai ser decidido", afirmou o presidente.

"Por isso que é importante que toda e qualquer posição, qualquer genialidade que alguém possa ter, é importante que antes de anunciar faça uma reunião com a Casa Civil para que a Casa Civil discuta com a Presidência da República, para que a gente possa chamar o autor da genialidade e possa anunciar publicamente como se fosse uma coisa do governo", completou.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Gabriela Biló-10.mar.23/Folhapress

A fala de Lula aconteceu durante reunião ministerial no Palácio do Planalto, cujos primeiros minutos foram transmitidos pelos canais do governo federal.

Lula está realizando reuniões ministeriais temáticas. Na semana passada, além da equipe econômica e do núcleo político, os participantes eram todos ligados à área de infraestrutura.

A reunião desta terça envolveu ministros da área social.

Lula não citou os nomes dos ministros cobrados, mas a fala foi percebida como um recado para o ministro da Secretaria dos Portos e Aeroportos, Márcio França.

Neste domingo (12), em entrevista ao jornal Correio Braziliense, França afirmou que o governo federal pretende fechar acordo com companhias aéreas para vender passagens a R$ 200 o trecho a aposentados, estudantes e servidores públicos. Isso seria possível com a ocupação de assentos ociosos em voos de carreira.

No entanto, na própria entrevista, França ressaltou que a proposta não havia sido acordada com o governo.

"Pedido do presidente Lula é ter mais passageiros e aeroportos, com mais pousos de aviões de carreira. O plano está montado, agora é uma questão de o governo concordar. Será uma revolução na aviação brasileira. A meta é encontrar passagens a R$ 200 (o trecho), R$ 400 ida e volta, de qualquer lugar do país."

"O que estamos buscando é comprar a ociosidade dos espaços. As companhias brasileiras chegam na faixa de 30 milhões de passageiros, cada uma delas, operando com 78% a 80% de vagas ocupadas. Outras 20% saem vazias. Eu quero essas vagas para as pessoas que não voam", afirmou ao jornal.

Lula, no entanto, afirmou que iria apresentar os casos de medidas que foram apresentadas sem o aval da Casa Civil no decorrer da reunião, que depois teve a transmissão interrompida.

Logo após a reunião, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, buscou colocar panos quentes nas críticas de Lula, recusando-se a responder a jornalistas quais os ministros eram os destinatários do recado. No entanto, reconheceu que a sua pasta ainda não recebeu de Márcio França e sua equipe mais informações sobre a proposta das passagens aéreas a baixo custo.

Rui Costa apenas reforçou que é preciso haver uma articulação dentro do governo.

"Quando é anúncio do governo, muitas vezes envolve mais de um ministério. E por mais que a ideia seja boa, é preciso pactuar com outros ministérios para haver um alcance e eventuais impactos em outras áreas. E portanto o presidente quer que as boas ideias sejam apresentadas, mas que elas sejam divulgadas na medida em que haja uma validação do governo", afirmou.

Outro caso de medida não acordada com a cúpula aconteceu ainda nos primeiros dias do governo. O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, anunciou publicamente a intenção do governo de rever alguns pontos da reforma da Previdência.

Lupi foi desautorizado no dia seguinte. O chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse que qualquer proposta passará necessariamente pela sua pasta antes de sua análise e que isso foi algo tratado com o próprio Lula. Ele afirmou ainda que qualquer proposta só será encaminhada após aprovação do presidente.

"Não há nenhuma proposta sendo analisada e pensada neste momento para revisão de reforma, seja previdenciária ou outra. Neste momento não tem nada sendo elaborado", afirmou Costa.

O presidente da República ainda reforçou que a discussão interna das propostas é importante para que o governo não cometa erros, não prometa o que não vai poder cumprir. Por isso considerou necessária uma avaliação, entre outros, dos ministérios da Fazenda e do Planejamento.

"Vocês terão todo o apoio, combinando com o [Fernando] Haddad, com a Simone [Tebet], que são as pessoas que cuidam do caixa do governo. Para que a gente não erre, não prometa aquilo que não pode cumprir, faça apenas aquilo que está dentro da nossa possibilidade", afirmou o mandatário.

"E que se tiver que arriscar em alguma coisa, a gente arriscar com viés de acerto acima de uns 80%. Porque a gente também não pode correr risco de anunciar alguma coisa que não vai acontecer", completou.

Lula participou depois, no meio da tarde, de evento de encerramento do congresso da Frente Nacional de Prefeitos. Na ocasião, o mandatário fez uma defesa da classe política e disse que preferia políticos a técnicos, mesmo com falas populares de que os homens públicos não são probos.

"Tem gente que diz 'mas eu não gosto de político, porque político é tudo ladrão'. Mas eu gosto de político. Podem falar que político é tudo ladrão, mas político todo ano, a cada quatro anos, ele vai para a rua colocar o nome dele em julgamento para ser xingado, para ser avacalhado", afirmou o presidente da República.

"A pessoa quando faz um concurso com 18 anos se aposenta sem fazer nenhum concurso mais. Por isso aprendi a ser político, a gostar de política, a respeitar política. Eu prefiro o político competente a um técnico, porque o político entende um pouco de tudo e muitas vezes o técnico nao entende de nada", completou.

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