Descrição de chapéu Governo Lula

Não faríamos Itaipu hoje como foi feita no passado, diz Lula

Obra da usina hidrelétrica alagou parque nacional e foi criticada por ambientalistas na época

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Catarina Scortecci Denise Paro
Curitiba e Foz do Iguaçu

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quinta (16) que, caso a usina hidrelétrica de Itaipu fosse feita hoje, jamais teria sido construída da forma como foi, por conta da maior preocupação ambiental.

"Hoje todos temos clareza que não teríamos feito o lago cobrir Sete Quedas como naquela época. Naquele tempo, não existia a compreensão climática que existe hoje", discursou.

Itaipu foi construída durante a ditadura militar. O projeto da usina previu a criação de um enorme lago que encobriu as cachoeiras de Sete Quedas, no Paraná. Elas faziam parte de um parque nacional e eram uma grande atração turística, por serem as cachoeiras de maior vazão em volume de água do mundo até então.

Enio Verri toma posse no comando brasileiro da Itaipu ao lado dos presidentes do Brasil, Lula, e do Paraguai, Mario Abdo Benítez - AFP

Nesta quinta, ao lado do presidente paraguaio, Mario Abdo Benitez, Lula disse ainda que a renovação do Tratado de Itaipu, com o Paraguai, levará em conta a responsabilidade do Brasil no desenvolvimento da região e dos países vizinhos.

"Faremos um novo tratado que será muito benéfico para a manutenção do desenvolvimento do Paraguai, do desenvolvimento do Brasil", disse Lula. "O Brasil, como irmão maior dos países da América do Sul, tem que ter a responsabilidade de fazer com que os outros países cresçam junto conosco", afirmou.

Em sua fala, o presidente se comprometeu a dar mais atenção ao Mercosul e reorganizar a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), bloco criado em 2008 voltado para estreitar relações comerciais, culturais e políticas de países sul-americanos. "Volto com o compromisso de fortalecer o Mercosul porque já está provado que juntos temos força para negociar e separados somos muito frágeis".

Para o presidente, a aproximação dos países sul-americanos e fundamental para o desenvolvimento. "Somente com paz e tranquilidade e com muito exercício de democracia é que a gente vai garantir que nosso continente deixe de ser uma região pobre e em desenvolvimento".

Lula foi a Foz do Iguaçu (PR) para a posse do ex-deputado federal e economista Enio Verri (PT) como diretor-geral brasileiro da usina hidrelétrica Itaipu Binacional, com mandato até maio de 2027.

Verri assume Itaipu em um momento crucial. Brasil e Paraguai iniciam neste ano uma renegociação do Anexo C do tratado bilateral, que rege a estrutura financeira da empresa e de comercialização da energia da usina.

A renegociação do Anexo C ocorre após a quitação da dívida contraída há quase 50 anos para a construção da usina, em 28 de fevereiro. A expectativa é que as partes comecem as negociações no segundo semestre, após a eleição presidencial no Paraguai.

Em seu discurso, Lula também defendeu a importância da Itaipu para o desenvolvimento local e citou as comunidades indígenas que estão na área de influência da usina.

Também defendeu a retomada da Unila, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana. "Fiquei com muita tristeza quando passei de helicóptero agora e parece abandonada. Depois que deixei a Presidência, pouca coisa foi feita. Vamos reconstruir a Unila", disse ele.

Lula ainda mencionou a possibilidade de produção de hidrogênio verde a partir das águas do reservatório da hidrelétrica. "Quando vejo Itaipu vertendo água, eu imagino quanto de dólar a gente está perdendo. Quem sabe em um futuro muito próximo a gente estará produzindo hidrogênio verde desta água de Itaipu, ganhando dinheiro nas duas pontas", afirmou o presidente.

Na cerimônia, estavam presentes parlamentares, ministros, prefeitos da região e a primeira-dama, Rosângela Silva, a Janja, que trabalhou por mais de 15 anos em Itaipu.

Em missão oficial na Ásia, o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), não participou e foi representado pelo vice, Darci Piana. A cerimônia foi realizada no Cineteatro dos Barrageiros da usina. O local estava lotado com funcionários da hidrelétrica.

Reeleito deputado federal pelo Paraná em outubro, Enio Verri precisou renunciar ao mandato para assumir o comando de Itaipu. A renúncia foi lida no plenário da Câmara nesta terça-feira (14). Seu substituto na Casa será o ex-deputado estadual Elton Welter (PT).

Em Itaipu, Verri entra no lugar do almirante Anatalicio Risden Junior, que estava no cargo desde fevereiro de 2022 e foi também diretor financeiro executivo da binacional. Durante seu discurso nesta quinta-feira (16), Verri elogiou o almirante, que "conduziu a transição de maneira elegante".

Nascido em Maringá, sua principal base eleitoral, Enio Verri, 61, é economista e professor aposentado do Departamento de Economia da UEM (Universidade Estadual de Maringá). Já foi secretário municipal na prefeitura de Maringá e secretário estadual no governo do Paraná, na gestão de Roberto Requião. Também já exerceu mandatos como deputado estadual e federal.

Esta foi a primeira passagem de Lula pelo Paraná desde o início do seu terceiro mandato. O petista havia visitado o estado em setembro, durante campanha eleitoral à Presidência. Ele fez um comício em Curitiba, ao lado do ex-senador Roberto Requião (PT), então candidato a governador.

Após ser derrotado nas urnas por Ratinho Junior, Requião foi sondado pela presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), para assumir uma cadeira de conselheiro da Itaipu, mas recusou, e disse que estava ofendido com a oferta.

"Uma sinecura dourada não é o objetivo de uma vida inteira de dedicação ao interesse público. O que eu iria fazer, me reunindo de 60 em 60 dias com 12 pessoas?", declarou à coluna Mônica Bergamo, no início de janeiro.

Além de Verri, outro ex-secretário de Requião deve integrar a diretoria da Itaipu. O advogado Luiz Fernando Delazari vai para a Diretoria Jurídica. O também advogado Carlos Carboni deve ficar com a Diretoria de Coordenação.

Carboni é ligado a movimentos de agricultura familiar e é ex-chefe de gabinete de Gleisi Hoffmann quando ministra da Casa Civil. Outros nomes ainda devem ser anunciados para as diretorias da hidrelétrica.

Em seu discurso nesta quinta-feira (16), Lula também fez um aceno ao governador Ratinho Junior, que foi um aliado de Jair Bolsonaro (PL) e sempre reforçou a parceria com a Itaipu para obras de infraestrutura no Paraná. Prefeitos da região também estavam de olho na indicação que o governo Lula faria para o comando da Itaipu, já que a hidrelétrica também tem parcerias com municípios para projetos e pequenas obras.

"Quero dizer que a eleição acabou em outubro. A nossa missão é governar. Não quero saber de que partido é o governador, de que partido é o prefeito, o vereador, o deputado. Se o povo tiver necessidade, nós vamos fazer independente de quem seja o governador. Vamos governar para o povo e respeitar todos os governos", disse Lula.

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