Descrição de chapéu inflação juros

IPCA-15 desacelera alta para 0,57% em abril

Índice fica abaixo das projeções, e acumulado em 12 meses vai a 4,16%, o menor desde outubro de 2020

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Rio de Janeiro

A inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) desacelerou o ritmo de alta para 0,57% em abril.

A taxa é a menor para o mês desde 2020, apontam os dados divulgados nesta quarta-feira (26) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Sob influência da trégua dos preços de alimentos, o resultado também ficou abaixo da mediana das projeções do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam avanço de 0,60%, após a alta de 0,69% registrada em março.

Com o dado de abril, o IPCA-15 desacelerou para 4,16% no acumulado de 12 meses. É o menor patamar desde outubro de 2020 (3,52%). A taxa estava em 5,36% no acumulado até março.

Feira livre vende alimentos em São Paulo - Danilo Verpa - 9.ago.2022/Folhapress

Na visão de economistas, os números reforçam o cenário de desinflação em vigor no país. A perda de ritmo dos preços, contudo, ainda é considerada insuficiente para a confirmação de cortes imediatos na taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75% ao ano.

A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), que é responsável pela definição da Selic, está agendada para a semana que vem, nos dias 2 e 3 de maio.

A economista Luciana Rabelo, do Itaú Unibanco, avalia que os núcleos de inflação, que desconsideram preços mais voláteis, seguem em níveis ainda pressionados. Isso, afirma, joga contra uma redução rápida da Selic. O Itaú só enxerga cortes nas duas últimas reuniões do ano.

"Foi um número [IPCA-15 de abril] bem perto da nossa projeção, ficou um pouco abaixo da estimativa do mercado, mas a desinflação é lenta. Os núcleos ainda estão pressionados", afirma a economista.

Neste início de ano, o nível dos juros virou motivo de uma ofensiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de apoiadores contra a atuação do BC. Lula já defendeu em diferentes ocasiões cortes na Selic e chegou a afirmar que o patamar da taxa é uma "vergonha".

Os juros elevados buscam esfriar a demanda por bens e serviços, freando os preços e ancorando as expectativas de inflação. O efeito colateral esperado é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores.

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, destaca que a inflação dá sinais de perda de ritmo com a trégua de alimentos, cujos preços haviam disparado durante a pandemia.

Mesmo assim, o BC deve aguardar o avanço das discussões sobre o novo arcabouço fiscal antes de reduzir a Selic, projeta o economista. Ele prevê queda na taxa só a partir de setembro.

"O Banco Central já sinalizou que gostaria de ver os números do arcabouço fiscal, o andamento do projeto no Congresso", afirma Vale.

O índice oficial de inflação no Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também divulgado pelo IBGE. Como a variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência, o dado de abril ainda não está fechado. Será conhecido em 12 de maio.

O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. Sua variação é calculada entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência. Neste caso, a coleta dos dados ocorreu de 16 de março a 13 de abril.

Gasolina em alta

Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA-15 tiveram alta de preços neste mês. A maior variação (1,44%) e o principal impacto no índice de abril (0,29 ponto percentual) vieram do segmento de transportes.

A alta desse grupo foi puxada pelo aumento dos preços da gasolina (3,47%). O combustível foi o subitem com o maior impacto individual no IPCA-15 (0,17 ponto percentual). Também houve avanço nos preços do etanol (1,10%) em abril.

O óleo diesel (-2,73%) e o gás veicular (-2,17%), por outro lado, registraram queda. Ainda em transportes, outro destaque veio da alta de 11,96% nas passagens aéreas, após recuo de 5,32% no mês anterior.

Alimentos em baixa

Segundo o IBGE, o IPCA-15 perdeu força na passagem de março para abril devido a fatores como a desaceleração dos grupos alimentação e bebidas (de 0,20% para 0,04%), comunicação (de 0,75% para 0,06%) e habitação (de 0,81% para 0,48%).

Dentro de alimentação e bebidas, o destaque veio da baixa da alimentação no domicílio (-0,15%). Foi o primeiro recuo desde setembro de 2022.

"Esse movimento é influenciado pela desvalorização das commodities e uma relativa apreciação do real frente ao dólar. Além disso, é resultado das boas safras de grãos, do desaquecimento da atividade econômica global e da redução dos efeitos da guerra Rússia-Ucrânia", diz relatório do banco Original.

Em abril, houve quedas nos preços da batata-inglesa (-7,31%), da cebola (-5,64%), do óleo de soja (-4,75%) e das carnes (-1,34%), conforme o IPCA-15. Do lado das altas, o destaque foi o ovo de galinha, cujos preços subiram 4,36%.

O grupo saúde e cuidados pessoais (1,04%) teve o segundo maior impacto sobre o IPCA-15 deste mês (0,14 ponto percentual), atrás apenas de transportes (0,29 ponto percentual).

No segmento de saúde, a maior contribuição (0,06 ponto percentual) foi provocada pelos produtos farmacêuticos (1,86%). O IBGE associou a carestia ao reajuste autorizado de até 5,60% nos medicamentos, a partir de 31 de março.

Cenário para 2023

O centro da meta de inflação perseguida pelo BC para o IPCA é de 3,25% em 2023. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

Apesar de o IPCA-15 acumulado em 12 meses (4,16%) ter ficado abaixo do teto para o IPCA (4,75%), analistas esperam que a inflação volte a ganhar força no segundo semestre do ano.

Parte dessa projeção está associada ao efeito da base de comparação. Na segunda metade de 2022, os preços de produtos como os combustíveis foram reduzidos de maneira artificial pelo corte de tributos anunciado pelo governo Jair Bolsonaro (PL) às vésperas das eleições.

"Nossa previsão é que a inflação comece a acelerar no segundo semestre do ano, quando os efeitos da desoneração de impostos sobre combustíveis saírem totalmente da base de cálculo", aponta relatório assinado pela economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

Segundo Moreno, a inflação de serviços segue persistente, dificultando uma redução da Selic.

Na mediana, a alta prevista pelo mercado financeiro para o IPCA é de 6,04% no acumulado de 2023, de acordo com o boletim Focus publicado pelo BC na segunda-feira (24). Se o resultado for confirmado, este será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta.

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