O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta terça-feira (2) que o chefe do Executivo argentino, Alberto Fernández, volta para o seu país "sem dinheiro", após uma longa reunião no Palácio da Alvorada nesta noite para discutir a crise econômica no vizinho.
O mandatário, contudo, afirmou que articula uma mudança nas regras do banco dos Brics, o NDB (Novo Banco de Desenvolvimento), para viabilizar ajuda à Argentina. A ideia seria criar uma espécie de fundo garantidor, segundo o chefe do Executivo.
Além disso, mais uma vez, fez duras críticas ao FMI (Fundo Monetário Internacional). "Eu pretendo conversar, através do meu ministro da Fazenda [Haddad], com o FMI para tirar a faca do pescoço da Argentina. O FMI sabe como a Argentina se endividou, sabe para quem emprestou o dinheiro, portanto, não pode ficar pressionando um país que só quer crescer, gerar emprego e melhorar a vida do povo", disse.
O NDB é um banco que financia basicamente projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável nos países membros.
Lula disse que ligou para a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que comanda o NDB, para saber como poderia viabilizar uma ajuda aos argentinos por meio do banco.
A jornalistas, após as quase quatro horas de reunião, ele disse que seria preciso uma mudança nas regras do banco, porque não é possível fazer negociações com países que não integram os Brics.
A próxima reunião dos governadores do banco —os ministros da Fazenda dos países membros—, está prevista para o dia 29. Lula determinou que Fernando Haddad viaje para Xangai com essa missão.
"Você [Haddad] pode ir lá e explicar a situação da Argentina, sensibilizar o coração de homens e mulheres. Nem queremos que emprestem dinheiro para a Argentina, o que nós queremos é que eles nos deem garantias, porque aí facilita muito a relação do Brasil com a Argentina", disse o presidente.
"É preciso mudar um artigo que os governadores dos Brics para que se permita criar um fundo para ajudar os países", afirmou.
O encontro foi antecipado pelo Painel. A expectativa do governo brasileiro era de avançar as negociações de medidas econômicas para ampliar as parcerias comerciais entre as duas nações, o que não ocorreu.
"Posso dizer para vocês que o Alberto Fernández é companheiro que chegou aqui muito apreensivo e acho que vai voltar mais tranquilo. É verdade, sem dinheiro, mas com muita disposição política", disse o chefe do Executivo.
Lula fez incisivos gestos políticos ao mandatário e disse que, apesar de não ter anúncios nesta terça, Haddad e a equipe econômica argentina se reunirão na próxima semana para discutir alternativas.
Fernández chegou por volta das 17h40 para a reunião, que durou quase quatro horas. Depois os mandatários participariam de um jantar.
O mandatário argentino, por sua vez, agradeceu o encontro, a que classificou como de "alto nível" e disse também comemorar a "posição explícita que o Brasil tomou em relação à Argentina no FMI".
"Valorizo o apoio explícito que o presidente Lula nos deu hoje como país e como governo. Tomaram a decisão de ajudar as empresas brasileiras a seguir exportando à Argentina", afirmou ainda o argentino.
Uma das ações que vinha sendo debatida entre as equipes econômicas de cada país era a criação de estímulos a empresas brasileiras que exportam para a Argentina.
Acompanharam a reunião e o jantar, da parte do Brasil, os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Geraldo Alckmin (Indústria, Comércio e Serviços), o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Já a comitiva argentina contou com a presença, além do chefe do Executivo, do ministro da Economia, Sergio Massa, do chanceler Santiago Cafiero, do secretário da presidência, Julio Vitobello, a secretária de Comunicação, Gabriela Cerruti, a ministra do Desenvolvimento Social, Tolosa Paz, e o chefe de gabinete presidencial Agustin Rossi.
A primeira-dama argentina Fabiola Yañez também acompanhou o encontro no Palácio da Alvorada.
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