Clubes do livro ganham força em meio a crise no mercado editorial

Empresas investem em nichos e na oferta de experiências sensoriais para angariar assinantes

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Alexandre Fonseca, na sede do clube de assinatura de livros Panaceia, em SP 
Alexandre Fonseca, na sede do clube de assinatura de livros Panaceia, em SP  - Marlene Bergamo/Folhapress
Valdir Ribeiro Jr.
São Paulo

Enquanto as livrarias vivem um período de crise, com queda de 20% em volume de exemplares vendidos e faturamentos desde 2014, os clubes de livro por assinatura vêm ganhando força.

“É um modelo de negócios que veio para ficar”, diz Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro. Ainda não há números oficiais sobre esses clubes, mas ele estima existirem cerca de 25 no país. “Sendo que alguns têm mais de 40 mil assinantes, o que são números excelentes.”

Essas empresas, que fazem uma curadoria de livros e enviam para as casas dos assinantes, começaram a aparecer em 2014, nos piores anos da crise do mercado editorial, lembra Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros.

“A maior queda na venda de livros foi entre 2014 e 2016, um período de recessão econômica com alta inflação”, diz.

Enquanto as livrarias enfrentavam uma queda nas vendas, três amigos que estudavam administração na Universidade Federal do Rio Grande do Sul decidiram criar, em 2014, a TAG Experiências Literárias.

Com vontade de abrir o próprio negócio, Arthur Dambros, Tomás Susin e Gustavo Lembert notaram o crescimento de serviços por assinatura no Brasil. Havia opções de vinho, cerveja, maquiagem, mas não de livro. Foi dentro da biblioteca da universidade que eles decidiram, então, suprir essa lacuna.

No primeiro mês, conseguiram 65 associados. As caixas eram embaladas pelos três, que juntos fizeram um investimento de cerca de R$ 15 mil para colocar um site no ar e iniciar as operações. “Ao longo dos primeiros meses, também tivemos que investir outros R$ 80 mil para sustentar o fluxo de caixa”, diz Arthur.

A partir da esq., Tomás Susin, Arthur Dambros e Gustavo Lembert, sócios da TAG Experiências Literárias
A partir da esq., Tomás Susin, Arthur Dambros e Gustavo Lembert, sócios da TAG Experiências Literárias - Divulgação

Hoje, a TAG conta com 40 mil associados em sua base, tem capacidade de entregar livros em mais de 1.500 cidades no país e deve fechar o ano de 2018 com faturamento acima de R$ 26 milhões.

Por a partir de R$ 59,90 mensais num plano de assinaturas anual, a empresa entrega em casa um livro em capa dura, um marcador de páginas, um box colecionável, uma revista sobre o autor e a obra e um brinde.

Manter os níveis de atendimento e de entrega foi um desafio no início, diz Dambros. “Em 2016, no primeiro estágio de crescimento mais forte do clube, tivemos alguns problemas de frete, especialmente com os Correios. Em 2017, criamos nossa própria estrutura, com um pavilhão que foi alugado e uma equipe contratada para suportar novos processos logísticos.”

Neste ano, a TAG fechou parceria com um operador logístico em São Paulo, onde tem um centro de distribuição, e passou a fazer parte da montagem dos kits. “Com essas mudanças, conseguimos, neste mês de agosto, entregar 99% dos kits no prazo. Um recorde histórico”, afirma Dambros.

Embora seja um mercado de nichos, voltado a leitores que aceitam pagar um pouco mais por uma “experiência literária”, o setor de clube de livros por assinatura ainda tem espaço para novos negócios.

Isso porque, como diz Alexandre Fonseca, criador do clube Panaceia, existem nichos específicos dentro do mercado editorial. “Há, hoje, bons clubes de livros infantis, de literatura, de livros de não-ficção, mas ainda temos espaço para muitos outros negócios, como quadrinhos, terror, policiais. A lista é imensa.”

Criada há oito meses, a Panaceia buscou formar uma rede de curadores respeitados em suas áreas de atuação, que tivessem como agregar valor aos livros sugeridos. 

Wagner Moura, Judith Butler, Laerte Coutinho, Maria Rita Kehl, Drauzio Varella e Celso Amorim foram alguns dos nomes que selecionaram obras para compor o kit da Panaceia, que custa R$ 69,90.

Em seu primeiro mês, a empresa angariou cem assinantes. Hoje, esse número subiu para mil. “Tivemos um crescimento rápido, um pouco acima do planejado, mas conseguimos acompanhar a curva de aprendizado. Lá pelo quarto mês do negócio, vimos que não dava mais para montar as caixas nós mesmos, então buscamos um depósito adequado e contratamos uma empresa que pudesse nos dar suporte”, explica Fonseca.

Ele não revela o valor investido, mas diz que em seis meses deve ter o retorno do capital. A meta é alcançar 1.200 assinantes até o próximo ano.

Em vez de mirar a temática dos livros ou procurar curadores de renome, as irmãs Priscilla e Mayra Sigwalt optaram por se preocupar com a “experiência de leitura” de seus assinantes.

A caixa que a empresa Turista Literário  envia aos assinantes tem formato de mala  de viagem
A caixa que a empresa Turista Literário envia aos assinantes tem formato de mala de viagem - Divulgação

Juntas, as duas criaram, em junho de 2016, o clube Turista Literário. Voltado para jovens adultos, os kits buscam intensificar a leitura com elementos sensoriais que conversam com as histórias do livro escolhido para o mês.

Cada kit é apresentado como se fosse uma mala de viagem, e o assinante só descobre o destino quando o recebe em casa. Dentro da caixa, são colocados, por exemplo, elementos aromáticos, como incensos e velas, caso a história se passe em um local com um cheiro específico.

“Uma vez, a história do livro falava de um bolo de banana, então nós colocamos um bolinho em cada caixa para o leitor comer. Também montamos uma lista de músicas diferente para cada livro, assim o leitor pode construir um ambiente de leitura”, diz Priscilla. 

“No fim, é muito mais do que montar uma caixa de brindes. É pensar em um produto que seja especial para o leitor.”

Hoje, a Turista Literário conta com cerca de 1.500 assinantes. E, como a cada mês são definidos novos produtos artesanais que irão compor a caixa com diferentes aromas e sabores, foi preciso que as irmãs montassem uma rede de fornecedores capaz de atender às demandas do clube. 

“Deu trabalho, mas conseguimos formar uma rede de artesãos capaz de fazer os produtos específicos para as nossas ideias, no volume e no prazo de entrega que precisamos”, afirma Priscilla.

Desde a criação do negócio, as sócias já investiram R$ 40 mil. O retorno do capital aconteceu ainda no fim do primeiro ano de vida da empresa, e hoje a Turista Literário tem faturamento mensal médio de R$ 130 mil.

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