Franquias para recrutamento de estagiários são negócio em expansão

Serviço que conecta estudantes e empregadores tem 18 unidades pelo país e fatura R$ 50 milhões

Dante Ferrasoli
São Paulo

A dificuldade que teve para encontrar um estágio durante suas duas graduações, relações internacionais e direito, fez Poliana Modenesi Ferraz, 34, vislumbrar uma oportunidade.

“Tinha aquele negócio de entregar currículo no envelope em vários lugares, me deslocar. Vi aí uma chance de criar algo”, conta. 

Ela abriu, em 2009, a Super Estágios, empresa que, por meio de uma plataforma própria, une quem oferece a quem procura estágio. 

Eduardo Lourenço Neto, 37, franqueado da Super Estágios em São Paulo 
Eduardo Lourenço Neto, 37, franqueado da Super Estágios em São Paulo  - Bruno Santos/Folhapress

Funciona assim: o estudante se cadastra no sistema e passa a receber notificações de vagas em empresas parceiras da Super Estágios que se enquadrem em seu perfil.

Processo de seleção —inclusive com testes, caso a empresa solicite—, contratação, acompanhamento e certificação do estágio são feitos online, e a companhia cuida também dos trâmites burocráticos do processo.

O candidato só precisa se deslocar para uma entrevista ao vivo se for pré-selecionado —após o escrutínio, a Super Estágios escolhe de três a seis estudantes por vaga e passa os nomes à contratante. 

A ideia deu certo, a empresa cresceu e, em 2016, passou a trabalhar com o sistema de franquias. Hoje há 18 unidades em operação no país, e mais de 2 milhões de estudantes cadastrados na plataforma.

O faturamento da Super Estágios em 2017 foi de R$ 50 milhões, e a empresa almeja crescer mais 30% neste ano, “num cenário pessimista”.

“O negócio funciona na crise porque, por mais que haja demissões, a produção não pode parar. O estagiário custa menos e, com um bom acompanhamento, pode produzir tão bem quanto os outros funcionários”, diz a fundadora.

Um dos franqueados da empresa é Eduardo Lourenço Neto, 37, que abriu sua unidade, em São Paulo, em fevereiro.

Neto também diz crer que o modelo de negócios pode funcionar mesmo durante momentos turbulentos.
“Acho que o segmento não desacelera mesmo na crise, porque as empresas migram para o estágio para reduzir custos. Quando há crescimento, também buscam estagiários para iniciá-los e torná-los bons profissionais”, diz.

Formado em economia e com experiência na área de recursos humanos, Neto pôs cerca de R$ 150 mil no negócio e pretende ter o retorno do investimento em dois anos. “A franquia vem crescendo aos pouquinhos, conforme a gente apresenta o serviço às empresas e às universidades”, diz. 

As franquias de gestão de estágio, além de serem um nicho, são muito escassas. Por isso, a ABF (Associação Brasileira de Franchising) não tem dados de quanto esse mercado movimenta, mas está atenta a um crescimento da área. 

“Há selecionadoras tradicionais na área de estágios, mas há companhias percebendo que ter uma franquia como parceira pode ajudar a atingir outros mercados sem ter de abrir novas operações”, diz Vanessa Bretas, gerente de inteligência de mercado da ABF. 

Essa possibilidade é uma das razões que Aristides Ianelli levou em consideração quando tornou sua empresa, a Estagilize, uma franqueadora, em 2016.

“O motivo de optar por franchising foi para ter braços onde não podia alcançar”, conta ele, que é de São José do Rio Preto e fundou a companhia de estágios em 2002.

A empresa presta serviço semelhante ao da Super Estágios, mas com uma diferença: entrevista os candidatos antes de passar os selecionados à parceira.

“Assim podemos descobrir outras coisas. Por exemplo: às vezes o aluno tem o perfil da vaga, passa nos testes, mas, por religião, não pode trabalhar aos sábados”, diz.

A Estagilize chegou a ter seis franqueados, mas está se reestruturando e passará a trabalhar com o modelo de licenciamento, no qual as unidades têm maior liberdade na gestão do negócio, mas recebem menos ajuda e orientações da matriz. “Mas nós continuaremos dando todo o suporte”, afirma Ianelli. 

Paulo Ancona, sócio-diretor da consultoria empresarial Ancona, avalia haver espaço para que empresas similares surjam. 

“Num ambiente cada vez mais competitivo, [o estágio] é um excelente caminho para as empresas. O custo é relativamente baixo e você pode formar a pessoa”, afirma.

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