Nova resolução amplia alcance da psicoterapia online

Plataformas virtuais conectam psicólogos a pacientes via consultas por vídeo

Milene Rosenthal, cofundadora da TelaVita, e os sócios, Andy Bookas (centro) e Lucas Arthur de Souza na empresa, em SP
Milene Rosenthal, cofundadora da TelaVita, e os sócios, Andy Bookas (centro) e Lucas Arthur de Souza na empresa, em SP - Zanone Fraissat/Folhapress
Nana Tucci
São Paulo

 Uma nova resolução do Conselho Federal de Psicologia que passa a valer neste mês deve acelerar o crescimento de plataformas de terapia a distância, que conectam psicólogos a pacientes.

A psicoterapia online já era regulamentada no país, mas, antes, o tratamento virtual poderia durar no máximo 20 sessões. Agora, o profissional tem permissão para seguir com o atendimento a distância por tempo indeterminado.

Essas plataformas virtuais começaram a aparecer no Brasil há cerca de três anos e atraíram profissionais e pacientes em busca de comodidade e preço baixo —em geral, as consultas virtuais são mais baratas do que as presenciais. 

O serviço ajuda o paciente a encontrar um psicólogo especializado e, depois, dá acesso a uma sala de atendimento virtual, protegida por senha. As consultas, realizadas por videoconferência, duram cerca de 50 minutos.

Para fazer parte do plantel da Vittude, plataforma lançada em 2015, os psicólogos pagam uma mensalidade. Em troca, podem usar um consultório online, que inclui benefícios como prontuário eletrônico e sistema de pagamento. 

“Os profissionais podem usá-lo como um software, não só para pacientes da Vittude, mas para todos os pacientes de sua carteira”, explica a presidente da empresa, Tatiana Pimenta.

Ela, que é engenheira civil, teve a ideia de criar o serviço quando achou falha a busca de psicólogos do catálogo do seu plano de saúde. Tatiana também sentiu na pele a dificuldade que moradores de cidades afastadas de grandes centros têm de encontrar profissionais da área da saúde.

“Trabalhamos com uma estimativa, calculada com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Saúde, de que cerca de 50% dos municípios brasileiros não possuem psicólogos clínicos”, diz Tatiana.

Hoje, a Vittude tem em torno de 2.200 psicólogos cadastrados, que atendem mais de 5.000 pacientes em todo o Brasil e em outros 30 países. São mais de mil consultas por mês, com valor médio de R$ 70. 

Neste ano, o crescimento da empresa foi de 650%. O faturamento tem crescido num ritmo de 35% ao mês. 
“Geralmente as pessoas ficam na plataforma por pelo menos seis meses, e cerca de 90% das pessoas que chegam a Vittude não tinham feito terapia antes”, diz Tatiana. 

Os números são parecidos com os da empresa Psicologia Viva, que tem 2.500 psicólogos cadastrados e registrou um aumento de 650% no número de visitantes neste ano —os acessos já chegam a quase 500 mil por mês. 

A empresa foi contratada pela Porto Seguro para oferecer atendimentos online via plano de saúde. O valor da sessão depende do convênio de cada associado, mas custa em média R$ 50.

“Uma vantagem é que as consultas podem ser feitas até no turno da noite e em fins de semana ou feriados”, afirma Fabiano Carrijo, presidente da Psicologia Viva Brasil.

A terapia a distância também atrai quem tem vergonha de falar de si mesmo, opina Daniela Haidar, uma das criadoras da OrienteMe, que faz parte da eretz.bio, incubadora do Hospital Albert Einstein.

Para Milene Rosenthal, fundadora da TelaVita, o boom nesses negócios pode ser explicado, em parte, pela recessão econômica. 

“O número de afastamentos nas empresas por transtornos mentais triplicou de 2015 para 2017. Há mais gente desempregada, e você tem uma pressão maior para produzir mais em menos tempo”, diz. Criada em 2016, sua empresa cresce 30% ao mês.

Todos os profissionais cadastrados na TelaVita passam por análise curricular, participam de uma conferência online e recebem um treinamento para usar a plataforma. 

Além de atender pacientes particulares, as empresas têm feito parcerias com companhias que querem oferecer terapia aos funcionários. Em julho deste ano, a Resultados Digitais, que tem 700 empregados, criou um projeto chamado Consultoria de Bem Estar.

Inicialmente, ofereceu à equipe a oportunidade de fazer atendimento psicológico presencial. No segundo semestre deste ano, apresentou aos 22 primeiros funcionários que procuraram o serviço a chance de testar a plataforma Vittude —21 dos 22 optaram pelas consultas online em vez das presenciais. A ideia é que, em 2019, mais gente possa aderir ao serviço.

Outro nicho é o de pessoas que vão morar no exterior. “Os expatriados têm uma demanda de atendimento latente. Em geral, são dilemas relacionados à adaptação cultural, à criação dos filhos, à distância da família e à ausência de sol nos países mais frios”, diz Tatiana, da Vittude.

Para esse público, terapia online é interessante, diz a psicóloga Ana Paula Dias, que atende há 14 anos em consultório em São Paulo e desde janeiro deste ano está na Vittude. Para ela, as plataformas não devem substituir o atendimento presencial se o paciente está próximo ao psicólogo.

Ela ressalta que crianças, pessoas com tendências suicidas ou que sofrem de estresse pós-traumático não devem ser atendidos a distância.

“Caso a gente perceba que um paciente está com ideias suicidas, por exemplo, ele deve ser encaminhado para atendimento presencial”, diz.

Na resolução publicada neste mês, o Conselho Federal de Psicologia reafirmou que pessoas em situação de emergência devem ser atendidas presencialmente.

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