Promessas de bem-estar extremo e controle da saúde vão vender muito

Produtos 'malucos' que tratam o corpo como cobaia são tendência para 2019, aponta consultoria

equipamento para teste de DNA
Equipamento para teste caseiro de DNA - Divulgação
Fernanda Reis
São Paulo

Num futuro não muito distante, cada vez mais pessoas irão aderir a produtos e serviços mirabolantes em busca do corpo perfeito. Seremos como ratos de laboratório, dispostos a experimentar qualquer coisa que prometa uma vida melhor. 

É o que projeta o relatório de tendências para 2019 da consultoria Trendwatching, cuja apresentação será em São Paulo, no dia 4 de dezembro. A moda da vez é o que chamam de “bem-estar extremo”.

De acordo com Lisa Feierstein, estrategista de tendências da empresa, a gênese desse fenômeno é antiga: começamos registrando nossos passos ou padrões de sono em aplicativos, monitorando de modo obsessivo hábitos e comportamentos. “Agora isso se estendeu para outras áreas do bem-estar.” 

“As pessoas estão tratando seus corpos como experimentos científicos”, diz ela. O aplicativo Timeshifter, por exemplo, desenvolveu em parceria com a Nasa um algoritmo que sugere um método de diminuir o jetlag com base no gênero, na idade e na rotina de cada usuário.

A partir desses dados, o programa indica a que horas você deve dormir, quando deve tomar cafeína e quando deve evitar luzes fortes para se recuperar mais rapidamente da mudança de fuso horário.

A tendência é que esse controle maior sobre o que estamos consumindo cresça. Bebidas engarrafadas que deixem você escolher o nível de doçura ou com doses baixíssimas de cafeína são algumas das novidades criadas por marcas.

Produtos personalizados para cada organismo também estão em alta. Com a popularização dos testes de DNA —empresas americanas como a 23andMe permitem que pessoas obtenham relatórios genéticos de suas origens e de sua saúde—, cresceu também a individualização de serviços.

Já existem também cigarros eletrônicos de maconha em que se controla a quantidade de cannabis consumida a cada tragada. “Você experimenta a quantidade perfeita para o seu corpo”, conta Lisa. “Esperamos ideias malucas”.

A estrategista cita uma empresa nova-iorquina que criou um negócio no qual clientes recebem transfusões de sangue de pessoas mais novas, na busca por juventude.

Enquanto alguns negócios se voltam para o corpo, outros relaxam a mente: outra tendência para o próximo ano é borrar a fronteira entre ficção e fantasia. “Uma das necessidades mais centrais do ser humano é o escapismo, e agora as pessoas estão mais ansiosas do que nunca”, diz Lisa.

No próximo ano, telas de TV e computador vão demandar mais interação com o público. Vai haver episódios da série “Black Mirror”, da Netflix, em que o espectador controla o enredo, exemplifica.

Parte da moda é o jogo de sucesso Fortnite, no qual as pessoas gastam dinheiro real para comprar itens dentro do game. Para incentivar a interação, a produtora do jogo promove ações fora da tela, espalhando elementos tradicionais de seu cenário em locações pelo mundo.

A realidade aumentada também deixa de ser usada só para entretenimento e migra para o consumo —como parte da tendência “pontos de venda mágicos”. Empresas como a Ikea, que produz móveis, começam a utilizar a tecnologia para que o cliente visualize o produto dentro de sua casa.

“Isso economiza tempo e trabalho. Vamos ver a tecnologia usada de forma a aumentar a conveniência, para te dar informação instantânea, não só porque é divertida”, afirma Lisa. Há uma grande gama de usos para a realidade aumentada, a depender de seu produto ou serviço, diz.

Consumidores querem nas lojas físicas a experiência personalizada que têm na internet, motivando a criação de espaços inteligentes. O metrô de São Paulo, com seus banners que interpretavam as expressões faciais dos passageiros para identificar reações a publicidades, é um dos exemplos levantados pela Trendwatching —em setembro, a Justiça determinou a interrupção do uso das câmeras.

Há também empresas utilizando reconhecimento facial para identificar os clientes que percorrem os corredores das lojas, sugerindo produtos a eles. Lisa ressalta, porém, que marcas devem levar em consideração a preocupação de consumidores com a privacidade, citando o vazamento de dados do Facebook.

Cresce também a procura pelos produtos mais sustentáveis, feitos para públicos diversos. E mais do que isso: os consumidores querem que empresas tomem partido em questões sociais —é a tendência de consumismo positivo.

“Empresas devem marcar uma posição, não como um protesto ou uma ação pontual”, afirma Lisa.
Numa tendência de “salvar o mundo” —que busca melhorar a vida das pessoas e o ambiente—, empresas se unem a concorrentes para desenvolver soluções que mudem sua indústria. Algumas companhias, diz Lisa, têm desenvolvido novos materiais recicláveis, como solas de sapato feitas de cana-de-açúcar, e deixam qualquer marca usá-los, sem registrar patentes.

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