Empresa doméstica decola quando adota rotina corporativa

Empreendedor precisa fazer a separação entre despesas do negócio e pessoais para crescer

Valdir Ribeiro Jr.
São Paulo

Os benefícios de abrir uma empresa dentro de casa são o investimento inicial menor e a possibilidade de horários mais flexíveis.

Mas, para que o negócio decole e não acabe nos dois primeiros anos de vida, o que acontece em 20% dos casos, é preciso planejamento, diz Iroá Arantes, gerente regional do Sebrae-SP.

O primeiro passo é definir se a casa será transformada em ponto comercial ou se o negócio irá operar totalmente pela internet, diz a consultora. Para diminuir as chances de erro é indicado que o empreendedor desenvolva uma atividade com a qual já tenha experiência anterior.

“Trabalhar com algo conhecido aumenta as chances de sucesso, mas, se a ideia for investir em uma área totalmente nova, é indispensável estudar muito o setor para entender o público-alvo e as ferramentas necessárias para desenvolver o negócio e atingir essas pessoas”, explica Iroá.

Empreender de casa é uma boa oportunidade para quem trabalha com serviços que possam ser feitos a distância, pela internet —como designers, programadores e editores de vídeo. Nesses casos é possível começar de casa e sair quando o negócio crescer.

Júlio Beraldo, arquiteto dono da INÁ Arquitetura, hoje tem um escritório na região dos Jardins, em São Paulo, mas começou oferecendo serviços de casa com seu sócio, sete anos atrás.

Ele sempre quis ter um escritório, por achar que esse espaço dá mais credibilidade junto aos clientes, mas, como não tinha dinheiro, sua casa foi a melhor opção.

“Decidi que iria agir como se estivesse em uma empresa. Mesmo que seja só um computador em casa, é preciso estar disponível no horário comercial e ter um email corporativo”, diz.

Quando o faturamento da empresa chegou a R$ 10 mil mensais, ele e o sócio decidiram que era hora de alugar uma sala. “Chega uma hora que o negócio te empurra para fora de casa. Eu falava que meu escritório era em casa, mas depois descobri que estava, na verdade, morando no meu escritório.”

Hoje, instalado num sobrado, expandiu a empresa e conta com dez funcionários e um faturamento anual médio de R$ 1 milhão, diz.

Patricia Galves, estilista da marca Pati Galves, em sua casa em Pirituba
Patricia Galves, estilista da marca Pati Galves, em sua casa em Pirituba - Rafael Hupsel/Folhapress

Também é possível utilizar a sala de casa para atividades comerciais. Segundo a gerente do Sebrae, os negócios mais comuns nesse caso são serviços de beleza, revenda de cosméticos e produção de doces.
Renata Bezerra há seis anos prepara em casa doces de sua empresa Re Chocolatier, que vende de porta em porta no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, e pela internet.

“Eu fazia faculdade de gestão financeira e comecei a fazer pães de mel para ajudar a pagar a mensalidade. As vendas foram crescendo. Decidi trancar a faculdade e focar nos doces. Comprei alguns materiais por R$ 250 e, hoje, vendo em torno de 200 pães de mel por semana”, diz.

Uma de suas dificuldades, comum a quem empreende de casa, é organizar o tempo dedicado à empresa e à vida pessoal. “Há dias que o forno não para de assar doces, e eu tenho que buscar meu filho na escola, por exemplo”, diz.

Independentemente do tipo de negócio, é essencial definir um horário de trabalho, que pode ser flexível, e um espaço organizado para realização da atividade.

O período de trabalho pode ser intercalado, mas é preciso determinar um tempo de dedicação plena. “É importante delimitar isso até para os clientes saberem em qual hora podem entrar em contato. E ter um espaço organizado ajuda nesse processo”, diz Iroá.

É preciso também separar o dinheiro pessoal do da empresa. “Só que isso não é simples. O cálculo para entender o custo da mão de obra, da matéria-prima e para encontrar o lucro é complicado. É preciso dedicar um tempo para analisar todo o processo do seu produto para encontrar esses valores”, diz Patricia Galves, que cuida da marca de biquínis e roupas íntimas Pati Galves de sua casa desde 2015.

Júlio Beraldo, da INÁ Arquitetura, procurou separar as contas desde o início, já pensando na expansão de sua marca. “Comecei a somar algumas contas, como telefone, internet, água e café, para serem pagas com o dinheiro da empresa. Dessa forma, fomos construindo uma despesa fixa que já ficaria como custo do escritório no futuro, assim teríamos menos surpresas na hora de tirar o negócio de dentro de casa”, diz.

É a atitude correta, segundo a gerente do Sebrae. “É preciso ter, desde o início, uma forma de registrar todas as entradas e saídas de dinheiro. Todos os investimentos, compras de insumos e vendas precisam ser devidamente anotados”, diz Iroá. Uma sugestão é manter duas contas bancárias distintas, uma para a vida pessoal e outra para a empresa.

Além disso, segundo Iroá, o empreendedor precisa entender que, no início, seu negócio dificilmente terá lucro. É preciso acompanhar com atenção as finanças para tentar prever em quanto tempo será atingido o ponto de equilíbrio, que é quando os gastos e as despesas se igualam.

A partir daí, o empreendedor terá como projetar quando terá um rendimento que compensará o dinheiro investido, ou então poderá perceber que a empresa não está com bons resultados e que talvez não seja uma boa ideia continuar o negócio.

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