Crise de grandes redes abre espaço para pequenas livrarias

Venda de títulos cresce, e negócios que oferecem atendimento personalizado vivem bom momento

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Homem atrás de vidro quadriculado
O livreiro Manuel Teixeira Neto na Free Book, no bairro de Cerqueira César, em São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress
Valdir Ribeiro Jr.
São Paulo

Responsáveis por 40% do faturamento das principais editoras do país, as redes de livraria Saraiva e Cultura entraram em recuperação judicial e anunciaram o fechamento de dezenas de lojas em 2018. Não foram as únicas: segundo a Associação Nacional de Livrarias, desde 2014 o número de unidades no Brasil caiu de 3.095 para 2.500. 

Na contramão desse cenário, porém, livreiros de porte menor veem oportunidades de crescimento e relatam melhorias em seus negócios. Se, por um lado, livrarias fecharam nos últimos anos, por outro, as vendas de livros têm crescido nos últimos meses.

Segundo o último levantamento do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), entre janeiro e outubro de 2018, em comparação com o mesmo período de 2017, houve um crescimento de 3,6% no volume de livros vendidos e um aumento de 5,37% no faturamento do setor.

Quando tudo ia bem para as grandes redes, livrarias menores sofreram, diz Bernardo Grubanov, presidente da Associação Nacional de Livrarias. “Agora, elas estão sendo reivindicadas tanto pela especialização e pela curadoria, quanto pelo atendimento mais pessoal.”

Localizada na Bela Vista, no centro de São Paulo, a Livraria Simples nasceu em 2016 como uma loja especializada em “livros impossíveis”. Criada por três amigos, oferece aos clientes o serviço de localização de livros raros e esgotados.

Adalberto Ribeiro, um dos responsáveis pelo negócio, trabalha no ramo há mais de 20 anos. Para abrir a Simples, conta, buscaram economizar o máximo possível. “O primeiro acervo era composto por nossos próprios livros e as vendas eram feitas na minha casa. Então não tivemos custos no início.”

Ele entrou com 700 livros, e um de seus sócios, com 300. Começaram vendendo para conhecidos e, quando o negócio cresceu, alugaram um ponto —hoje seu maior gasto.

Para Ribeiro, a crise das redes abre espaço para as lojas menores. No último ano, as vendas da Simples cresceram: em dezembro de 2017, foram 442 livros, contra 1.987 no mesmo mês no ano seguinte, dobrando o faturamento.

Entrar no ramo, porém, tem suas dificuldades. “O mercado editorial é difícil de gerenciar. Dá trabalho controlar estoque, negociar com editoras, calcular o capital de giro mensalmente. Há espaço para novos negócios, mas é preciso ter eficiência”, diz.

Nesse mercado, não há retorno rápido, afirma Grubanov. “O retorno financeiro leva de três a cinco anos para começar, então é preciso estar preparado”, alerta. Nos últimos anos, o preço dos livros não acompanhou a inflação e o crescimento nos aluguéis, afirma ele.

De olho no crescimento, uma saída para empreendedores nessa área é buscar parcerias com compradores da região. “Se a livraria conseguir atender uma escola particular, por exemplo, e entrar na lista de material pedagógico, já é possível garantir um belo resultado”, diz.

Encontrar um nicho também é um modo de se diferenciar. É o caso da livraria Free Book, que nasceu em 1976 importando livros censurados na época da ditadura —por isso o nome, que significa “livro livre”. Com o tempo, tornou-se uma loja especializada em livros importados de design, fotografia, moda e arquitetura.

O atendimento personalizado é outro diferencial da loja, na opinião de seu dono, Manuel Teixeira Neto. “Durante muito tempo nós operamos com as portas fechadas, como se fosse um clube. Atendemos fotógrafos, diretores de agências, jornalistas, universitários, sempre com atenção na curadoria”, conta.

“Mas é importante também estar aberto a mudanças. Hoje, nossas portas ficam abertas e eu tenho até uma pequena seleção de livros infantis. Até porque, embora não seja meu foco, quando a oitava criança veio me perguntar se tinha livro infantil na loja, eu vi que precisava adicionar ao acervo”, afirma.

Mais do que servir um bom café, Teixeira diz que é importante surpreender o cliente. 

“Tenho expresso grátis na loja e um balcãozinho para o cliente se apoiar, mas o mais importante, para mim, é quando eu consigo indicar um bom livro que o cliente vai gostar”, diz. “Essa é a essência da livraria. O livreiro vende cultura, saber, conhecimento, sonhos. É por isso que eu digo: essa é a forma mais saudável de se ganhar dinheiro.”

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