Sebos se dividem entre comércio virtual e de bairro para sobreviver

Lojas de livros usados crescem por influência da crise econômica

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Loja com prateleiras cheias de livros
Interior do sebo Avalovara, localizado em Pinheiros (zona oeste de São Paulo) - Divulgação
 
 
São Paulo

A maioria das pessoas (76%) diz acreditar que é mais vantajoso comprar um livro usado do que um novo, segundo pesquisa realizada nas capitais brasileiras pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).

Ainda de acordo com o estudo, de setembro de 2017 ao mesmo mês no ano passado, os livros lideraram a lista de objetos usados mais comprados pelos entrevistados.

Nesse cenário, influenciado pela crise econômica, os sebos têm crescido. De acordo com o site Estante Virtual, que reúne o acervo de mais de 2.600 dessas livrarias, no último trimestre do ano suas vendas aumentaram 15%, na comparação com os mesmos meses de 2017 —no total, 3 milhões de livros foram comercializados em 2018.

No sebo Letra Viva, que tem dois pontos no centro do Rio de Janeiro, as vendas cresceram 20% no período, diz o proprietário, Luiz Barreto, 58.

Ele atribui o resultado, em parte, ao fato de investir em anúncios na internet, o que a “grande maioria não prioriza”.

A propaganda vale tanto para vender quanto para conseguir livros, o que é vital para o mercado. “Para atualizar o acervo, é preciso fazer investimentos na captação”, diz.

Sandro Giuliano, 33, dono do sebo Avalovara, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, segue na mesma linha. “O volume de vendas acompanha o de compras”, afirma. Ele também depende da qualidade dos títulos que adquire para a loja, focada em humanidades (filosofia, antropologia etc.). 

Ter um escopo definido pode ajudar o livreiro a construir um acervo qualificado, acrescenta Sandro, formado em geografia. Assim, a escolha pela temática do Avalovara —que empresta o nome do romance do pernambucano Osman Lins, de 1973— foi “orgânica”.

“Valorizo muito o fato de ter uma acervo de qualidade, e de não focar só na rentabilidade.” 

Hoje, donos de sebos precisam se equilibrar entre o que será vendido na loja e o que irá parar nos sites.
Ricardo Lombardi, dono do sebo Desculpe a Poeira, fundado em novembro de 2014, também em Pinheiros, afirma que, se tem em mãos um best-seller com potencial de venda na internet, nem coloca na loja.

Sandro também reserva o “filé” para vendas online. “Acontece principalmente com livros mais voltados para pesquisadores.”

“Quando a internet começou a ser uma fonte importante de receita para o mercado de usados, muita gente voltou atenção e energia para ela e deixou a loja um pouco de lado”, afirma Ricardo.

“Acho que o vento sopra a favor das pequenas livrarias. Não me surpreenderia se mais delas abrissem neste ano. Tenho visto gente se movimentar, percebendo que é um negócio sustentável”, acrescenta.

Isso porque, ainda segundo Ricardo, com a crise enfrentada por grandes redes, as pessoas têm tentado frequentar mais os negócios de bairro.

“Ninguém vai ficar rico, mas dá para sobreviver.”

Esses negócios são a antítese da internet, que, em certa medida, impede descobertas. “Nos sites, a pessoa já procura por um título ou um autor específico”, diz o dono do Desculpe a Poeira (o nome é inspirado na sugestão da escritora Dorothy Parker para seu epitáfio, “excuse my dust”).

A ideia é escolher os livros expostos usando critérios mais editoriais que comerciais —“porque conheço e gosto ou por ser algo diferente, não encontrado em outros lugares”. “Ocupar o espaço com coisas que possam trazer de volta aquela sensação de que você está descobrindo um autor novo”, completa Ricardo.

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