Startups têm investido no público leitor, levando as narrativas do papel para as telas. Essas empresas buscam novas formas de contar histórias, com recursos como realidade aumentada, jogos e gravação de voz.
A relação do administrador João Leal, 34, com os livros é antiga: até os 29 anos, ele trabalhou no mercado editorial. Em 2015, uniu-se ao engenheiro André Stephano, 31, para montar uma startup que levasse sua paixão pelos livros para o computador.
Juntos, investiram cerca de R$ 100 mil para montar a Árvore de Livros, que funciona como uma biblioteca virtual para escolas. Fazem parte de seu catálogo 20 mil livros digitais, edições de jornais e revistas nacionais e internacionais, que podem ser acessados por celulares, tablets ou computadores de alunos.
Por enquanto, a Árvore de Livros só opera com escolas, que fazem planos de assinatura com valores que variam conforme o número de estudantes. Hoje, atende 316 unidades, com expectativa de chegar a 550 até o fim do ano.
Em 2018, a startup faturou cerca de R$ 5 milhões e prevê dobrar o montante neste ano. Está nos planos da empresa levar, nos próximos anos, o serviço ao público final, sem intermediação das escolas.
Instituições de ensino também são alvo da startup StoryMax, que adapta livros clássicos para celular e tablet. Voltadas para o público infantojuvenil, as versões incluem animações, sons e interatividade.
Criada em 2014 pelo casal Samira Almeida, 38, e Fernando Tangi, 39, a empresa tem como uma das principais fontes de receita parcerias institucionais —seus 11 livros estão presentes, por exemplo, em 51 escolas da rede do Sesi.
Desde o início da operação, a empresa atingiu mais de 120 mil leitores em 67 países, com títulos traduzidos para inglês e espanhol.
O caminho para trabalhar com escolas, porém, nem sempre é fácil. Segundo Leo Gmeiner, diretor do comitê de edtechs (startups de educação) da ABStartups (Associação Brasileira de Startups), é preciso ter paciência.
Como diretores recebem muitas propostas e têm pouco tempo para analisá-las, um caminho pode ser testar seu produto com professores e alunos para, depois, propô-lo a instituições de ensino.
Para a Árvore de Livros, a estratégia inicial foi bater de porta em porta em escolas e editoras. “Era a história do ovo ou da galinha: como tínhamos um acervo reduzido, as escolas não queriam contratar o serviço. E como havia poucas escolas, as editoras também não faziam parceria para incluir os livros”, conta Leal.
Os produtos das empresas não se restringem, porém, às escolas. No último semestre, a StoryMax lançou o serviço Inventeca, que também pode ser usado em casa.
A plataforma funciona como uma espécie de livro ilustrado: o aplicativo mostra imagens e o leitor inventa a história, que pode ser gravada e ouvida depois. O serviço é oferecido por assinatura e custa R$ 14,90 ao mês ou R$ 119,90 no plano anual.
Segundo Samira, o mercado editorial não olha muito para o digital. Quem experimentou gastou muito e terceirizou serviços, em vez de entender das tecnologias, diz. Mas, para Leo Gmeiner, há boas oportunidades para startups investirem nesse mercado. “A tendência é que surjam cada vez mais negócios e modelos de leitura.”
Fundada no ano passado, a Vivros aposta nisso e une o mundo do impresso com o digital. Voltada para o público com idades entre oito e 12 anos, irá publicar livros em papel, mas complementará a narrativa com interatividade por aplicativo, que inclui jogos, imagens e um chatbot que responde a perguntas.
“O livro vira uma espécie de jogo, com fases. A diferença é que, para passar de uma para a outra, é preciso ler a história”, afirma o estudante de ciências da computação Rafael Lamarques, 26, fundador da startup, ainda em estágio inicial, ao lado dos colegas Daniela Morais, 21, e Rafael Eiki, 21.
Os sócios planejam lançar o primeiro livro em março e um segundo em maio. Inicialmente, cada exemplar será vendido por R$ 60.
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