Espaço para bar e peças autorais rejuvenescem antiquários

Empresas crescem com locação de objetos para TV e sites de venda online

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Mulher vista através de lâmpada
Caridad Perez, em sua loja Retrô 63, em São Paulo, que combina peças antigas com novas - Karime Xavier/Folhapress
 
 
Tatiana Vaz
São Paulo

Um lustre do século 19, que esteve em encontros de barões do café, pode hoje ser comprado dentro de um bar ou de uma loja de objetos reciclados. Esse misto de passado e presente tem sido adotado por antiquários que buscam atrair um público jovem sem perder a clientela fiel do modelo de negócio.

A maior conscientização ambiental das pessoas e a busca por originalidade na decoração da casa contribuem para o crescimento e a renovação das lojas de antiguidades.

Na opinião de Fernando Laterza, professor de arquitetura e design do Centro Universitário Belas Artes, esses objetos antigos sempre serão valiosos para quem gosta de história e arte. “Eles têm vida, são como testemunhas da época a que pertenceram”, diz.

Investir nessa área, porém, dá trabalho, e não se prospera com amadorismo. Segundo ele, para empreender é preciso ter bom repertório cultural, fazer pesquisas minuciosas sobre o histórico das peças, contar com uma equipe de historiadores, restauradores e vendedores bem treinados.

“Fora o tempo necessário para ganhar a confiança de um mercado onde credibilidade é ouro”, afirma. O empresário precisa levar seu público a entender o valor dos itens que estão à venda, já que são os aspectos histórico e cultural que definem a negociação. 

Ações como incluir etiquetas que contextualizam a história e as características das peças fazem, assim, diferença para o sucesso da empreitada.

A iniciativa é um dos recursos usados para a venda de móveis e objetos na loja ad.studio, aberta por Paloma Danenberg, 34, em agosto num shopping no Rio de Janeiro.

Todas as peças, cujos preços variam de R$ 60 a R$ 40 mil, são expostas com a descrição sobre o uso do produto, a matéria-prima, a época, o país de origem e o valor. “Os sete vendedores da loja conhecem a origem e história de cada produto, e os clientes recebem uma certificação de autenticidade dos objetos”, diz.

A família de Paloma tem um antiquário no centro de São Paulo, hoje na terceira geração. O negócio a inspirou a criar sua própria loja, com uma proposta mais moderna. 

No seu espaço, reúne peças do início do século 20 garimpadas na Europa e restauradas. Algumas são apresentadas com finalidades mais práticas: um secador de ameixas francês hoje é vendido como bandeja e um móvel feito para guardar tijolos apresentado como estante.

“Essa nova proposta nasceu da minha necessidade de colocar minha identificação no negócio”, afirma.

Também herdeira de um antiquário tradicional, Caridad Perez, 63, resolveu dar um novo rumo ao negócio quando assumiu o comércio da família. A loja Retrô 63, comandada por ela e o restaurador Marcos Antonio Coelho Christino, 63, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, mistura peças antigas com outras novas, criadas a partir de materiais industriais.

“Vimos a oportunidade de atrair pessoas que gostam da mistura de decoração retrô com coisas modernas e hoje nosso catálogo é metade de itens novos, metade de antigos”, conta. Agora, ela aposta em vendas por redes sociais e prepara uma loja online, ampliando o acesso aos produtos.

Algumas peças são alugadas para compor cenários de novelas, filmes e propagandas. Mesmo destino dos objetos antigos reunidos no espaço Caos, localizado na Santa Cecília, no centro de São Paulo.

Misto de antiquário, bar e brechó, o lugar reúne fliperamas antigos, móveis e brinquedos populares de décadas passadas, que acabam atraindo tanto os frequentadores do negócio, como produtores e profissionais de cenografia.

“Costumamos alugar as peças por até 20% do valor que elas têm, o que nos gera um bom adicional ”, afirma Carlos Eduardo Corderi Paz, 34, sócio de José Tibiriça Martins, 54, no negócio. 

“Mas grande parte do faturamento vem do bar e não do antiquário”, ressalta.

Enquanto alguns antiquários modernizam seus acervos e diversificam a oferta de serviços, outros se mantêm firmes no modelo tradicional de compra e venda de usados.

Neles, a negociação e a credibilidade ainda são o melhor atributo para atrair clientes, diz Vagner Macedo, 54, dono do antiquário Trekos e Cacarecos, há 35 anos no Bexiga, bairro central de São Paulo.

“Pessoas que compram e entendem de antiguidade têm como um vício o prazer de passear pelas feiras de antiguidade, pesquisar sobre as peças, ver os itens de perto.”

Localizada em frente à feira da praça Dom Orione, o espaço atrai colecionadores, decoradores e donos de revendas de móveis e objetos antigos espalhados pelo país.

“Vendemos para o público da feira aos domingos, mas mais da metade hoje vêm do que chamamos de atacado, que são outros antiquários fora de São Paulo e emissoras de televisão”, conta.

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