Financiamento coletivo é nova arma de empresas para crescer

Modelo ajuda pequenos a conseguir capital sem recorrer a corporações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marina Azaredo
São Paulo

Conforme as startups amadurecem no Brasil, começam a se popularizar os modelos de financiamento alternativo ao tradicional venture capital, em que investidores injetam recursos nas empresas em troca de uma participação no negócio.

Fundadora da Lady Driver, aplicativo de transporte para passageiras e motoristas mulheres, Gabryella Corrêa recebia com frequência mensagens de pessoas interessadas em investir na empresa.

Coincidentemente, ela também precisava de um aporte de recursos para consolidar seu serviço em São Paulo e começar um plano de marketing no Rio de Janeiro.

“Em outubro passado comecei a analisar as possibilidades e concluí que o ‘equity crowdfunding’ seria uma alternativa para levantar recursos, além de permitir que as próprias usuárias investissem”, afirma ela.

Em março, a Lady Driver lançou o seu financiamento coletivo, modalidade regulamentada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em julho de 2017 para captações de até R$ 5 milhões. O objetivo da empresa é conseguir R$ 2,5 milhões em até seis meses —pessoas físicas podem investir a partir de R$ 1.000.

“Em um mês, conseguimos captar R$ 1,2 milhão, e 70% veio de mulheres”, conta Gabryella, que até então só havia recebido aportes de investidores-anjo. O “equity crowdfounding” é realizado por meio de plataformas como a Eqseed, que já realizou 25 rodadas de investimento bem-sucedidas, com valores entre R$ 250 mil e R$ 2,5 milhões.

Embora seja um jeito rápido e relativamente fácil de obter recursos para crescer, a desvantagem do “equity crowdfunding” é a ausência do “smart money” —investidores que não aportam somente capital, mas também informações sobre o modelo de negócios e contatos relevantes no mercado.

“Bons investidores trazem networking e mentoria e abrem portas para o empreendedor que está começando. Às vezes é mais interessante menos dinheiro com uma expertise mais sinérgica com o negócio”, afirma Caio Ramalho, coordenador do FGVnest (Núcleo de Estudos em Startups, Inovação, Venture Capital e Private Equity da FGV).

Gabryella Corrêa, criadora do aplicativo Lady Driver, no centro de São Paulo
Gabryella Corrêa, criadora do aplicativo Lady Driver, no centro de São Paulo - Rafael Roncato/Folhapress

Não há uma modalidade de captação certa para cada modelo de negócio, mas há possibilidades de financiamento que se encaixam em determinados momentos da empresa.

No início, as soluções mais comuns são o “bootstrapping” (recursos próprios) e o FFF (“family, friends and fool”, ou amigos, família e tolos, uma referência a investidores que apostam em negócios ainda incipientes).

Depois vêm as aceleradoras, os investidores-anjo, o “equity crowdfunding” e, para empresas que já estão em um estágio mais avançado, o venture capital. 

Nessa profusão de nomes em inglês ainda há outros modelos que começam a ganhar força, como o “venture debt”, crédito voltado especialmente para startups, e o “corporate venture”, financiamento por meio de empresas maiores.

O estudante de direito da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) André Fukuyama Pinto apostou no “corporate venture” para colocar a sua ideia de startup em pé: uma empresa que usa inteligência artificial para analisar documentos. A Legaut fica “incubada” no escritório Lima Feigelson Advogados.

“Entramos com investimento, mentoria e acesso à nossa rede de contatos. O projeto deu tão certo que acabamos criando a nossa própria aceleradora”, conta Bruno Feigelson, sócio do escritório.

Para aproveitar o crescimento do empreendedorismo no Brasil, surgiram também negócios voltados para o financiamento de pequenas empresas. É o caso da BizCapital, fintech criada em 2016 que dá empréstimos a partir de um processo online —os sócios calculam que mais de cem operações foram para startups.

Uma delas é a Inventsys, empresa gaúcha de softwares aplicados a facilities (gerenciamento predial) e utilities (distribuição de energia, gás, água e telecomunicações). 

“A nossa conta no Banco do Brasil já estava estourada e precisávamos de R$ 50 mil para levar o negócio para o exterior. O banco não liberou o empréstimo, mas com a Biz Capital conseguimos em duas semanas”, lembra o empreendedor Mário Verdi.

Mas, antes de tomar um empréstimo em instituições tradicionais ou fintechs, é preciso estar atento aos juros cobrados. “Nos bancos tradicionais costumam ser muito altos, e ainda é preciso ter garantias”, explica Mateus Lana, diretor financeiro da Associação Brasileira de Startups.

Uma alternativa para quem está começando são iniciativas governamentais, como os fundos da série Criatec, do BNDES, que já apoiou mais de 70 empresas brasileiras. “Para bons negócios não falta dinheiro, há muito investimento fluindo no ecossistema de startups. Aquelas que tiverem uma boa solução para um problema real serão disputadas”, diz Caio Ramalho, da FGV.

Tipos de aporte usados por startups

Bootstrapping
Quando o empreendedor opta por autofinanciar o seu negócio, usando os próprios recursos financeiros para lançar a empresa, sem as limitações impostas por um investidor

Corporate venture
É a expressão utilizada para caracterizar qualquer esforço de uma corporação para criar novas iniciativas empreendedoras, sejam internas ou externas

Equity crowdfunding
Alternativa de financiamento que conta com doações por meio de uma plataforma online. O doador recebe em troca uma pequena participação no negócio

Investidor-anjo
São pessoas que procuram empresas iniciantes —muitas vezes apenas uma ideia— e investem entre R$ 50 mil e R$ 500 mil, para vender sua parte a investidores maiores no futuro

Fontes: Endeavor Brasil e Sebrae

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.