Como adaptar seu carro para ter um negócio sobre rodas com segurança

Instalação de sistemas elétrico e de gás no veículo exige manutenção frequente e encarece seguro

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Furgão da clínica veterinária Bicho de Pet passa por manutenção e reforma em oficina de São Paulo
Furgão da clínica veterinária Bicho de Pet passa por manutenção e reforma em oficina de São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress
São Paulo

As adaptações feitas em food trucks e outros veículos de trabalho exigem mais manutenção do que o carro em si. Os problemas surgem nos itens adicionais, que envolvem tubulações de gás e mudanças na parte elétrica.

Há três anos, a veterinária Bruna Lopes investiu R$ 190 mil para montar o serviço móvel da clínica Bicho de Pet. Os custos englobaram a compra de um furgão, as adaptações e os equipamentos necessários.

Bruna diz que obteve bom resultado logo no primeiro mês, com 120 atendimentos. Porém, um problema no sistema elétrico do veículo gerou um grande prejuízo.

A energia demandada por secadores e outros itens foi demais para o gerador, que era subdimensionado e pifou. A veterinária gastou R$ 50 mil no reparo e na modernização do veículo. Já a parte mecânica estava em perfeito estado.

O desgaste do carro em si é baixo, afirma Bruno Martinucci, dono da oficina Motorfast. Ele explica que veículos desse tipo rodam pouco por dia e são desenvolvidos para transportar muito mais peso do que geralmente carregam com todas as adaptações.

O mais importante é seguir os prazos de troca do óleo. Com as baixas quilometragens diárias, muitas vezes percorridas em meio ao trânsito pesado, o lubrificante dos trucks tende a se deteriorar rápido, diz Bruno. Essa condição é chamada de uso severo pelas montadoras.

Nesses casos, a recomendação é substituir o fluido e seu filtro na metade do período recomendado para as revisões: se a troca está prevista para cada 10 mil quilômetros, deve ser feita aos 5.000.

Para quem opta por adquirir um veículo zero-quilômetro e transformá-lo em carro de trabalho, é preciso checar quais são as empresas de transformação ou encarroçadoras homologadas pela montadora do automóvel.

Ricardo Dilser, assessor técnico do grupo FCA Fiat Chrysler, diz que a garantia original de fábrica será mantida caso o proprietário do truck siga o plano de revisão do modelo e faça a adaptação em uma dessas oficinas cadastradas.

Já a garantia e a manutenção das instalações adicionais são de responsabilidade do encarroçador. 

Rômulo Jesus, gestor comercial da empresa de adaptações veiculares 4Truck, afirma que o prazo de cobertura é de um ano. Não podem surgir pontos de corrosão nem de infiltração, e os adesivos colocados na carroceria também devem ser substituídos caso se desgastem nesse período.

O dono do negócio deve manter alguns cuidados. “A fritadeira a gás de um food truck costuma funcionar ininterruptamente durante uma jornada de trabalho, por isso seu sistema deve ser vistoriado diariamente pelo dono, para verificar possíveis pontos de vazamento”, afirma Rômulo.

Com a proliferação dos negócios de comida de rua —o Sebrae estima que 2% da população brasileira sobreviva desse ramo—, as adaptações precisaram ser aprimoradas.

De acordo com Rômulo, as instalações de eletricidade e gás precisam ser superdimensionadas para evitar defeitos e acidentes. É necessário também ter a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), que é o laudo emitido por engenheiro responsável pelo projeto. Cada instalação (elétrica ou gás) exige um documento próprio.

Para maior segurança, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) recomenda que haja um sensor de vazamento de gás, que emite sinal sonoro e trava a válvula de segurança do sistema.

Além de evitar acidentes, os cuidados visam preservar o investimento, que é alto. Hoje, transformar uma van em um food truck de médio porte custa entre R$ 75 mil e R$ 90 mil. As paredes internas precisam ser impermeáveis e laváveis, o que aumenta o valor dos materiais empregados.

Para montar um pet shop sobre rodas como o da veterinária Bruna Lopes, o investimento é de aproximadamente R$ 70 mil. Os valores não incluem a compra do veículo.

Outro motivo para deixar os trucks em ordem é a dificuldade em conseguir cobertura de uma seguradora.

Bruna afirma que chegou a fazer cotações para o furgão, mas havia restrições em todas as companhias consultadas. O custo da apólice, que não cobria todos os riscos, era superior a R$ 25 mil por ano, afirma a veterinária.

Após o prejuízo, Bruna busca ao menos um contrato que cubra a parte elétrica do veículo, com indenização por incêndio.

A corretora de seguros Josiane Vidal já tentou aprovar apólice para um furgão transformado em food truck, sem sucesso. Ela diz que, embora haja contratos para veículos de trabalho, as companhias não oferecem opções que cubram os equipamentos adaptados.

“Quando há mudança estrutural no automóvel, em geral o mercado segurador não aceita o risco, uma vez que alterações na engenharia tornam a precificação mais complexa e podem dificultar o reparo na ocorrência de um sinistro”, diz, em nota, a Tokyo Marine Seguradora.

Segundo a companhia, se as adaptações não interferem em aspectos estruturais do carro, o processo de análise de aceitação de risco é bastante similar ao seguro de automóvel tradicional, sendo normalmente aceito.

Esse é o caso do food truck Lumar Delicius, construído sobre um furgão compacto chinês. Todos os equipamentos para o preparo de tapiocas foram inseridos na parte traseira, sem modificações.

Dono do negócio, Rogério Santos afirma que a última apólice custou R$ 1.500. A cobertura inclui apenas o veículo. A quilometragem média é baixa, cerca de 6.000 km por ano. “Os deslocamentos são curtos, fico estacionado o dia inteiro em um mesmo ponto e preciso rodar devagar.”

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