Empresário deve encarar investimento fora do país como recomeço

Autoconfiança pode atrapalhar etapas do planejamento, como estudo de concorrência, mercado e legislação locais

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Tatiana Vaz
São Paulo

Não importa se o empresário é experiente e já tem um negócio de sucesso no Brasil. Quando for abrir uma unidade no exterior, deve encarar tudo como se fosse a primeira vez.

“A marca será uma novata no país e terá de começar do zero”, afirma Paula Gomes, coordenadora da área de internacionalização da Apex Brasil —agência que auxilia gratuitamente interessados em fazer investimentos no exterior.

Arno Krug, diretor-executivo da rede de educação Maple Bear para América Latina, em unidade em SP
Arno Krug, diretor-executivo da rede de educação Maple Bear para América Latina, em unidade em SP - Danilo Verpa/Folhapress

Para ela, um dos principais erros dos empresários brasileiros que investem fora é a autoconfiança, que leva a pular etapas do planejamento. 

Antes de tudo, é preciso fazer um profundo estudo de concorrência, mercado e legislação do novo país, incluindo desafios trabalhistas, tributários, jurídicos e normas do específicas do setor.

“Costumo falar que é como se preparar para um campeonato em que você precisa saber tudo do concorrente, do terreno e das regras para desenhar uma boa estratégia de jogo”, afirma.

Para Fabio Khouri, diretor internacional da ABF (Associação Brasileira de Franchising), outro erro é não analisar as várias possibilidades de modelo de negócio para a expansão. Buscar alguém para cuidar da implementação de franquias no país escolhido, fechar uma joint venture, formar parcerias e até comprar uma companhia fora são opções para manter no radar.

A escolha do lugar precisa ser criteriosa. Não basta escolher um país para investir com base na proximidade da língua ou por achar que já o conhece o local. “Não é porque você passou férias em Miami que terá um negócio próspero por lá”, afirma Khouri. 

A ideia de que é preciso ter muito cuidado guia a expansão da Maple Bear, rede de educação canadense. Desde que a marca ganhou um master franqueado brasileiro responsável pela expansão na América Latina, há dois anos, estudos de mercado estão sendo feitos em países da região.

Por enquanto, a rede conta com três unidades no México, com abertura de filiais na Argentina e na Colômbia previstas para este ano. Todas, por enquanto, são operadas por empresários locais. O objetivo é que a experiência deles seja compartilhada com os brasileiros que pretendem abrir franquias da marca nesses países em 2020.

“Procurar um empreendedor local, testar o modelo e estudar o mercado por dois anos são cuidados que temos para minimizar o risco de perdermos um franqueado que pretende abrir uma primeira unidade fora”, diz Arno Krug, diretor-executivo da Maple Bear para América Latina.

Para Krug, quanto mais bem estruturada a empresa estiver antes de iniciar uma operação estrangeira, melhor. 

“Temos de checar desde a relação com sindicatos e normas locais até fechar parceria com gráficas e fabricantes de ursos de pelúcia [para fazer o urso de 1,5 metro que há na entrada de cada escola].”

Abrir uma unidade no exterior muitas vezes não requer um investimento tão alto quanto se pensa. 

Segundo Anelise Stahl, dona da Meu Açaí Express junto com o marido, Marco Martins, abrir uma unidade em Portugal hoje custa 30% mais do que fazê-lo no Brasil.

A margem de ganho e rentabilidade das duas opções, afirma, são semelhantes. “Mas enquanto o custo de aluguel em Portugal é maior, no Brasil pesa mais o custo trabalhista.”

Os empresários gastaram seis meses de estudo e planejamento de mercado para a abertura de uma franquia na cidade do Porto, a pedido de um empreendedor no Brasil.

A inauguração está marcada para o fim deste mês, poucos dias depois da abertura das duas primeiras unidades franqueadas da empresa no Brasil, em Goiânia (GO) e Blumenau (SC). A marca foi criada em setembro de 2018.

Anderson Macena, diretor-executivo da Top Spa Car, diz que o modelo de franquias da sua rede de serviços automotivos facilita a abertura de unidades fora do país. 

Por serem adaptadas para funcionar dentro de concessionárias, as lojas não arcam com custos de infraestrutura, como aluguel de espaço, água e luz, que tendem a pesar mais no bolso do franqueado. 

“É apenas em outra moeda”, diz. Segundo ele, ainda há resistência à capacidade do empreendedor brasileiro de fazer negócio por conta das incertezas econômicas do país.

Em junho do ano passado, a rede abriu operações no Peru, e, de fevereiro para cá, três unidades foram inauguradas na Flórida (EUA).

Nem sempre, porém, essa transição para outro país é tão fácil. Para Macena, o que ajudou no caso dele foi o fato de higienização de veículos ser um negócio bem aceito em vários países. Outros tipos de atividade podem não ter o mesmo sucesso.

Regina Jordão, diretora-executiva da rede de franquias Pello Menos Depilação, teve certeza disso ao estudar a possibilidade de abrir uma loja em Dublin, na Irlanda, em 2012. A ideia veio de uma irlandesa que, de férias no Brasil, conheceu a rede de depilação e se encantou com o negócio.

“Como ela insistiu na possibilidade de levar a marca para lá, analisamos a possibilidade por meses e gastamos com advogados e contadores locais para entender como funcionava”, lembra a empresária. “Concluímos que não abriríamos. E não me arrependo um segundo”, diz.

Regina lembra que, além das dificuldades trabalhistas, tributárias e normativas para a importação da cera, que a rede mesma produz, havia um entrave incontrolável: o clima.

“O verão em Dublin é mais curto e isso poderia impactar o negócio. Também percebi que ainda tinha muito a desbravar com minha rede o Brasil”, afirma ela, que atualmente conta com 44 lojas no Rio de Janeiro e tem planos de expansão para São Paulo.

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