Especialistas ajudam empresas a correr atrás do lixo-zero

Assessoria inclui conscientização de funcionários e busca de alternativas ao plástico

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Flávia Cunha e Luciana Annunziata, fundadoras da consultoria Casa Causa
Flávia Cunha e Luciana Annunziata, fundadoras da consultoria Casa Causa - Lucas Seixas/Folhapress
São Paulo

​A quatro anos do centenário, o empório Casa Santa Luzia, em São Paulo, passa por uma transformação para tentar reduzir sua produção de lixo. 

As verduras começaram a ser embaladas em folhas de bananeira, que substituem o plástico. As bandejas de isopor serão trocadas por opções biodegradáveis, feitas de bagaço de banana e mandioca, e um espaço foi reservado para coletar materiais como cápsulas de café e sacolas.

Essas soluções foram desenvolvidas com a assessoria da Casa Causa, uma das empresas criadas nos últimos anos para ajudar negócios a reduzir a quantidade de resíduos, cobrança cada vez mais comum dos consumidores.

A ideia dessas consultorias é aproximar os negócios do conceito de lixo-zero, estabelecido pela Zero Waste International Alliance. Para se enquadrar na categoria, empresas devem destinar a aterros sanitários no máximo 10% da sua produção de resíduos.

Criadoras da Casa Causa, a psicóloga Flávia Cunha e a especialista em inovação e aprendizagem institucional Luciana Annunziata já tinham afinidade com o tema da sustentabilidade antes de empreender. Cunha, por exemplo, participa de grupos lixo-zero que atuam em Pinheiros, bairro paulistano onde mora, numa casa quase sem produção de resíduos.

Em 2017, criaram a consultoria com objetivo de ajudar empresas de porte pequeno e médio a reduzir lixo. Em 2018, o faturamento da Casa Causa foi de R$ 80 mil —para este ano, a estimativa é de R$ 130 mil.

A dupla trabalha com nove empreendimentos, além de fazer consultorias gratuitas, como para a Associação São Joaquim, que atende idosos.

O ponto de partida é o mesmo em qualquer negócio: sensibilizar a companhia e seus funcionários para a importância da mudança. Esse é, segundo Cunha, um dos passos mais importantes no processo.

Para um cliente, as sócias recomendaram que as garrafas plásticas vazias usadas pelos funcionários deixassem de ser recolhidas —em vez de ter bebedouros no escritório, a empresa distribuía água engarrafada. Ao ver o acúmulo nas mesas, os empregados entenderam a quantidade de resíduo que estavam gerando.

O passo seguinte é fazer um raio-X do tipo de lixo criado no ambiente. A partir disso, é elaborado um plano de ação.

O plástico é um problema para a maior parte dos pequenos negócios. Nos restaurantes e na academia atendidos pela Ecoe Sustentabilidade, do Recife, o desafio é encontrar alternativas sustentáveis para copos e embalagens. Em alguns negócios, também é possível diminuir a impressão de documentos em papel.

A Ecoe, que completa um ano em setembro, é a primeira certificada pelo Instituto Lixo Zero em Pernambuco. 

Segundo sua fundadora, a bióloga especialista em sustentabilidade Susanne Galeno, 29, há menos oferta de produtos que ajudem empresas a reduzir o lixo no Nordeste em comparação com o Sudeste, mas o número de fornecedores com soluções aumentou no último ano.

A tendência é puxada por uma demanda de consumidores por sustentabilidade, mas pode resultar também em economia. Em muitos casos, reduzir a produção de lixo custa o mesmo ou menos do que manter o negócio como está, diz Kallel Kopp, engenheiro florestal e diretor de operações da consultoria Neutralize, de Brasília.

“Sempre apresentamos os ganhos efetivos, tanto financeiros quanto de sustentabilidade”, diz ele. A empresa, que atende cerca de 70 clientes, entregará no próximo mês seu primeiro bar lixo-zero, o Pinella, na asa norte da capital.

A Casa Santa Luzia sentiu isso na prática: após distribuir garrafas de inox aos funcionários para acabar com os copos plásticos, economizou aproximadamente R$ 8.000 por ano —e deixou de descartar cerca de 7.000 unidades por mês.

A Casa Causa ajuda ainda clientes a estabelecer parcerias com outras empresas. Foi assim que a Casa Santa Luzia encontrou outras companhias interessadas em comprar embalagens biodegradáveis. Fazendo um pedido coletivo, conseguiram um desconto.

A consultoria também arrumou uma forma de aproveitar o descarte de tubos de pasta de dentes de um cliente: eles foram destinados a uma empresa que os utiliza para fazer móveis, como mesas e bancos.

Essas mudanças tornam o negócio mais sustentável sem perda de qualidade no serviço, diz o advogado Daniel Morgado, da quinta geração da família a comandar a Santa Luzia.

“Falar de sustentabilidade não é mais uma qualidade, é uma obrigação”, afirma. “A consultoria está nos ajudando a trilhar uma meta e um caminho sólidos.” 

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