Festivais apostam em artistas nacionais e ganham mais público

Organizadores fogem da alta do dólar, reúnem jovens da MPB e dobram total de ingressos vendidos

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São Paulo

Se no começo dos anos 2010 os festivais de música eram guiados por atrações indies internacionais, hoje são os artistas brasileiros os responsáveis por aumentar o público desses eventos.

As empresas que organizam essas festas têm apostado na mistura de shows de figurões da MPB e cantores jovens.

Gabriel Andrade, curador e cofundador do  Festival Coala, que acontece em São Paulo
Gabriel Andrade, curador e cofundador do Festival Coala, que acontece em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

O mais antigo e itinerante deles é o Meca, que teve sua primeira edição em 2010 na cidade de Atlântida (RS). Criada pelo empresário Rodrigo Santanna, a marca já organizou 21 festivais e 200 eventos menores. Hoje com 14 funcionários, tem um espaço fixo em São Paulo, na Vila Madalena.

O foco, no início, era a cena internacional, mas já havia um embrião do que o evento se tornaria, com uma mescla de atrações nacionais e gringas, explica Piti Vieira, diretor de novos negócios. 

O ponto de inflexão foi a edição, há três anos, em Inhotim, museu de arte contemporânea em Brumadinho (MG). O lineup, puxado por Caetano Veloso, era só de brasileiros. A receita nova deu certo.

Em 2019, Recife e Inhotim receberam edições do festival e ainda estão previstas outras em Maquiné (RS), cujos ingressos estão a R$ 160, São Paulo, Brumadinho (para arrecadar fundos para a cidade) e uma festa de Ano-Novo, também na cidade de Inhotim. O faturamento cresceu em 30% nos últimos dois anos, segundo os empresários.

Em 2020, a empresa pretende levar o conceito para Estados Unidos e Europa. Estão planejadas também edições bianuais em território nacional, em cidades que até agora não receberam o festival.

​O Rock the Mountain, realizado em Itaipava, no Rio de Janeiro, também apostava em artistas internacionais na primeira edição, em 2013. 

A grande referência para a agência de DJs BlackHaus e pela produtora GMP, realizadores do evento, era o festival americano Coachella. Mas o aumento do dólar tornou inviável o plano original, até que deixaram de produzir o evento em 2016 e 2017.

A partir de 2018, a Vibra Marketing, produtora de eventos com dez funcionários, entrou para o time. A marca, que focava em festas, agora aposta no ramo de festivais.

Juliana Schutz, realizadora do evento e membro da Vibra, diz que a ideia da produtora é entrar para a organização de mais festivais em 2020.

Com novo enfoque em artistas nacionais, o Rock the Mountain reuniu 7.000 pessoas em 2018. Neste ano, já ultrapassou o número de vendas do ano passado, e a expectativa é chegar a 12.000 ingressos vendidos até dezembro, quando acontece a próxima edição. No 4º lote, a entrada custa R$ 192 para os dois dias.

Felipe Continentino, diretor-executivo do Queremos!, plataforma que realiza shows de vários gêneros, afirma que os nomes brasileiros conseguiram se popularizar ainda mais nos últimos anos. 

O negócio foi criado em 2010 por cinco sócios: Bruno Natal, Felipe Continentino, Pedro Garcia, Pedro Seiler e Tiago Compagnoni. Apesar de cada um atuar em um ramo, todos tinham algum tipo de conexão com música.

A empresa cria os eventos musicais a partir de pedidos dos fãs feitos pelo site. Com base na análise do que o público mais queria, organizou o festival de mesmo nome em 2018, no Rio de Janeiro, com ênfase na música nacional. A primeira edição teve 5.500 pessoas e, em 2019, 8.000. No último festival, os ingressos custavam a partir de R$ 120.

Continentino diz que um ponto chave para o sucesso do festival, além da curadoria, é investir em infraestrutura. 

“Havia restrição do público, que associava festival a perrengue, a um serviço não necessariamente bom. Nosso desafio é conseguir crescer a bilheteria sem perder uma boa entrega”, afirma.

O festival Coala, que acontece no Memorial da América Latina, em São Paulo, já nasceu com a proposta de reunir apenas artistas brasileiros. 

Gabriel Andrade, sócio e um dos curadores, conta que em 2013, quando a casa de shows Studio SP fechou, frequentadores ficaram órfãos de apresentações de cantoras como Tulipa Ruiz e Bárbara Eugênia.

Foi o impulso para a primeira edição do Coala, criado pelos publicitários Christiano Vellutini, Thiago Custódio, Guilherme Marconi e o próprio Andrade. Com Criolo e Tom Zé, o primeiro evento, em 2014, reuniu 6.000 pessoas.

Em 2017, o público já atingia a marca de 12.000 e, no ano seguinte, dobrou. Na edição deste ano, realizada neste mês, a capacidade máxima do Memorial foi atingida, com 26.000 pessoas e ingressos a partir de R$ 165 para os dois dias de festival.

O curador acredita que a produção musical no Brasil está em seu auge. “É uma geração de artistas que atingiram uma maturidade e trazem público”, afirma Andrade.

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