Investimento em sustentabilidade é alto, mas retorno sempre compensa

Ações responsáveis de pequenos negócios geram economia e facilitam parcerias com grandes empresas

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São Paulo

Investir em sustentabilidade não é barato, especialmente no caso de quem não tem recursos sobrando para fazê-lo, como o pequeno empresário. O retorno financeiro, porém, por meio de economia em processos ou possibilidade de parcerias comerciais, vale a pena.

O problema é que mais de 40% desses empreendedores não associam sustentabilidade a oportunidade de ganhos. Pesquisa do Sebrae de 2013 aponta que 20,2 % dos entrevistados acham que essas práticas não geram nem ganhos nem despesas, e 20,3% associam-nas apenas a dispêndios.

“Às vezes, as pessoas acham que a sustentabilidade é só para as grandes companhias, mas quando a gente começa a trabalhar e lhes mostra alguns exemplos, isso acaba caindo por terra. O importante é chegar a esse primeiro passo”, diz Dorli Terezinha Martins, consultora de sustentabilidade do Sebrae. 

Ela conta que mudanças pequenas, como implementação de janelas para que mais luz incida num ambiente, e readequação de fiação elétrica, outrora sobrecarregada, geraram, num universo de 690 empresas auxiliadas pelo serviço, em média 30% de economia na conta de luz.

O empresário Eduardo Vaz,  57, aproveita a luz do sol em sua oficina mecânica, que fica em Cotia (Grande São Paulo) 
O empresário Eduardo Vaz, 57, aproveita a luz do sol em sua oficina mecânica, que fica em Cotia (Grande São Paulo)  - Zanone Fraissat/Folhapress

Segundo a consultora, o investimento em sustentabilidade retorna no médio prazo (entre dois e três anos). Dorli ressalta, porém, que o gasto para otimizar operações varia de acordo com o setor.

Indústrias que precisam substituir maquinário antigo, por exemplo, gastam mais no processo. “A troca desse tipo de ativo é mais cara, mas de qualquer forma isso trará resultado positivo no futuro”.

Eduardo Vaz, 57, dono da oficina mecânica Auto Q3, em Cotia (Grande São Paulo), fez um estudo em 2017 para saber que gastos poderia diminuir em sua empresa. Descobriu que as contas de água e luz estavam muito altas.

Investiu então cerca de R$ 100 mil para montar um sistema de calhas e dutos que capta água da chuva —usada da lavagem dos automóveis à limpeza dos banheiros— e tornou cerca de 30% de seu telhado translúcido, para reduzir o uso de energia elétrica. A empresa está instalada em um galpão de 4.500 metros quadrados.

O retorno, que veio em um ano e oito meses, é uma economia de entre 65% e 70% em ambas as contas. A oficina, que tem 25 funcionários, fatura R$ 3 milhões por ano. 

Vaz conta que seus colegas —ele faz parte do sindicato de reparadores— não costumam pensar dessa maneira.

“A maioria está mais preocupada em ganhar dinheiro agora do que em investir e economizar lá na frente. É difícil convencer dono de oficina a gastar R$ 100 mil para captar água da chuva”, afirma. 

Em sua empresa, ele também se preocupa com o destino dos restos dos carros. “Cada carro batido que chega gera em média 17 quilos de resíduos. E eu reparo 150 por mês. São duas toneladas e meia. Tem uma empresa que vem aqui, os leva e me dá um certificado”, conta.

Paulo Branco, vice-coordenador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), chama a atenção para as novas oportunidades de negócio que uma cadeia sustentável pode trazer.

“Além de reduzir custos, essas práticas qualificam o negócio para atender grandes empresas que querem comprar sem riscos de ter fornecedor que polui ou tem ambiente de trabalho degradante”, diz.

Lembrando que sustentabilidade não é só cuidar do meio ambiente, ele chama a atenção também para a importância de garantir boas condições de trabalho aos empregados.

Gerente de sustentabilidade da consultoria PwC, Priscila Bueno, que atende grandes corporações, diz que essas preocupações de fato estão disseminadas no mercado.

“As companhias maiores exigem das pequenas e médias práticas sociais e ambientais sustentáveis. Aplicam questionários sobre isso durante a homologação de contratos, se certificam de que as parceiras tenham condutas éticas e as pressionam para que adotem sempre os melhores processos”, afirma.

Priscila frisa que há linhas de crédito direcionadas ao pequeno empreendedor interessado em tecnologias sustentáveis custosas, como painéis solares.

Branco, da FGV, relembra também que já foi mais caro comprar matéria prima sustentável e que o custo maior desses produtos nem sempre é culpa da garantia de origem. 

“Madeira certificada, por exemplo, já foi cerca de 30% mais cara. Hoje, dependendo do tipo, é menos de 10% mais custosa. E não se pode colocar toda a diferença de preço na conta do selo. Tem que ver como a cadeia de produção e transporte está estruturada, se há muitos intermediários, o que aumenta o custo, e melhorá-la”, diz. 

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