Visão socioambiental move a inovação em grandes empresas

Pesquisa aponta que preocupação vai ao encontro dos anseios do consumidor

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Andrea Vialli
São Paulo

Ouvir o consumidor é parte importante das etapas de desenvolvimento de um produto, e ele tem se mostrado cada vez mais assertivo em uma questão: quer produtos que o ajudem a minimizar seu impacto ambiental no mundo. Essa preocupação tem impulsionado iniciativas de inovação nas grandes empresas.

A fabricante sueca Electrolux divulgou em agosto uma pesquisa interna, na qual ouviu 9.320 pessoas em nove países, sobre hábitos de sustentabilidade que estão dispostas a adotar no dia a dia.

O estudo mostrou que 30% dos entrevistados acham difícil definir as opções de compra mais sustentáveis, e 32% se preocupam em reduzir o desperdício de alimentos.

A pesquisa deu subsídios para o lançamento da nova estratégia global de sustentabilidade da empresa, que quer colocar o tema no centro de suas estratégias de inovação. 

O mote é envolver diretamente o consumidor e influenciar a tomada de decisões no que diz respeito a alimentação sustentável, durabilidade das roupas, qualidade do ar dentro de casa, neutralização do carbono e incentivo à economia circular.

“As metas se conectam com os produtos que colocamos no mercado, de modo que é uma oportunidade também de ajudar o consumidor a fazer escolhas mais sustentáveis”, diz Henrik Sundstrom, chefe de sustentabilidade da Electrolux na Suécia. 

Segundo ele, o inventário de gases de efeito estufa da marca aponta que 15% do seu impacto climático vem das operações (fábricas, logística). O resto vem do uso dos eletrodomésticos pelo consumidor.

A empresa vai destinar, na América Latina, 5% do faturamento para inovação voltada a desenvolvimento de produtos, serviços e operações que reduzam o impacto ambiental. Outro compromisso é aumentar em cinco vezes o uso de plástico reciclado na fabricação, partindo das atuais 600 toneladas/ano.

“Há diferenças entre os consumidores, mas de modo geral eles estão conscientes. Hoje não se coloca um refrigerador no mercado sem que ele tenha alto padrão de 

eficiência energética”, diz Ricardo Cons, presidente da Electrolux América Latina.

No eixo da alimentação, a empresa se comprometeu a investir 12% de sua verba de marketing na América Latina na conscientização sobre o desperdício de comida.

Um dos planos para o ano que vem é apoiar startups com soluções sobre o tema e manter investimentos no programa Gastronomia Sustentável, que incentiva hortas comunitárias e treinamentos sobre aproveitamento de alimentos.

Também atento às demandas do consumidor, o grupo Boticário recebe de clientes questionamentos sobre os componentes dos cosméticos, se são testados em animais, e reciclagem de embalagens.

Assim, a sustentabilidade se tornou um impulsionador da inovação na companhia, que investe em torno de 4% da sua receita anual em pesquisa e desenvolvimento.

De acordo com Alexandre Bouza, diretor de marketing da marca, 77% dos produtos desenvolvidos no ano passado trazem algum atributo de sustentabilidade, seja na formulação ou na embalagem.

Neste mês, a empresa conseguiu encontrar uma solução para um resíduo de difícil reciclagem, o surlyn, resina utilizada na tampa dos perfumes. Esse tipo de plástico era recolhido em pontos de coleta de embalagens, mas acabava em aterros por falta de demanda para novas aplicações.

Com a recicladora Wise, a empresa desenhou um modelo para o aproveitamento do resíduo. A resina é lavada, moída, processada e encaminhada para a fabricante de embalagens dos produtos do grupo. O resíduo será usado, então, na confecção de novas tampas.

A inovação em sustentabilidade também começa a ser preocupação de startups. É o caso da Liv Up, especializada em pratos prontos e saudáveis, que, por meio de pesquisas, detectou o interesse de seus clientes pela alimentação orgânica. Mais de 80% deles consideram importante o consumo de orgânicos, por razões de saúde e ambientais.

Com essa informação em mãos, a startup passou a buscar parcerias diretas com pequenos produtores para fornecimento dos ingredientes, estratégia que ajudou a garantir a oferta e reduzir custos.

“Achávamos os orgânicos caros, mas, ao investigar a cadeia, descobrimos que havia até cinco intermediários entre o produtor e nós. Eliminando esses elos, fechamos o ciclo”, diz Victor Santos, sócio-fundador da Liv Up. A meta para este ano era alcançar 70% de orgânicos na oferta de produtos de origem vegetal, que foi atingida antes do prazo.

Fomentar a economia com base na inovação e sustentabilidade é um dos desafios para o Brasil. O setor de bioinovação, que inclui indústrias com base em biotecnologia e recursos renováveis, tem um potencial de acrescentar US$ 400 bilhões (R$ 1,3 trilhão) à economia brasileira nos próximos 20 anos.

São segmentos como biocombustíveis avançados, biotecnologia aplicada à produção de alimentos e cosméticos. Embora haja  empresas competitivas nessas áreas, o Brasil ainda está aquém de seu potencial, diz Bernardo Silva, da ABBI (Associação Brasileira de Bioinovação). 

O setor está se articulando para criar um plano nacional para a bioinovação, com a adesão de empresas, centros de pesquisa e universidades.


A jornalista viajou a convite da Electrolux

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