Startups eliminam intermediários e barateiam seguros automotivos

Empresas monitoram comportamento do motorista para definir preço do serviço

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São Paulo

Assim como fazem em outros setores de economia, startups querem simplificar e personalizar o mercado de seguros, propondo que o usuário pague apenas pelo que efetivamente usa.

Uma dessas insurtechs —termo que junta as palavras em inglês “insurance” (seguro) e “technology” (tecnologia)— é a Onsurance, que oferece um seguro automotivo pré-pago. Tal qual se faz com um celular, o usuário coloca créditos em sua conta e eles vão se esvaindo conforme o automóvel é utilizado. Quando o carro está parado, não há desconto.

Diferentemente de seguros convencionais, não são levadas em conta variáveis como sexo e idade do motorista no cálculo do valor a ser cobrado.

Diogo Russo, 37, sócio-fundador da Kakau Seguros, na sede da empresa, em São Paulo
Diogo Russo, 37, sócio-fundador da Kakau Seguros, na sede da empresa, em São Paulo -  Karime Xavier/Folhapress

“Não importa se é jovem ou velho ou onde mora. Instalamos um dispositivo no automóvel que captura como a pessoa conduz, e aí acontecem ajustes de preço. É mais justo. A pessoa pode ser nova e dirigir educadamente”, diz Adilair Silva, 35, cofundador.

Há um valor mínimo de crédito para colocar na primeira carga, que varia de acordo com o modelo do carro —para um popular, é R$ 1.199, mas o valor não expira nunca. 

A empresa estima que seu produto é entre 50% e 80% mais barato que o de uma seguradora tradicional. 
“Com isso a gente atinge pessoas que não eram atendidas por esse serviço. Cerca de 70% dos nossos clientes nunca tinham tido um seguro automotivo”, diz Ricardo Bernardes, 43, fundador. De acordo com dados de 2018 da FenSeg (federação de seguros) só 27% da frota do país têm a proteção.

A Onsurance, que é de Brasília, foi fundada em 2017 e emprega dez pessoas. A startup não revela quantos clientes tem ou o faturamento, mas diz já ter cuidado de mais de 4 milhões de minutos dirigidos.

A ThinkSeg, que começou em 2016, está mudando seus processos para oferecer um serviço parecido, no qual quem dirige mais paga mais. 

A empresa deixou de trabalhar com seguros tradicionais e atualmente testa o serviço “pague pelo que usar” com cerca de mil clientes.

O contratante pagará uma mensalidade mais uma taxa por rodagem, explica André Gregori, diretor-executivo. A cada viagem será atribuída uma nota de acordo com a prudência ao volante, medida por um aplicativo com inteligência artificial. Isso se refletirá no preço dessa taxa. 

“Não há transparência sobre o que se paga nesse mercado. Você sabe que se usar mais água e luz  vai pagar mais. Por que com seguro não pode ser assim?”, questiona Gregori. 

A estimativa é que, na média, o serviço custe R$ 90 para um carro popular. A companhia, que tem 108 funcionários e não revela faturamento, ainda não tem previsão de quanto o novo serviço deve lhe render. 

Mas a mudança no setor não é só no ramo automotivo. A Pier, por exemplo, foca a proteção de celulares.

Segundo seu fundador, Lucas Prado, 30, a ideia é que a plataforma funcione como uma comunidade, onde só  entra quem é convidado. Uma vez aprovado, o segurado paga mensalidades a partir de R$ 6,10 pelo serviço.

“Há uma relação desgastada entre segurados e seguradoras no Brasil, com burocracia de um lado e fraudes do outro. Como não temos intermediários, consigo ter uma relação transparente para explicar exatamente o que cobrimos e como funciona”, diz Prado. 

Lucas Prado, 30, fundador da Pier Seguros, no prédio onde funciona a empresa, em SP 
Lucas Prado, 30, fundador da Pier Seguros, no prédio onde funciona a empresa, em SP  - Bruno Santos/Folhapress

Para aprovar ou não um membro, a empresa avalia, além do score de crédito, o perfil digital do pleiteante, com informações fornecidas no pedido de entrada. 

O diferencial da Pier é a cobertura do furto simples, algo raro no mercado. Nesse delito, o ladrão não ultrapassa barreiras, como rasgar uma mochila, por exemplo, para subtrair um bem. Quando o faz, o furto é qualificado.

Segundo uma análise da  empresa, baseada em dados da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, 90% dos furtos de celular no estado são simples. E mais da metade das 400 indenizações já pagas pela Pier foram por esse delito. 

Pioneira como insurtech voltada a celulares, a Kakau Seguros também oferece seguro residencial. Nessa modalidade, é possível “ligar e desligar” o serviço, que custa a partir de R$ 19 por mês.

“Se alguém sai de férias e deixa a casa vazia ou a aluga no AirBnb, pode ligar o seguro só durante esse período e desligar quando voltar”, diz Diogo Russo 37, sócio-fundador. 

Para Eduardo Glitz, sócio da StartSe, empresa de educação executiva voltada para a nova economia, insurtechs são tendência. “A tecnologia elimina intermediários [no caso, corretores] e barateia serviços. Acho que pode haver um boom dessas empresas, assim como há das fintechs. O setor bancário e o de seguros são concentrados.”


27%  
da frota brasileira de automóveis é segurada 

48
é o número de startups do setor de seguros no país

9 em cada 10
furtos de celular no estado de São Paulo são simples


PIER

Inauguração
2019 

Número de clientes
10 mil (e mais 50 mil na fila de espera)

Número de funcionários
61

Faturamento
R$ 5 milhões (previsão para 2019)

O que oferece
seguro para celulares e tablets

KAKAU SEGUROS 

Inauguração
2017

Número de clientes
9.000

Crescimento
entre 25% e 27% em cada mês no último ano

Número de funcionários
4

O que oferece
seguro para celular e casa. Em breve, também para bicicletas

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