Acesso a talentos é democratizado a partir de inteligência artificial

Empresas pequenas, sem estrutura de recursos humanos, usam startups na pré-seleção de profissionais

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São Paulo

​Pequenas empresas com RHs pouco estruturados ou mesmo sem o departamento podem terceirizar seu processo de recrutamento às chamadas HR techs (startups de recursos humanos). Essas companhias usam inteligência artificial para enviar ao empresário candidatos que têm chances de contratação.

“A gente democratiza o acesso aos talentos. Tenho cliente que é fundador de um pequeno negócio e quer contratar seu primeiro funcionário”, diz Lucas Mendes, 36, sócio-fundador da Revelo.

Funciona assim: o empresário especifica o que quer (exemplo: um publicitário que viva em Vitória, já tenha passado por agências, aceite não ser contratado via CLT e tope ganhar a partir de R$ 5.000), a Revelo busca as opções em seu banco de talentos e as envia.

Assim, o empregador não precisa entrevistar muitos profissionais. De outro lado, candidatos sem chances de aprovação evitam deslocamentos desnecessários.

Lucas Mendes, 36, sócio-fundador da Revelo, em seu escritório, em SP
Lucas Mendes, 36, sócio-fundador da Revelo, em seu escritório, em SP - Keiny ANdrade/Folhapress

Segundo Mendes, seus clientes levam em média 14 dias para preencher uma vaga, um quinto da média do mercado. Os contratados por meio da plataforma ficam ao menos três meses em seu novo posto de trabalho em 95% dos casos.

“O pequeno empreendedor tem pressa, precisa crescer. Não pode receber e analisar centenas de currículos para depois de um tempo escolher um ou dois”, diz. 

Para usar os serviços, os clientes compram créditos, que vão sendo gastos conforme são feitas as contratações. 

A Revelo, que existe desde 2014, emprega hoje 200 pessoas. A companhia não revela faturamento, mas deve dobrá-lo neste ano. É possível contratar profissionais de quase todas as áreas na plataforma, o que ajuda a explicar seu número de clientes: 14 mil.

Já a Sólides, além de atrair talentos, também os acompanha durante sua jornada na empresa, gerenciando avaliações, metas etc.

“Em média, cada vaga na nossa plataforma recebe 200 currículos. Automatizamos a triagem deles com as informações desejadas pelo cliente e, no final, mandamos de 10 a 15 nomes para o empregador”, diz Alessandro Garcia, 42, dono da empresa.

Números mostram que a média de rotatividade anual entre clientes da Sólides é de 19%, ante 42% no Brasil; o o tempo médio de retenção numa empresa é de 3 anos e 5 meses no país, sendo que esse tempo entre clientes da empresa é de 5 anos e 2 meses.

A plataforma é remunerada por mensalidades. O plano mais barato custa R$ 600.

 A HR tech afirma ter faturado R$ 16 milhões em 2019. A expectativa é dobrar  a cifra em 2020. Desde 2015, gerou 182 mil contratações. 

Há, também, HR techs de nicho, como A Vulpi, que lida só com desenvolvedores.

Seu fundador, Fellipe Couto, 23, é da área. Ele percebeu que o RH da empresa em que trabalhava usava seus próprios desenvolvedores como fonte para indicar talentos. Assim, viu espaço para empreender. O algoritmo que pauta a pré-seleção feita pela empresa foi desenvolvido no seu TCC. 

Hoje, segundo ele, 70% de seus clientes são pequenos ou médios negócios. “A gente consegue buscar profissionais de qualquer lugar. Constantemente entrevistamos pessoas do Nordeste para vagas em São Paulo. Temos uma capilaridade boa para encontrar o candidato certo”, diz.

A HR tech, de Belo Horizonte, é remunerada com um valor que varia entre 6% e 8% do salário anual do contratado. A empresa tem 216 clientes e intermedeia 40 preenchimentos de vaga por mês. Sua expectativa é triplicar o faturamento de 2019, que não revela. 

Dono da Perfectpay, plataforma que ajuda a dividir comissões de vendas, Leonardo Zanette, 37, já contratou 12 pessoas com a ajuda de uma HR tech. “Precisamos aumentar nossa área de TI, mas tínhamos dificuldade em contratar. Havia desistências durante o processo porque levava muito tempo”, relembra.

Dos contratados por meio de HR tech, todos ainda estão na empresa, que fica em Resende, no interior do Rio, e tem 88 funcionários.

Segundo Davi Paunovic, consultor de competitividade e inovação do Sebrae-SP, as HR techs solucionam uma dor antiga dos pequenos. “Antes, o processo de contratação era coordenado pelo próprio dono na maioria das empresas que atendíamos.”

Anderson Sant’Anna, professor de comportamento organizacional na FGV, diz que as HR techs são uma tendência também entre startups de outros setores, que crescem muito e não podem gastar tempo e energia com assuntos operacionais.

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