Novo negócio faz você ajudar causas sociais sem gastar nem um centavo

Startups criam modelo no qual patrocinadores bancam doações de pessoas físicas a entidades

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São Paulo

Um novo modelo de negócio criado por startups brasileiras permite que pessoas doem dinheiro a causas sociais sem gastar nem um centavo. Isso é possível graças a parcerias entre essas empresas e patrocinadores.

Criada em 2016, a Ribon desenvolveu um aplicativo que converte o dinheiro gerado com anúncios digitais em doações para quatro ONGs, com foco em acesso a água potável, alimentação, medicamentos e saúde básica.

Pela plataforma, o usuário recebe notícias com conteúdo positivo. Cada uma delas vem com o anúncio de um patrocinador, cuja visualização vale cem moedas virtuais. 

Bruno Aleixo, fundador da Altrus, startup que conecta doadores e ONGs
Bruno Aleixo, fundador da Altrus, startup que conecta doadores e ONGs - Zanone Fraissat/Folhapress

Ao acumular esse dinheiro fictício, também chamado de “ribon”, o usuário pode escolher para qual das quatro instituições deseja doá-lo. 

“A gente não revela quanto um ‘ribon’ vale em reais, mas sim o que ele pode fazer. Um dia de água potável para uma pessoa, por exemplo, custa 70 ribons”, diz Carlos Menezes, 24, sócio-fundador. 
A cada dois meses, a startup leva o dinheiro arrecadado às organizações e apresenta relatórios e notas fiscais das transações no próprio aplicativo.

Do montante recebido dos anunciantes, 70% viram doação e 30% vão para o caixa da empresa. Há outras maneiras de um usuário receber moeda virtual: participando de campanhas ou pagando planos mensais (a partir de R$ 10). 

A Ribon tem 600 assinantes e 50 mil cadastrados na plataforma —três quartos deles entre 13 e 35 anos. Segundo Menezes, esse público é atraído tanto pela curadoria de notícias quanto pela possibilidade de doar de graça.

“A maior parte dos usuários nunca tinha doado. Estamos lidando com o microdoador, que não seria atingido de outra forma”, diz o fundador.

Em 2019, a empresa faturou R$ 140 mil e proporcionou a doação de R$ 180 mil.

A Joyz, de Porto Alegre, tem proposta semelhante, mas é aberta a causas em geral. Os usuários da plataforma recebem “joyz”, sua moeda virtual, conforme assistem a vídeos de patrocinadores. Então, escolhem uma das campanhas de doação como destino. 

Qualquer um pode criar uma campanha, mas só é possível receber o dinheiro depois de enviar provas de que a causa é real. Um ‘joyz’ vale R$ 0,10. O beneficiado pode pedir o saque quando acumular R$ 100.

A startup distribui em forma de dinheiro virtual mais de 50% do que recebe dos parceiros. Com cerca de 500 mil usuários, faturou R$ 1 milhão em 2018. O dinheiro foi reaplicado na empresa, que hoje busca investidores.

 Gabriel Pinheiro, 30, fundador da Igual, na sede da empresa, em SP;
Gabriel Pinheiro, 30, fundador da Igual, na sede da empresa, em SP; - Zanone Fraissat/Folhapress

“As pessoas em geral acham que quem ajuda é o rico, que dá R$ 100 mil a uma ONG no fim do ano. A gente mostra que a microdoação para causas locais é possível”, diz Pedro de Castro, 34, fundador. 
Já a Igual, de São Paulo, quer gerar impacto social a partir de compras. Seus clientes são lojas físicas —por ora, uma de roupas e uma sorveteria.

A companhia recebe comissão, entre 5% e 15%, na venda dos produtos, e devolve ao consumidor 70% desse valor como cashback social. 

O cliente então escolhe, num tablet disponível nas lojas, um projeto para ajudar, também com dinheiro fictício —R$ 1 vale 300 “iguais”.

Gabriel Pinheiro, 30, sócio, explica que o cashback social é diferente de uma doação. “O consumidor ajuda causas com um dinheiro que já gastou. Não é algo extra”, afirma.

A empresa existe só há cinco meses, mas já conseguiu dinheiro para três projetos sociais, dois em Fortaleza e um em São Paulo. Agora, deve lançar um aplicativo e firmar parceria com outras 11 causas. A expectativa do empresário é que a empresa comece a dar lucro daqui a pouco mais de um ano.

A Altrus, também paulistana, tem modelo mais simples: liga quem quer contribuir a quem precisa de ajuda.

Há 50 projetos cadastrados no site da empresa, que só são aprovados após escrutínio, com envio de documentos.

Os usuários veem o perfil das ONGs e entram em contato para doações. Por enquanto, as transações não ocorrem na plataforma. 

O foco é propiciar doações de companhias. “Queremos dar voz a projetos pequenos, que ninguém sabe que existem, e atrair empresas para ajudá-los”, diz o fundador, Bruno Aleixo, 37.

No segundo bimestre, a Altrus deve lançar um aplicativo e uma nova versão de seu site que vai permitir doar pela própria plataforma. Além disso, terá um marketplace, no qual doadores poderão comprar produtos pedidos pelas ONGs.

Por ora, a startup tem apoio de investidores e é remunerada pela venda de uma ferramenta que ajuda grandes empresas a gerir suas doações.

Para Ariadne Mecate, consultora do Sebrae-SP, startups de doação, por lidarem com dinheiro destinado a causas, devem prezar acima de tudo a transparência. “Lucrar a partir de algo que propicia doações não é problemático. A empresa resolve a dor de seus clientes. Não é uma ONG.”

O antropólogo do consumo Michel Alcoforado concorda. “Não são ações religiosas, mas empresas. Da mesma forma, hospitais cobram de pessoas doentes e ficam ricos”, diz. 

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