Negócios recém-abertos lutam para conquistar seus primeiros clientes na quarentena

Empresário deve transformar investimentos futuros em capital de giro e cortar custos para sobreviver

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São Paulo

A crise do coronavírus impõe desafios redobrados a empresas que acabaram de ser abertas. Ainda em fase de adaptação, elas precisam agir com rapidez para criar uma base de clientes e reestruturar seu plano de negócios.

A empresária Erica Moraes, empreendedora que está abrindo o Hospital da Alma, uma clínica de terapias holísticas, em meio à crise do coronavírus
A empresária Erica Moraes, empreendedora que está abrindo o Hospital da Alma, uma clínica de terapias holísticas, em meio à crise do coronavírus - Gabriel Cabral/Folhapress


Depois de um ano de planejamento, a empresária Erica Moraes, 39, havia programado a abertura de sua clínica holística, o Hospital da Alma, para 23 de março, em São Paulo. No dia seguinte, começou a vigorar a quarentena no estado.

Ela teve que atrasar os planos em três semanas, tempo que levou para remodelar o atendimento dentro do possível. “Pensei quais atividades poderiam ser feitas online para trazer alívio emocional e lidar com o medo, que é o objetivo da clínica. Decidi um protocolo com meus terapeutas, que vão trabalhar de casa”, diz.

Sete tratamentos deixaram de ser oferecidos e oito foram reestruturados para funcionar a distância —entre eles a aromaterapia, em que o terapeuta atende a demanda do paciente por vídeo e prescreve óleos essenciais que podem ser comprados pela internet.

Com a mudança de comportamento do consumidor na crise, muitos empresários terão de repensar qual problema do cliente seu produto terá de resolver agora, afirma Enio Pinto, gerente de atendimento ao cliente do Sebrae.

“A adequação pode ser até mais ágil para quem acabou de abrir, já que a empresa não tem tantos processos para rever”, diz.

Pensando na retração de consumo que pode se prolongar para depois do isolamento, Erica reduziu o preço das terapias. Seis delas passaram de R$ 80 para R$ 35 a consulta. Às segundas, haverá atendimento gratuito.

“Essa é uma forma de ajudar neste momento, mas também de incentivar pessoas a se tornarem freguesas”, diz ela.

Empresas novas, que precisam montar uma base de clientes durante a crise, devem considerar ações que estimulem o consumo e criem oportunidades para se destacarem. Por exemplo, descontos progressivos, frete grátis e kits com produtos mais baratos.

“Pedir feedbacks também é importante. Isso acaba demonstrando credibilidade e atraindo mais resultados”, diz Cyntia Calixto, professora do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Agora é o momento de mirar em redes sociais, sites e plataformas de venda, afirma Enio Pinto, do Sebrae.

O empresário Vinicius Salvino, 33, começou a estruturar as redes sociais de sua empresa, a Quitanderia Mineira, para atrair público. O café abriu em fevereiro no centro de Curitiba (PR), mas funcionou por apenas um mês.

“Estava na fase de experimentação com os clientes, que trabalhavam em empresas próximas. Achar esse público e conseguir atingi-lo com o delivery é a maior dificuldade.”

Por ora, Vinicius está avaliando quais produtos podem ser adaptados à entrega. Para enfrentar este período, ele teve de demitir duas funcionárias e está negociando pagamentos a fornecedores e ao dono do imóvel.

“O isolamento me pegou com fluxo de caixa e capital de giro mais apertados, tinha acabado de fazer investimentos. À medida que o dinheiro entrava, eu adquiria material e equipamentos. Planejava ficar assim por mais seis meses. Tive um baque grande.”

Em situações como essa, é preciso rever custos e gastos, cortando tudo o que não for essencial para prestar serviços a clientes. “Para manter o negócio funcionando, o empresário vai ter que transformar investimentos que havia programado em capital de giro”, afirma Enio Pinto.

Tiago Vidal Godoi, fundador da Saxperto
Tiago Vidal Godoi, fundador da Saxperto - Divulgação


Foi o que fez Tiago Godoi, 38, dono da Saxperto, empresa de saques para carteiras digitais, que iniciou as operações em janeiro, em Porto Alegre (RS).

O serviço permite que usuários de companhias como Mercado Pago façam saques no varejo —em bancas de jornais e postos de gasolina, por exemplo.

O empresário deixou de contratar dois funcionários e suspendeu a expansão do negócio para outros estados. Também tirou a startup do coworking onde estava instalada, e os três funcionários passaram a trabalhar de casa.

Como tiveram investimentos cancelados, Tiago e o sócio, Rodrigo Batista, 39, vão ter de colocar capital próprio para conseguir manter a startup —ao menos R$ 50 mil. Com isso, esperam que a empresa atinja seu ponto de equilíbrio até o fim do ano.

Quem conseguir reduzir a operação ao máximo e equilibrá-la com um mínimo de renda deve continuar aberto, afirma Enio Pinto.

“Mas, se o empresário entende que o dinheiro não consegue cobrir os custos e esse cenário vai se prolongar por meses, é melhor fechar para não passar por mais dificuldades no futuro.”

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