Sem eventos, empresários criam kits para minifestas e celebrações virtuais

Bufês e restaurante conseguem driblar a crise com delivery de comidinhas e itens de decoração

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Cristiane Teixeira
São Paulo

Obrigados a parar desde o início da pandemia, empresários do setor de eventos e de alimentação criaram alternativas para continuar fazendo a festa de clientes sem que eles precisem sair de casa.

Donos da hamburgueria Frank & Charles e do restaurante The Kitchen, em Higienópolis (região central de São Paulo), Marcelo Campos, 47, e Daniela Pilar, 45, começaram a entregar kits para confraternizações online.

“Um dia uma amiga comentou que estava fazendo happy hours virtuais e então pensamos em oferecer aos integrantes as mesmas entradinhas e bebidas para degustarem a distância”, conta Marcelo. A ideia agradou a clientela, avisada pelas redes sociais.

Para a estratégia funcionar, a cada festa virtual, motoboys contratados pelo aplicativo Loggi saem do The Kitchen rumo às casas dos participantes, entregando o kit na hora marcada, quando o grupo está conectado por videoconferência. Em geral, o cardápio é composto por hambúrgueres, petiscos e sobremesas.

Em abril, quando o serviço iniciou, foram 18 festas, que asseguraram uma entrada de R$ 12.600, equivalente a 6% do faturamento total, de R$ 212 mil. Antes da pandemia, eram R$ 350 mil a cada mês.
“Consideramos esse resultado superfavorável, porque conseguimos manter a equipe e o negócio”, afirma Daniela.

Em média, a cada ano são gastos R$ 17 bilhões em casamentos, aniversários, formaturas e outras ocasiões festivas no Brasil. Mais R$ 230 bilhões vêm dos eventos corporativos, fora congressos e feiras. Esse dinheiro movimenta um setor composto majoritariamente por micro e pequenas empresas.

Oghan arruma sacola. Em volta deles, outros pacotes em uma mesa. Atrás, uma parece de lousa com mensagens escritas
Oghan Teixeira, sócio do bufê Ghee Banqueteria, que está preparando pratos para delivery, na sede da empresa, em São Paulo - Gabriel Cabral/Folhapress

Há 12 anos no serviço de bufê para casamentos, festas e eventos corporativos, a Ghee Banqueteria faturava R$ 450 mil mensais antes da pandemia. Em abril foram R$ 80 mil.

O dinheiro entrou graças a novos serviços que a empresa passou a oferecer, entre eles menus para datas especiais, como o Dia das Mães, kits para minifestas infantis e delivery de refeições individuais para quem está em home office.

“Estamos operando no prejuízo, mas é uma diferença administrável. Tudo me diz que as pessoas vão continuar em home office por mais tempo, e o delivery seguirá crescendo. Minha expectativa é de logo alcançar os R$ 120 mil mensais”, conta o gastrônomo Oghan Teixeira, 38, sócio do chef Paulo Neves, 43, na empresa, sediada no bairro paulistano da Aclimação.

Até agora, os empresários não precisaram demitir funcionários. Para atrair mais clientes, eles deixaram de cobrar frete, reduziram preços e simplificaram ingredientes.

Especializada na decoração de festas, Patricia Meneses, 34, da Paty Party, de São Paulo, passou a vender kits para celebrações com até três pessoas. “O conjunto inclui a decoração da mesa, salgadinhos, doces e bolo. E serve para não deixar passar em branco os aniversários das crianças”, diz ela, que já organizou uma dezena de eventos desse tipo ao longo de um mês e meio.

Segundo Patricia, sua receita caiu de R$ 35 mil para R$ 8.000 mensais, mas foi acompanhada pela queda nos custos. “O maior problema é que estou comprando tudo no varejo, pelo dobro do preço que pagava no atacado, então meu lucro diminuiu uns 35%.”

Ela confia que seu novo produto, o qual batizou de petit festa, deve continuar atraindo interessados depois da quarentena. “O preço é inferior ao de uma festa tradicional.”

Setor organiza volta gradual às atividades pós-isolamento

Uma pesquisa online conduzida pela Abrafesta (Associação Brasileira de Eventos) indica que 7% das confraternizações sociais e corporativas que aconteceriam no país entre a segunda quinzena de março e o final de junho foram canceladas. A maioria, 93%, foi adiada.

Os dados, preliminares, sugerem que os consumidores se aliaram aos fornecedores e, em vez de pedir a devolução de valores, estão transferindo compromissos para o segundo semestre ou 2021.

“Estamos insistindo com os noivos para que eles remarquem, porque, do contrário, não vai sobrar quase ninguém no setor”, diz Juliana Monsó, da assessoria para casamentos Hora do Buquê, em que é sócia do marido, Rodrigo Monsó, ambos de 40 anos.

A principal dúvida de quem tira o seu sustento de festas é saber quando elas serão autorizadas —e como. As datas virão dos governos, mas, enquanto isso, entidades setoriais trabalham em protocolos para evitar o contágio pelo novo coronavírus.

“A flexibilização do isolamento social acontecerá aos poucos. Em um primeiro momento, imagino que todos precisarão usar máscaras, teremos um limite de participantes e talvez existam restrições a idosos”, diz Ricardo Dias, presidente da Abrafesta.

Até lá, ele planeja treinar e certificar toda a cadeia produtiva para atender às recomendações do protocolo que a entidade elaborou.

A associação está organizando encontros com empresários para tirar dúvidas e planejar ações para o setor, entre elas lives com DJs a fim de arrecadar fundos para 2.500 trabalhadores autônomos, como garçons e motoristas.

Quem também quer organizar apresentações musicais é a Hora do Buquê, que está formatando um projeto para condomínios residenciais de grande porte. “É uma forma de levar alegria a quem está trancado em casa”, diz Juliana.

A ideia não deve trazer lucro, mas ajudaria a manter o setor em evidência. Por enquanto, o caixa da assessoria está positivo. “Como não cobramos à vista, estamos recebendo parcelas por serviços iniciados meses atrás.” Graças a isso, a queda no faturamento não passou de 30%.

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