Baixo custo e trabalho remoto impulsionam microfranquias

Procura pela modalidade em portal cresce 14% entre meses de junho e agosto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo e Los Angeles

No atual momento de instabilidade econômica, o setor de microfranquias —com investimento inicial abaixo de R$ 90 mil— tem chamado a atenção de empreendedores, atraídos pelo baixo custo, risco reduzido e oferta de melhores condições de pagamento.

Quando adquiriu uma franquia da Ceopag, em fevereiro, o empresário Gabriel Soares, 25, de Jundiaí (SP), já observava o avanço do coronavírus e esperava enfrentar uma economia turbulenta.

Ainda assim, resolveu apostar no seu conhecimento em marketing digital —ele mantém uma agência há três anos— para tocar o negócio de maquininhas e métodos de pagamento.

Além do baixo custo inicial, outra vantagem, segundo Soares, é poder fazer a divulgação e as vendas sem necessidade de contato físico.

Devido à quarentena, a marca, que tem representantes em 24 estados, passou a permitir, a partir de julho, que os novos franqueados parcelassem o investimento inicial de R$ 10 mil em até 12 vezes.

“Fizemos isso para viabilizar o negócio. É preciso entender a situação delicada do país”, diz o presidente da Ceopag, Kawel Lotti. De acordo com o empresário, o baixo risco também tem sido um fator determinante para o interesse no modelo de negócio.

Entre junho e agosto, a busca por esse tipo de franquia cresceu 14% no Portal do Franchising, site mantido pela ABF (Associação Brasileira de Franchising), em relação aos três meses anteriores, de acordo com a diretora de microfranquias da entidade, Adriana Auriemo.

“Neste momento conturbado, as pessoas estão receosas de investir. Com a microfranquia, elas se sentem seguras porque, além do baixo investimento, a pessoa tem menos chance de errar graças ao suporte da franqueadora.”

Outro ponto positivo, segundo Auriemo, é que boa parte das microfranquias permitem trabalhar de casa.

O ex-correspondente bancário Alexandre Peloi, 45, já era franqueado da É Seguro havia quatro meses quando a pandemia começou.

Diferentemente de empresas de outros setores, porém, foi a partir daí que seu negócio decolou, devido à alta procura por seguros de saúde.

“Se você pegar uma franquia grande e seu produto não der certo, pode perder tudo. Já algumas microfranquias oferecem flexibilidade e uma gama maior de opções”, afirma.

Alexandre Peloi, franqueado da É seguro, no escritório que está montando no Tatuapé, zona leste de SP - Lucas Seixas/Folhapress

O empreendedor está às vésperas de concluir a reforma do novo escritório no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Como seu plano de franquia inclui apenas o home office, o aluguel e a mudança do local de trabalho, hoje improvisado em sua casa no Belenzinho (também na zona leste), ficam por sua conta.

A alta procura também tem estimulado empresas a aderir ao modelo. Após observar um aumento da demanda por seu serviço de atendimento em casa, a rede de spas urbanos Buddha Spa resolveu que este é o melhor momento para implementar um plano de microfranquias, ideia ventilada na empresa desde antes do coronavírus.

“Nosso cliente não consegue viver sem o toque humano. Como as pessoas buscam um formato conveniente, estando em casa, decidimos lançar o modelo”, diz o diretor-executivo Gustavo Albanesi.

Investimentos de baixo valor e risco reduzido devem continuar sendo a tônica do mercado inclusive no pós-pandemia, quando o dinheiro continuará escasso, diz o economista e consultor do Sebrae Sergio Dias.

“O cuidado em investir pouco e acertadamente deve predominar. É nesse cenário que as microfranquias ganham mais espaço e se tornam uma alternativa atrativa de investimento”, afirma Dias.

Segundo Dias, enquanto áreas como serviços automotivos e comunicação digital têm crescido, outras devem ser evitadas. É o caso dos setores de entretenimento e turismo —este fortemente presente entre as franquias de menor investimento.

Auriemo, que é fundadora da rede de castanhas Nutty Bavarian, alerta que, se o empreendedor não fizer uma pesquisa prévia sobre o negócio ao qual quer aderir, o risco de não dar certo é grande. Ela recomenda deixar uma margem de recursos para o caso de a franquia não ir tão bem quanto o esperado.

Na contramão da tendência de alta, a Mr. Kids, empresa de máquinas de brinquedos infantis que atua há dez anos com microfranquias, viu a procura cair devido às restrições e ao fechamento de pontos de venda.

Houve queda de faturamento inclusive nos pontos instalados em mercados, que permaneceram abertos.

Em março, o professor de educação física Marcio Takeda, 34, gastou R$ 18.700 para instalar uma máquina num mercado em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), para complementar a renda.

No início, seu retorno foi baixo, mas a flexibilização tem feito o faturamento aumentar nos últimos meses. Segundo a Mr. Kids, o volume de vendas em agosto chegou a 80% do previsto antes da Covid-19.

Recentemente, na tentativa de elevar os ganhos, Takeda transferiu sua operação para um mercado de maior movimento. Ainda assim, ele diz não ter pressa.

“Não é meu rendimento principal, é uma renda extra. Como o custo foi muito baixo, mesmo que só comece a ter lucro bem mais para frente, não tem problema.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.