Coworkings recebem empresas que reduziram escritórios na quarentena

Mercado tem mudança na demanda de clientes depois de queda drástica causada por contratos cancelados e baixa taxa de ocupação

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São Paulo

Se até fevereiro o mercado brasileiro de coworking vivia momentos de euforia, com a chegada da pandemia o cenário mudou de forma drástica: contratos foram cancelados, o faturamento caiu e, com o retorno gradual, o perfil da demanda e dos clientes mudaram —chegam agora, por exemplo, empresas que desmontaram seus escritórios no início da quarentena.

Fernando Aguirre, 33, cofundador da plataforma Coworking Brasil, que funciona como uma espécie de Airbnb para aluguel de espaços de trabalho compartilhado, lembra que os números eram animadores no início do ano. “Havia uma explosão no mercado. Muitos gestores estavam abrindo novas unidades”, conta.

 Cayrê Abuassali, sócio do Plug Coworking
Cayrê Abuassali, sócio do Plug Coworking - Divulgação

A partir de março, a maioria dos contratos foi cancelada e, dos 820 espaços do portfólio da Coworking Brasil, 33 cerraram as portas definitivamente, 13 deles no Estado de São Paulo. Cayrê Abuassali, 36, sócio do Plug Coworking, é um dos que conseguiram resistir.

Até pouco antes do início da quarentena, ele registrava uma taxa de ocupação de 85% nas duas unidades paulistanas, uma em Pinheiros e outra no Centro. Cada uma tem 250 posições de trabalho e abrigava principalmente startups, que assinavam contratos de seis a 12 meses de duração.

De um dia para o outro, porém, Abuassali viu o faturamento despencar 60%. “Cerca de 40% dos contratos foram cancelados. Com as empresas que ficaram, precisei conceder descontos de até 40%.”

O mesmo aconteceu às duas unidades do Estação Coworking, em Pinheiros e na Vila Madalena, que somam 126 posições de trabalho. A taxa de ocupação, que era de 80% em fevereiro, caiu para 10%.

“A grande vantagem do coworking, que é a flexibilidade dos contratos, tornou-se também nossa vulnerabilidade. Quando veio a crise, todos cancelaram seus planos facilmente”, diz Maria Machado, sócia do Estação.

Aos poucos, porém, o setor está recuperando o otimismo. Segundo Aguirre, as buscas por espaços na plataforma, em junho, cresceram 17% em relação ao mês anterior —e, de lá para cá, têm aumentado em média 10% ao mês.

Os novos pedidos de orçamentos, diz Abuassali, são principalmente de empresas que desmontaram seus escritórios no início da quarentena, para cortar custos, e agora planejam uma retomada gradual.

“Muitas precisam reagrupar seus times novamente, mas ainda se sentem inseguras para alugar uma sede própria. Pode acontecer uma nova onda de contágio, ainda não é hora de tomar decisões definitivas”, ele avalia.

O que Abuassali e Machado já puderam constatar é que as demandas dos clientes estão mudando. Cresce a procura por espaços mais enxutos e a negociação tem sido mais dura —sai na frente quem oferece políticas de descontos mais agressivas.

O cliente individual, que andava meio sumido dos coworkings, tende a voltar em maior número. “Embora os espaços de coworking tenham nascido em função desse perfil de cliente, houve uma queda expressiva dessa demanda de 2018 para cá. Agora, eles começam a voltar porque várias empresas mantiveram o home office, mas nem todo mundo consegue produzir bem em casa”, afirma Aguirre.

Outro tipo de contrato, que era raro e tem se tornado frequente, é o que concede ao cliente apenas um endereço comercial e fiscal –ele serve ao empreendedor que trabalha em casa, mas não tem permissão da prefeitura para registrar o CNPJ no endereço da residência.

No Estação Coworking, o serviço custa R$ 130 por mês. “Nós registramos a empresa em nosso endereço, recebemos ligações e correspondência e passamos recados. Se o empreendedor precisar usar alguma instalação do coworking, paga R$ 18 por hora ou R$ 120 pela diária”, diz Machado.

Sala de reuniões do Estação Coworking, em Pinheiros
Sala de reuniões do Estação Coworking, em Pinheiros - Divulgação

Ela também aposta no aumento de demanda por reuniões online –gestores que precisam de internet de alta velocidade estão alugando salas de reunião, a partir de R$ 40 por hora, e fazem de lá a transmissão.

Para receber os clientes presenciais que começam a voltar, os coworkings foram obrigados a cortar os postos de trabalho pela metade, reduzir o horário de funcionamento e investir pesado na desinfecção dos ambientes.

No Plug, pontos de alto contato, como interruptores e maçanetas, são limpos com álcool de hora em hora. Há kits de higienização em pontos estratégicos e todos os usuários têm a temperatura medida antes de entrar.

A conta, garante Abuassali, ainda não fecha, mas ele está otimista.

“Espero um movimento rebote nos próximos meses. Empresas que cortaram custos de forma radical serão obrigadas a rever decisões, porque não existe cultura empresarial sem contato físico. E o coworking é um recomeço natural.”

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