Feira de franquia virtual amplia acesso, reduz custos e encurta tempo de negociação

Formato online veio para ficar, mas não substitui modelo presencial, segundo especialista

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Danae Stephan
São Paulo

Ferramenta importante na divulgação e concretização de novos negócios, o calendário de feiras do setor de franquias teve que se adaptar à pandemia. A impossibilidade de reunir visitantes e expositores levou os organizadores a acelerar um processo que, garantem, era inevitável: a transformação digital.

“No começo da quarentena, tentamos adiar as feiras para o final do ano, mas com a proibição de eventos com mais de 500 pessoas, a saída foi centrar esforços nos canais online”, diz Keller de Paula, diretora de marketing e relacionamento da ABF (Associação Brasileira de Franchising), entidade que organiza a feira mais importante do setor.

Homem sentado em frente a um laptop olha para a câmera
O empresário Ricardo Branco, diretor-executivo da Feira Virtual de Franquia, em seu escritório, em São Paulo - Lucas Seixas/Folhapress

“Até a pandemia, a digitalização era vista como uma tendência para os próximos quatro ou cinco anos. O que aconteceu foi o encurtamento desse período para algumas semanas”, diz Beto Filho, presidente da ABF Rio.

Isso só foi possível, segundo ele, porque o Brasil e o mundo fizeram um curso online intensivo nos últimos meses. “As pessoas não eram acostumadas com o virtual. Hoje, qualquer vovozinha já sabe trocar a salada por batata no pedido de comida”, diz Beto Filho.

Para sua estreia no formato 100% online, a entidade organizou um projeto-piloto regional, que aconteceu no mês de agosto, em Goiânia (GO). Participaram 30 marcas, que geraram mais de 200 agendamentos. Houve mais de 9.000 acessos à plataforma durante os três dias de evento e cerca de 20 mil no mês.

“Nosso objetivo é chegar a 200 expositores por regional”, diz de Paula. A edição nacional de 2019, no formato físico, recebeu mais de 65 mil visitantes para os cerca de 400 expositores.

Já a Feira Virtual de Franquias, iniciativa independente do produtor Ricardo Branco, está em sua sexta edição. “Em 2019, organizei 16 edições físicas pelo Brasil, e já sentia que o modelo cabia muito bem no online”, diz Branco. “Quando chegou a pandemia, fechei uma parceria com o Henrique Mol, do Encontre sua Franquia, e lançamos a feira virtual.”

Com escala muito menor que as da ABF, Branco conseguiu aumentar seu público de cerca de 600 visitantes para mais de 3.500.

As vantagens desse formato são expressivas. Para os expositores, o custo é até 20 vezes mais baixo, o tempo de negociação é menor e o alcance não fica restrito ao local de realização da feira.

Para os investidores, além da economia de tempo de deslocamento, há maior facilidade de acesso a informações e agendamentos e possibilidade de participação fora do horário da feira.

E os eventos online ainda amenizam um ponto crítico de todo tipo de feira, virtual ou presencial: o “no show”, ou não comparecimento, que pode chegar a 70% nas presenciais, de acordo com Branco.

“A gente mede o ‘no show’ no mundo todo, e ele fica numa média de 40%”, diz Renato Ticoulat, da Limpeza com Zelo, braço da JanPro, que atua em mais de 15 países.

Na Feira da Franquia Virtual, esse número tem variado entre 20% e 30%, de acordo com os organizadores.

O custo reduzido abre oportunidades para marcas como a Casa de Bolos, rede inaugurada em 2010, que participa pela primeira vez de uma feira da ABF.

“Nossa franquia é voltada para pequenos empreendedores, que têm um perfil mais sonhador do que investidor, e dificilmente estarão em uma grande feira presencial”, diz Fabrício Marcos Ramos, diretor comercial da rede que conta 380 unidades pelo Brasil.

“Também percebemos que nos grandes eventos, a maior procura é por unidades no Rio e em São Paulo, onde não temos mais capacidade de expansão”, diz. No final deste mês, a marca participa da ABF Expo Digital direcionada à região Norte, única onde a rede ainda não atua.

Para Dennis Szaf, 47, da microfranquia Linked, a regionalização é um ponto que ainda precisa ser trabalhado. “Participei de uma feira em Minas onde tinha vários interessados de São Paulo e de uma feira em São Paulo onde os interessados eram de Minas. Para mim isso é ótimo, já que minha marca é nova. Mas futuramente pode vir a ser um problema”, afirma Szaf.

“Isso pode ser resolvido com uma campanha de comunicação bem focada e direcionada para a região”, diz Fabiana Trevisan, especialista em live marketing. É o caminho seguido pela ABF, que contrata serviços de assessoria de imprensa e marketing locais, faz parcerias com entidades regionais e foca sua divulgação em veículos da área.

Para Ticoulat, da Limpeza com Zelo, a qualidade dos candidatos que chegam por canais virtuais é pior do que nas feiras presenciais.

“Eles vêm com mais conhecimento, sabem tudo da sua empresa, mas estão muito menos preparados para a franquia”, diz. Contraditoriamente, o tempo de negociação até o fechamento do contrato na rede de limpeza caiu de seis meses para 45 dias.

A principal desvantagem dessa migração para o virtual é a falta de contato, do olho no olho, tão caro aos negociantes. “Nada vai substituir o contato físico. No futuro pós-pandemia, as feiras, assim como os eventos em geral, serão híbridas”, diz Trevisan.

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