Instituições de ensino ajudam pequenos empresários a vencer a crise

Faculdades oferecem consultorias gratuitas e até deixam empreendedor assistir às aulas

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São Paulo

Para ajudar micro e pequenas empresas durante a pandemia de coronavírus, instituições de ensino têm oferecido consultorias, capacitação e planos de reestruturação gratuitos a empresários.
A ajuda vai desde seminários online, promovidos por departamentos das instituições, até iniciativas de empresas júnior, formadas por alunos.

Na Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), em São Paulo, a iniciativa abrange seminários online, com professores respondendo a dúvidas específicas de empresários, e projetos de reestruturação de negócios afetados pela crise, discutidos na sala de aula com a ajuda dos alunos de graduação em administração. Neste último programa são atendidas seis empresas.

“Os estudantes têm projetos para solucionar os problemas reais dos negócios. Há casos em que o dono assiste às aulas e discute soluções”, diz Edson Barbero, coordenador do centro de empreendedorismo e inovação da faculdade.

O chef e empresário Padu Lima, 38, dono da hamburgueria Melts, prepara os produtos do seu negócio
O chef e empresário Padu Lima, 38, dono da hamburgueria Melts, prepara os produtos do seu negócio - Keiny Andrade/Folhapress

Um desses empresários é Padu Lima, 38, proprietário da hamburgueria Melts, na Liberdade, no centro de São Paulo, muito afetada pela crise.

O empresário está à frente do negócio há sete anos. Antes, a loja faturava R$ 100 mil por mês, cifra que caiu para R$ 20 mil. Tinha 15 funcionários e precisou demitir dez. Ele conta que pensou em entregar o ponto antes de participar do programa, cuja existência descobriu após comentar com conhecidos da universidade sobre sua situação.

“Eu precisava de um olhar de fora. Fico mergulhado na operação em si e preciso de ajuda para entender outras coisas, como precificação e divulgação dos produtos”, conta.

Durante as aulas, remotas por causa da pandemia, Padu responde perguntas dos alunos, que tentam ajudá-lo.

“Quando falei que eu mesmo preparava, em casa, os produtos da hamburgueria, um estudante me disse que eu precisava de alguma maneira comunicar isso para os outros, aí comecei a divulgar no Instagram vídeos nos quais ensino a fazer os pratos. O engajamento e o número de seguidores quase dobraram”, conta.

As coisas ainda não são como já foram, mas, com a ajuda da instituição, Padu tem conseguido tocar o negócio.

Na ESPM-RS, a ajuda é dada de outra maneira: pelas empresas júnior (instituições sem fins lucrativos formadas por alunos de determinado curso). A Fejers (federação gaúcha das júniors) fez um edital e selecionou quatro empresas do estado para auxiliar durante a crise, gratuitamente.

Com o apoio de parceiros, a federação paga as empresas de estudantes, que oferecem o serviço, geralmente cobrado, gratuitamente ao cliente final.

No caso da ESPM, seus alunos de administração ajudam, em parceria com alunos de engenharia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), uma empresa de vinhos e espumantes de Torres, no litoral do estado.

“Eles perderam muitos clientes e tinham juros de empréstimos se acumulando cada vez mais. Conversamos com a dona e pensamos em ações de curto prazo para a sobrevivência”, conta Bruno Jacques, 20, diretor comercial na empresa júnior da ESPM. O projeto durou oito semanas.

Outras instituições focam nichos específicos. Na USP (Universidade de São Paulo), a professora Jane Marques toca projeto de capacitação, cuja semente já existia antes da pandemia, mas que teve de ser reinventado por causa dela.

O programa abrange 30 empreendedores do setor criativo que moram na periferia. Há pessoas de áreas como artesanato, design, gastronomia e até uma empresária de funkeiros.

Por causa da crise, a ordem das aulas da capacitação, que começou em agosto, foi alterada. Os empresários pediram para aprender primeiro como se comunicar com seus clientes. Além disso, nem todos têm acesso fácil à internet. Por isso, todas as reuniões virtuais são gravadas.

“Me preocupo com empreendedores que realmente têm necessidades. Esses que sofrem mais na crise. Não precisamos dar mais formação para quem já tem”, diz Jane.

Paralelamente, ela conseguiu por meio de um edital da universidade com apoio do Santander, verba para criar um glossário, que será lançado na terça (20), simplificando termos do mercado, muitas vezes em inglês.

Na FGV (Fundação Getúlio Vargas), o foco também é periferia. Além de workshops e consultorias por meio de lives, a fundação conseguiu, em parceria com o banco Pérola, viabilizar empréstimo a juro zero de R$ 15 mil a 55 empreendedores periféricos.

O projeto, chamado Volta por Cima, aconteceu no início da pandemia. Segundo Edgar Barki, coordenador de empreendedorismo da FGV, a ideia é retomar as lives em breve.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado anteriormente na legenda que acompanha a foto do empresário Padu Lima, ele tem 38 anos, não 37. A informação foi corrigida. 

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