Número de empresas inadimplentes cai durante período de pandemia

Circulação do auxílio emergencial e cadastro positivo ajudam a explicar fenômeno

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Ricardo Bunduky
São Paulo

O número de empresas inadimplentes no Brasil caiu durante a quarentena, ao contrário do que aconteceu em outras crises, segundo pesquisa da Serasa Experian.

Os dados mostram que em agosto havia 5,5 milhões de micro e pequenos negócios nessa condição no país, contra 5,8 milhões em fevereiro, antes da pandemia.

Segundo Fernanda Monnerat, diretora de pequenas e médias empresas da Serasa, o fenômeno passa por três fatores: mais crédito no mercado gerado pelas medidas emergenciais do governo, a inclusão automática do cadastro positivo nos birôs e circulação do dinheiro do auxílio emergencial no mercado.

De acordo com Monnerat, as empresas que emprestam aos negativados são apenas aquelas com maior disponibilidade para arcar com a inadimplência. E, quanto mais alta for a nota de risco da pessoa, maior será a taxa de juros e menor o número de parcelas de seu financiamento.

Martin Kovensky

As financeiras ainda exigem desse público garantias reais, como imóveis ou veículos.
Segundo o professor de economia da USP (Universidade de São Paulo) Paulo Feldmann, essa opção é rara em grandes bancos. “Se a pessoa conseguir, pode pagar uma taxa de juros muito alta”, diz.

O banco Daycoval diz ter aumentado empréstimos a negativados em 200% por meio da linha emergencial Peac FGI (fundo de garantia aos bancos), do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A instituição afirma receber cerca de mil pedidos diários pela linha. Totalmente online, o produto oferece crédito de até R$ 700 mil sem exigir garantias nem consulta a certidões negativas. O financiamento tem prazo de cinco anos, com seis meses de carência e juros mensal começando em 1,70%. Podem pleiteá-lo empresas com faturamento anual a partir de R$ 500 mil.

Na última quinta (1º), o BNDES lançou o programa Peac Maquininhas, destinado a MEIs e que usa as vendas futuras das máquinas de cartão como garantia. A linha vai oferecer crédito de até R$ 50 mil a juros fixos de no máximo 6% ao ano. Após receber o dinheiro em conta, o tomador tem até três anos para pagar, incluindo seis meses de carência. O programa se estenderá até o dia 31 de dezembro.

Para Feldmann, apesar das linhas do governo garantirem até 100% do empréstimo à instituição financeira, como no Pronampe, os bancos não aumentaram o espectro de tomadores de crédito, porque, em caso de inadimplência, têm de arcar com despesas para cobrar os clientes e temem demora para acessar o fundo governamental.

O estudo “Impactos da Covid-19 nos pequenos negócios”, feito por Sebrae e FGV, apontou alta na taxa de empresários que conseguiram empréstimos durante a pandemia, passando de 8% em março, para 22% em agosto.

Para Carlos Melles, presidente nacional do Sebrae, o número ainda é baixo. A conclusão é que as instituições priorizam empresas com as quais já mantinham relacionamento, e mudaram pouco os critérios da análise de risco.

Ele atribui o aumento na taxa de sucesso dos empresários ao crédito orientado, que é quando o empreendedor assume compromissos de qualificar a gestão e melhorar a produtividade. “Parece ser uma tendência que veio para ficar”, afirma.


O crédito para negativados na quarentena

22%
das empresas que pediram empréstimo em agosto conseguiram

24%
dos empréstimos foram recusados por causa de restrições ao CPF ou CNPJ do tomador

33%
das empresas tinham dívidas em atraso

5,8 milhões
de micro e pequenos negócios estavam negativados em fevereiro, antes da pandemia

5,3 milhões
estavam nessa situação em agosto

Fontes: Serasa Experian, Sebrae e FGV

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