Professores empreendem, viram consultores e ampliam atuação

Planejamento, ter boa noção do mercado e saber balancear agendas das duas profissões são essenciais para empreitada

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São Paulo

Abrir negócios de consultoria tem se mostrado um caminho cada vez mais comum no Brasil para professores universitários.

Docentes que empreendem na área, entretanto, afirmam que, enquanto o conhecimento e o reconhecimento adquiridos no meio acadêmico ajudam a conseguir uma posição nesse mercado, ter experiência prévia como consultor ainda é um fator essencial para ser bem-sucedido.

Creomar de Souza, 44, era professor de ciência política e relações internacionais na Universidade Católica de Brasília quando decidiu fundar, em 2018, a Dharma Political Risk and Strategy, uma consultoria que oferece serviços de análise de riscos políticos para empresas.

Pedro Zanni, 42,  professor da FGV e sócio da Nodal Consultoria, no sítio onde improvisou um escritório, em Vinhedo (SP)
Pedro Zanni, 42, professor da FGV e sócio da Nodal Consultoria, no sítio onde improvisou um escritório, em Vinhedo (SP) -  Keiny Andrade/Folhapress

“Sempre tive vontade de fazer algo mais. Algumas vezes, identificava em nós, professores, uma dificuldade de transportar aspectos práticos da atividade profissional para o dia a dia do ensino universitário”, conta Souza, que atua na área acadêmica desde 2006.

Mesmo antes de abrir a própria empresa, ele já se mantinha envolvido em atividades de consultoria e projetos fora da universidade.

Souza diz que esses esforços, assim como tentativas anteriores de iniciar um negócio, foram importantes para preparar o terreno para a fundação da Dharma, ainda que algumas dessas iniciativas não tenham dado certo.

“Se você não está falhando, quer dizer que não está inovando o suficiente”, afirma, fazendo referência a uma citação do presidente-executivo da Tesla, o bilionário sul-africano Elon Musk.

No caso de Marcelo Acha, 56, professor das Faculdades Integradas Silva e Souza e sócio da consultoria ambiental Planar, as experiências anteriores como consultor o ajudaram a se guiar melhor e desviar de algumas cascas de banana desse mercado.

“Conheci o ambiente de uma empresa de consultoria ainda como estagiário e isso foi muito importante para mim”, conta.

Buscar experiência prática e teórica na área de atuação é um dos principais ingredientes para que professores não tenham grandes problemas ao abrir consultorias, recomenda o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Wilson Poit.

Segundo ele, muitos docentes têm procurado a entidade em busca de auxílio no planejamento e na gestão de negócios de consultoria, um caminho que Poit diz considerar natural para quem leciona em uma determinada área.

Gabriel Cabral/ Folhapress Produção: Aline Prado

De acordo com ele, alguns aspectos essenciais para o sucesso dessa empreitada são fazer um planejamento, ter uma forte noção do mercado e saber balancear as agendas das duas profissões, que têm características distintas.

Para exemplificar esse último ponto, Poit separa os professores-consultores em dois grupos: as galinhas e as águias.

“A galinha voa para todo lado a semana inteira e não consegue fazer nada bem. Já a águia escolhe seus alvos, aprende a dizer não e prioriza o essencial, sem perder tempo com coisas pequenas.”

Para o professor de estratégia empresarial da FGV (Fundação Getulio Vargas) e sócio da Nodal Consultoria, Pedro Zanni, 42, a flexibilidade da agenda é um dos fatores que atraem os docentes para a carreira de consultor.

Ele mesmo conta que precisou recalibrar aos poucos o tempo que dedica à sala de aula, de forma a poder desenvolver suas atividades na consultoria. Hoje, diz que 10% de seu expediente é tempo suficiente para dar conta das atividades acadêmicas.

Embora diga que a carreira acadêmica ajuda a construir a reputação daqueles que se aventuram no setor, o docente classifica como mito a ideia de que o trabalho universitário facilita a atração de clientes para a consultoria.

“Só 3% dos meus clientes vieram das aulas. No campo de estratégia empresarial, as companhias querem alguém com perfil de consultor, não de professor” afirma Zanni, que durante a pandemia tem dado aulas a distância e atuado na consultoria a partir de um escritório ao ar livre, improvisado num sítio em Vinhedo, interior de São Paulo.

Ao voltar para o Brasil após deixar o cargo de professor de ciência política na Universidade da Califórnia, em 2016, Felipe Nunes, 37, fundou a consultoria política Quaest. Hoje diretor-executivo da empresa e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), ele destaca a complementaridade das profissões.

“Sempre quis transitar entre os universos. É um modelo que permite trazer os problemas do mundo real para a universidade e levar os debates acadêmicos para o mercado.”

“Não sei qual lado alimenta mais o outro”, diz a professora de gerenciamento de projetos da FGV e sócia da consultoria XMBA, Lorena Benchimol, 43, que leva com frequência à sala de aula exemplos que vivenciou como consultora.

Para ela, apresentar resultados positivos como consultor é mais importante do que a experiência acadêmica. “O cliente quer ver seu portfólio. A experiência é o que pesa mais no mercado.”

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