Veja os cuidados necessários antes de comprar uma microfranquia

Investimento é de até R$ 90 mil, mas responsabilidades do franqueado e deveres da franqueadora são iguais aos modelos mais caros

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São Paulo

Com investimento inicial de até R$ 90 mil, as microfranquias são opção atraente para quem quer empreender e não tem experiência prévia nos negócios ou muito dinheiro para gastar na empreitada.

Elas têm os mesmos benefícios das franquias tradicionais: o franqueado passa a fazer parte de uma rede, recebe treinamento e apoio para montar o negócio, passa a usar uma marca já conhecida e se beneficia de custos menores com fornecedores, já que a franqueadora compra em grande escala.

Mas as microfranquias também têm os mesmos deveres das franquias maiores, com taxa de entrada, pagamento de royalties e de fundo de publicidade, além de ter que seguir as diretrizes da franqueadora, ou seja, o empresário não pode tocar seu negócio seguindo somente a própria vontade.

Antes de buscar uma empresa para investir, o primeiro passo é entender se o interessado em ser franqueado realmente tem perfil empreendedor, dizem especialistas na área.

Muitas microfranquias não têm funcionários: é o próprio dono do negócio que atua em todas as atividades. Sem ser proativo e estar disposto a se dedicar, a empreitada não vai para a frente.

Não adianta gostar de uma determinada marca ou setor para ser franqueado dela. É preciso saber se a demanda e o tipo de trabalho que aquele negócio exige se encaixam no perfil e nas expectativas do futuro franqueado.

Sobre fundo rosa há vários quadrados com desenho de fechada de loja, interligados com fios, como em uma rede
oatawa/Adobe Stock

“Às vezes a pessoa ama o setor de alimentação, mas o operacional é muito pesado para ela. Tem franqueadora que exige dedicação só em horário comercial, já outras pedem para trabalhar de final de semana e feriado. Tem que levar tudo isso em consideração”, diz Caroline Olim Kerry, advogada especializada em direito empresarial com foco em franchising, do escritório Novoa Prado.

Para fazer essa análise de perfil é preciso primeiro pesquisar as empresas pelas quais o empreendedor se interessa e entender como elas funcionam, o que também ajuda a evitar as ciladas.

Como explica Kerry, há empresas que vendem franquias mesmo antes de terem testado se o modelo é viável, uma vez que não são obrigadas a ter um negócio próprio em funcionamento antes de começar a franqueá-lo.

Por isso, é importante pesquisar a reputação das empresas na internet, como em sites de reclamação, e também conversar com outros franqueados. Pesquisar franquias em feiras do setor ajuda a entrar em contato com negócios já estruturados. Se a franqueadora for associada à ABF (Associação Brasileira de Franchising), é indício de que atende às normas do setor.

Também é importante checar se a franqueadora de fato oferece o suporte necessário ao negócio, e não é apenas uma empresa buscando revendedores —e chamando isso de microfranquia.

A franqueadora precisa entregar ao candidato uma lista com nome e contato de franqueados atuais e antigos, que saíram da rede nos últimos dois anos. Buscar essas pessoas é essencial para conhecer o papel que a franqueadora tem, como é o dia a dia da operação e quais são os resultados financeiros.

Segundo Kerry, a atual crise é uma oportunidade para ver como a franqueadora lida com a sua rede em situações adversas. “Quando todo mundo está ganhando dinheiro, todos ficam felizes, mas é nestes momentos difíceis que vemos o suporte que um dá para o outro, e a relação entre franqueado e franqueador se estreita."

A lista de contatos é entregue na COF (Circular de Oferta de Franquia), documento que a franqueadora precisa enviar ao candidato antes de qualquer compromisso ser firmado. A COF deve incluir ainda as regras da franqueadora, a descrição das atividades a serem desempenhadas, todos os custos iniciais do negócio, o balanço financeiro da empresa e a minuta do contrato, entre outras informações.

O candidato deve ter pelo menos dez dias para analisar o documento antes de decidir se fecha negócio com a franqueadora. Nessa hora, afirma Claudia Bittencourt, sócia-fundadora do grupo que leva seu sobrenome e que presta consultoria para franquias, é importante contar com a ajuda de um advogado especializado, para verificar se a empresa atende às exigências legais e se há pontos que precisam ser negociados.

Não é indicado gastar toda a reserva financeira na compra da microfranquia, já que novos gastos podem surgir enquanto o negócio não se paga, o que pode levar mais de um ano. “Se o investimento inicial é de R$ 80 mil e você só tiver esse valor, procure uma franquia mais barata, porque você vai precisar de dinheiro para reinvestir no negócio”, diz Adriana Auriemo, diretora de relacionamento, microfranquias e novos formatos da ABF.

É importante perceber se o valor dado como investimento inicial realmente inclui todos os gastos para começar a operação. Uma microfranquia home based, ou seja, na qual o franqueado trabalha de casa, exige pelo menos boa conexão com a internet, computador e celular. Se a franquia for de vendas ou prestação de serviço em domicílio, pode ser preciso ter um carro para ir até os clientes.

“Às vezes o franqueado não sabe que terá que pagar passagem e hotel para fazer um treinamento, ou o capital de giro não está na planilha de investimento inicial da COF”, afirma Bittencourt.

O investimento menor necessário para começar uma microfranquia também se reflete nos ganhos que o negócio trará. “A pessoa pode entrar iludida, achando que vai investir R$ 50 mil e tirar R$ 10 mil por mês”, afirma Bittencourt. Segundo ela, geralmente os microfranqueados desse tipo ganham cerca de R$ 3.000 a R$ 4.000.

“É preciso pedir para a franqueadora mostrar a projeção de ganhos do negócio. Hoje elas já se preocupam em não deixar o franqueado com perspectiva de ganho errado, porque isso vira um problema no futuro e a pessoa fica desmotivada”, afirma.

Neste momento de pandemia, vale buscar microfranquias de áreas que tenham sido menos afetadas pela crise. “O ideal é que seja algo útil no momento, como serviços de limpeza, de lavagem domiciliar de carros ou de lojas que possam fazer entregas”, diz Bittencourt.

Passar por todas essas etapas minimiza os riscos de se investir em uma microfranquia, mas é impossível empreender sem risco algum. É essencial começar o negócio bem informado e com as expectativas alinhadas ao que a franqueadora pode oferecer, mas imprevistos, como a própria pandemia de Covid-19, acontecem.

“Quanto mais alinhadas estiverem as expectativas, mais chance de sucesso você vai ter”, diz Auriemo, da ABF.

Principais cuidados para o microfranqueado:

–Entender se tem perfil para ser empresário e fazer parte de rede de franquia

–Encontrar uma área de atuação que seja útil no momento, mas com a qual também se identifique

–Ter consciência de que terá que fazer quase todo o trabalho sozinho —e saber quanto tempo e energia isso vai demandar

–Pesquisar histórico da franqueadora, se há muitas reclamações sobre ela na internet e conversar com franqueados e ex-franqueados

–Não investir todo o dinheiro que tem guardado, já que o negócio pode precisar de mais recursos (ou pode dar errado)

–Olhar com atenção a COF (Circular de Oferta de Franquia) e tirar todas as dúvidas sobre a operação do negócio, seus custos e prazo para retorno financeiro

–Saber que todo negócio representa risco, mesmo aqueles com investimento baixo

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