Descrição de chapéu alimentação

Em comida, vender só um produto requer criatividade; conheça 6 negócios de sucesso

Se seguir modismo, empresário deve se preparar para vida curta do negócio

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São Paulo

Quando o assunto é comida, vender um só produto passa uma mensagem clara: sou especialista.
Segundo Simone Galante, presidente da consultoria Galunion, especializada em negócios de alimentação, a estratégia proporciona vantagens ao empreendedor.

​“Quem produz um único item, mesmo que haja variação de sabores, adquire menos ingredientes, o que facilita a operação, aumenta a produtividade e evita desperdícios.”

O formato, ela acrescenta, é facilmente escalável. “O mercado está repleto de redes monoproduto que cresceram porque criaram marcas relevantes e descobriram o canal de vendas ideal para seus consumidores.”

Em contrapartida, o mix limitado de produtos exige criatividade. “É preciso ser autêntico e comunicar muito bem essa identidade ao consumidor. Quanto mais simples o produto, maior o desafio”, diz Léo Texeira, sócio da consultoria NaMesa.

Ele recomenda inovar sempre, sem deixar que o cardápio cresça demais. “No caso do monoproduto, as novidades vêm na forma de sabores que vão se alternando ou de edições sazonais, lançadas em datas específicas”, sugere.

A gestão estratégica do menu, de acordo com Simone Galante, também requer equilíbrio entre itens mais baratos, que turbinam as vendas, e outros com margem de lucro maior, sem deixar de fora as opções para dietas restritivas, que estão em alta.

Quanto a seguir modismos, Texeira diz que é preciso estar ciente de que o negócio pode ter vida mais curta. “Quem opta por negócios com prazo de validade não pode fazer altos investimentos. Nesse caso, atuar só no delivery e produzir em uma cozinha de aluguel pode ser a melhor solução.”

A seguir, adeptos do monoproduto narram a trajetória de seus negócios:

Empanadas

Descendente de argentinos, Juan Ferrante, 41, inaugurou a Juanito’s Empanadas Artesanales em 2014, na capital paulista. No menu, optou por apenas seis sabores do salgado.

“Abri uma loja bacana, com salão, para que eu pudesse receber as pessoas e explicar sobre o produto, que não era tão conhecido aqui”, conta.

Hoje, a Juanito’s tem quatro unidades, sendo três exclusivas para delivery e retiradas. A produção chega a 30 mil empanadas mensais, que custam entre R$ 8,90 e R$ 12,90. O faturamento, em 2020, superou os R$ 3 milhões.

Ferrante está em busca de investidores para expandir a marca com lojas próprias —pretende abrir uma nova unidade a cada três meses, chegando a 25 nos próximos dois anos.

Feijão

A professora de inglês Vinha de Ávila, 55, cresceu em uma fazenda mineira, onde o feijão preparado pela tia era obrigatório à mesa. Na cidade, porém, via que muita gente evitava cozinhar o grão no dia a dia.

“Aquele feijão bom, à moda antiga, envolve várias etapas e dá trabalho mesmo.” Ávila enxergou nisso uma oportunidade de negócio e, em 2018, inaugurou a DaquiÓ.

No Brooklin, zona sul de SP, a loja vende 12 variedades de feijão pronto, fresco ou congelado, com preços de R$ 19 (para dois) a R$ 49 (para oito).

A produção é diária e segue a receita da tia. Também há versões com paio, sopa de feijão e caldinho para bebês. Ela ainda vende 15 tipos de grãos a granel e, duas vezes por mês, às quartas-feiras, prepara feijoada ou cassoulet (feijoada francesa, com feijão branco).

Quem dá sorte de ser atendido pela proprietária recebe uma aula sobre feijões. “Viajo o Brasil atrás de variedades novas. São mais de 90”, diz.

A DaquiÓ vende por aplicativos de entrega, mas a empreendedora diz que 60% dos clientes são das redondezas e vêm pelo boca a boca. Por isso, está à procura de um endereço na zona oeste para uma segunda unidade.

Com faturamento mensal de R$ 6.000, ela conta que tem sido assediada por candidatos a franquias, mas descarta o formato por ora. “Gosto de estar na cozinha e de fazer venda olho no olho.”

Torta

Lá se vão oito anos desde que Juliana Mangione, 38, deixou o trabalho na área de eventos para empreender. Cozinheira de mão cheia, elegeu as tortas como produto único e lançou o serviço de delivery A Torteria.

Os 16 sabores, doces e salgados, eram preparados em uma pequena cozinha alugada.

Em seis meses, a demanda era tamanha que ela e os três sócios tiveram de alugar um espaço maior. “No primeiro ano, crescemos 400%”, conta.

Hoje, a marca tem lojas em Pinheiros, Morumbi e Higienópolis e, em breve, inaugura a unidade do Tatuapé.
Durante a pandemia, com os salões funcionando parcialmente, 40% das vendas são efetuadas por aplicativos de delivery e outros 40% pelo ecommerce próprio.

A produção diária varia entre 200 e 300 tortas, em três tamanhos —as individuais custam de R$ 15 a R$ 22.

O menu ficou mais enxuto. São apenas 12 sabores, entre quiches, tortas abertas e fechadas, mas Mangione turbinou o cardápio com saladas e sobremesas. “A diversificação foi uma estratégia para aumentar o ticket médio nos aplicativos, que hoje chega a R$ 80. Nas lojas, é metade disso.”

Pudim

Formada em gastronomia e hotelaria, Daniela Aliperti, 40, fazia um pudim de leite que arrancava suspiros da família e dos amigos.

Volta e meia surgiam encomendas, que a encorajaram a empreender. Mas a ideia inicial era abrir uma doceria.

“Quando um consultor sugeriu abrir uma loja monoproduto, já que a doceria teria muito mais concorrência, achei loucura.” Mesmo estranhando a ideia, ela e a sócia, Fernanda Nader, 45, inauguraram em 2012 a Fôrma de Pudim. E não é que deu certo?

Na loja física, localizada em Moema, a dupla oferece 12 sabores de pudim em diferentes tamanhos —o de baunilha é o campeão de vendas.

Os minipudins, que Aliperti criou para que a clientela pudesse degustar novos sabores, custam R$ 7. Já os maiores têm preços entre R$ 65 (500 g) e R$ 150 (1,7 kg). Todos são entregues dentro das formas de alumínio e devem ser desenformados pelo cliente.

Se a loja física e os eventos eram os principais canais de venda antes da pandemia, hoje o cenário é outro. As sócias aceitam encomendas via WhatsApp, email e aplicativos —o delivery próprio escoa 85% da produção mensal, de 700 pudins.

Avocado

Versão menor do abacate, o avocado está na moda em vários países. Foi nessa onda que o empreendedor Brendon Peters, 39, quis surfar ao inaugurar, em novembro de 2020, a loja Avoca Toast.

A casa na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, tem como especialidade as avocado toasts —parecidas com bruschettas, são grandes fatias de pão artesanal torrado, cobertas com pasta de avocado e ingredientes variados.

“Como estou no Beco do Batman, um ponto que atrai turistas de outros países, tem sido fácil vender mesmo sem cardápio bilíngue. Já os brasileiros de outros estados são mais desconfiados, porque o abacate sempre foi ligado a receitas doces”, compara.

Os preços variam de R$ 19 a R$ 26. O avocado custa até seis vezes mais do que o abacate comum, afirma Peters, mas tem vantagens. “É mais oleoso, com consistência parecida com a do requeijão. Por isso não deixa o pão encharcado.”

Também está nos planos abrir novas unidades. Ao contrário da matriz, porém, serão exclusivas para delivery.

Brownie

Louco por brownie, Chico Salgado, 34, desenvolveu a própria receita porque não conseguia encontrar um exemplar à altura em Florianópolis, onde vivia em 2013.

Ficou tão bom que ele decidiu anunciar pelo Instagram e vender o doce de porta em porta. Assim nasceu a Browneria.

“Ia ao fórum, oferecia a taxistas, nos pontos de ônibus... Essa fase durou um ano e meio”, lembra.

Em 2014, o empreendedor inaugurou a primeira loja na capital catarinense. Cinco anos depois, desembarcava com sua marca em São Paulo, onde já tem duas unidades próprias em sociedade com a mulher, Carolina Tellechea.

A produção é descentralizada —cada loja fabrica o próprio estoque diariamente. “Já tive uma cozinha central, que trabalhava com grandes quantidades, mas não gostei do resultado. Nesse novo formato, não perco o aspecto artesanal.”

Vendidos em fatias (R$ 7) ou marmitinhas de alumínio (R$ 14), os brownies saem em 20 sabores, dois deles veganos.

Edições especiais são lançadas em datas festivas. Para a Páscoa de 2021, uma das novidades será o ovo de colher com brownie.

Mais da metade da produção mensal, de 25 mil unidades, é distribuída pelos aplicativos de delivery. O restante é vendido pelo ecommerce ou nas lojas físicas.

Salgado só admite mais dois itens na produção: pão de mel e cookie. “Os brownies representam 90% da linha e assim vão continuar. Não quero virar confeitaria e perder minha essência.”

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