Faturamento do mercado pet no país aumenta 13,5% em 2020

Dominado pelas pequenas empresas, setor se beneficia da relação mais intensa com os bichos na quarentena

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Andrea Vialli
São Paulo

O Brasil está entre os três maiores mercados do mundo para produtos pet, atrás apenas de EUA e China. O país encerrou 2020 perto de R$ 40,1 bilhões de faturamento, 13,5% a mais do que no ano anterior, segundo projeção do Instituto Pet Brasil, com base nos dados de mercado até o terceiro trimestre.

A pandemia deu maior tração a um setor que já vinha em crescimento e fortaleceu a tendência de humanização dos animais, com oferta de produtos premium, como rações especiais e itens de higiene que facilitam a convivência entre humanos e bichos de estimação, além de serviços veterinários e de banho e tosa.

O comércio eletrônico, que hoje responde por 4,4% do faturamento do setor (R$ 1,5 bilhão), ganhou impulso no ano passado. O mercado pet é dominado por empresas de menor porte: mais de 90% são pequenas e médias. As grandes redes, que respondem por 10% do faturamento, também tiveram crescimento robusto.

É o caso do Grupo Pet Brasil, holding que abriga seis marcas, entre eles a franquia de pet shops Petland, além de clínicas veterinárias, soluções de pagamento e um programa que ajuda na gestão de pequenos negócios do setor. A empresa fechou 2020 com 217 lojas em 23 estados e faturamento de R$ 180 milhões.

"O animal, que ficava do lado de fora da casa e se alimentava com restos de comida, virou um filho. A humanização ganhou força do ponto de vista do consumidor, e, do ponto de vista do lojista, veio a necessidade de profissionalização", diz Rodrigo Albuquerque, diretor-executivo do grupo.

Já o grupo Petz, com 136 lojas e 114 centros veterinários em todo o Brasil, e o primeiro do segmento a abrir capital na bolsa de valores, faturou R$ 1,7 bilhão em 2020, um crescimento de 46,6% em relação ao ano anterior. Só o canal digital do grupo saltou 341% em comparação a 2019, reflexo do novo hábito dos consumidores durante a pandemia.

Parte do crescimento do faturamento do setor está vinculado à alta do dólar, já que a maioria dos insumos utilizados na produção de rações são commodities negociadas em preços internacionais, além de muitos produtos das categorias premium serem importados.

Outro fator é comportamental. "Isoladas em casa, as pessoas começaram a sentir solidão, o que motivou a escolha pela companhia de um animal e, consequentemente, ampliou o mercado de produtos e serviços associados", diz Nelo Marranccini Neto, presidente do Instituto Pet Brasil.

Um ponto favorável ao setor foi a definição de que pet shops são serviços essenciais, de modo que esses estabelecimentos puderam se manter em funcionamento nas fases mais restritivas da pandemia.

De acordo com Marranccini, quem decidir investir no segmento deve estar atento a algumas tendências que devem se firmar no pós-pandemia. O ecommerce continuará com força, mas os consumidores deverão voltar a comprar preferencialmente em lojas físicas —muitos têm o hábito de passear com seus animais nos pet shops, o que deverá ser intensificado após a vacinação em massa.

A verticalização das cidades também ajuda esse mercado, porque estimula a adoção de animais de pequeno porte que demandam rações especiais e produtos para sua higiene.

Devem ganhar espaço a alimentação com ingredientes naturais e sem conservantes, além de produtos com uma pegada ecológica, como areias sanitárias para gatos feitas de materiais biodegradáveis (fécula de batata e mandioca, fibra de celulose, sabugo de milho, resíduos da indústria de madeira) e recipientes para coleta de excrementos fabricados com materiais que se dissolvem no ambiente.

A percepção de que havia uma lacuna no mercado de banheiros para cães que não deixassem cheiro de urina na casa levou o casal Lara Lorga, 34, e Fábio de Carvalho, 35, a criar um produto que tornasse mais fácil a vida dos tutores.

Após a adoção de duas cadelas da raça golden retriever, eles não se conformavam com a rotina de limpar a casa após cada xixi dos animais. Em 2016, investiram R$ 5.000 para criar um protótipo de um sanitário inteligente, que tinha uma bandeja de madeira revestida em lona plástica e com inclinação, para que o líquido escorresse para o ralo.

A madeira deu lugar a uma chapa de alumínio, onde foi acoplada uma mangueira. A invenção foi testada por um ano, até que o interesse dos amigos fez o casal perceber que era hora de apostar em um modelo comercial, que foi patenteado e passou a ser produzido com fibra de vidro.

Em 2017, nascia a Weasy, que passou a vender o sanitário no ecommerce próprio. O negócio vinha crescendo nos últimos anos, mas a pandemia impulsionou a receita da empresa, que fechou 2020 com faturamento de R$ 7,5 milhões, um aumento de 34% em comparação a 2019.

"Vimos o quanto as pessoas tratam os animais como membros da família, têm recursos para investir no bem-estar deles e demandam produtos práticos e inovadores", diz Lara, sócia da Weasy.

Os sanitários também são vendidos em pet shops de São Paulo e Rio, grandes lojas do ramo e marketplaces. O crescimento da empresa levou ela e o marido a deixar os empregos anteriores, e hoje eles comandam uma fábrica com 18 funcionários e 1.300 m² em Bady Bassitt, no interior paulista.

A Weasy produz também banheiros para gatos (com o mesmo sistema que escoa a urina para o ralo, só que com pedrinhas de argila reutilizáveis) e também uma linha de sacos para coleta e descarte higiênico das fezes dos animais feita de plástico biodegradável de milho e mandioca.

No portfólio da marca consta também um produto para limpeza doméstica e um bebedouro inteligente ligado à torneira, com filtro de cerâmica que mantém a água limpa.

O uso da tecnologia para facilitar a rotina também é a aposta da Zenpet, startup fundada em Uberlândia (MG) pelos especialistas em eletrônica Jefferson Magalhães, 40, e Júlio Almeida, 32. Nos últimos dois anos, os empreendedores desenvolveram três produtos: um alimentador para cães de pequeno porte, um para cachorros de grande porte e um bebedouro para gatos.

Os itens têm sensores que monitoram o consumo de comida e água e podem ser programados por meio de um aplicativo, integrados ao conceito de internet das coisas. "Com eles, é possível monitorar os hábitos de consumo do animal e fazer ajustes conforme sua necessidade", diz Jefferson. A ideia do negócio partiu justamente da necessidade de Zen, o cachorro de sua irmã, que estava obeso.

Com os protótipos testados e aplicativo desenvolvido, a Zenpet busca captar R$ 500 mil junto a investidores para lançar os produtos comercialmente. Também quer oferecer a plataforma a parceiros lojistas, de modo que o serviço seja integrado ao comércio de rações e medicamentos.

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