Pet shop, serviço essencial na pandemia, é opção de negócio que não fecha

Número de lojas teve alta acentuada em 2020 impulsionada pela pandemia

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São Paulo

Durante a pandemia, o número de pets shops no país teve um aumento significativo, segundo levantamento do Instituto Pet Brasil.

A estimativa da entidade é que 2020 tenha chegado ao fim com 40 mil lojas, uma alta de 22% em relação ao ano anterior. Além da expansão dos pontos de venda, o crescimento de unidades é explicado por um refinamento na base de dados e uma maior profissionalização de muitos estabelecimentos, que até então não tinham sido mapeados.


Muita gente que ficou desempregada ou teve seus negócios fechados na quarentena viu no setor a chance de se reestabelecer, afirma Nelo Marraccini Neto, presidente-executivo do instituto. Os pet shops foram considerados serviços essenciais neste período e seguiram funcionando mesmo nos momentos de restrição mais severos.

A empreendedora Renata Batista, 39, que trabalhava na área de logística, foi demitida no início da pandemia. Então, resolveu pôr em prática o sonho antigo de ter um pet shop.

Sem muito dinheiro para começar, montou um serviço de banho e tosa na própria casa, em Itapecerica da Serra (SP). O investimento inicial foi R$ 4.000, gasto com mesa, tesoura, secador e produtos.

Ela abriu o negócio em junho, fazendo 10 atendimentos por mês. Hoje, são cerca de 50. "Trabalho sempre com hora marcada, assim consigo prestar um serviço mais personalizado", afirma Renata, que oferece ainda o transporte dos animais.

O home office também foi uma contribuição importante para a expansão do segmento. Muitas pessoas passaram a investir mais nos cuidados com os pets e outras, que não tinham um bichinho, decidiram adotar ou comprar um.

O empresário Márcio Hotts, 34, proprietário do pet shop Dr. Bóris, viu seu faturamento aumentar 300% na pandemia. Durante o período, ele conseguiu recuperar o investimento de R$ 250 mil que fez para comprar e reformar, em 2019, o ponto no Campo Belo, zona sul de São Paulo.

Segundo Márcio, antes da Covid-19, o estabelecimento aplicava até seis vacinas por mês. Agora, são entre 70 e 75. Já os banhos saíram de 400 para 1.200. "Tivemos que investir na ampliação da estrutura, na compra de equipamentos e na contratação de funcionários para dar conta da demanda."
No início do ano passado, o local tinha uma equipe com cinco pessoas. Hoje, são nove.

Os bons resultados animaram Márcio, que já planeja ampliar os negócios. A meta no pós-pandemia é abrir um hotel e uma creche para pets.

O empresário atribui o desempenho positivo a bom atendimento, qualidade nos serviços e mimos ao freguês. "Oferecemos dois tipos de xampu e deixamos o cliente escolher. Também damos a ele o poder de decisão dos acessórios que vamos usar depois do banho", diz.

Apesar da alta no número de lojas, há ainda espaço para quem quiser entrar nesse mercado, segundo especialistas. "Conhecer o animal e as preferências do dono, ter um relacionamento profissional, mas sempre próximo para entender as necessidades do cliente são diferenciais possíveis somente em unidades de bairro", diz Paulo Abade Júnior, fundador da Pet Consultoria.

Para isso, é importante ter um sistema de cadastro eficiente e atualizado. "Assim, é possível saber quem é o seu público, quais são os itens com melhor saída e definir a melhor estratégia. Se a maioria dos seus clientes são animais mais velhos, você pode investir em produtos destinados a eles", afirma Jane Albinati Malaguti, consultora de negócios do Sebrae-SP.

Um ponto fundamental para o sucesso da empresa é a localização. Nem sempre a existência de outros pet shops por perto é um mau sinal. Afinal, isso pode ser um indicativo de que há um bom público por ali. Se o negócio tem diferenciais, como atendimento personalizado e sistema de leva e traz, não há motivos para temer a concorrência.

O empreendedor deve analisar o potencial da região —se há muitas casas e prédios, pessoas passeando com pets. Ponto localizado em esquina, boa distribuição de produtos dentro da loja e fachada bem pensada ajudam a atrair os consumidores. "Vá do outro lado da rua e veja se a sua loja chama atenção e convida o cliente a entrar", diz Abade Júnior, da Pet Consultoria.

Também é essencial investir em novidades. Têm ganhado destaque rações veganas, banhos terapêuticos e xampus que tratam melhor melhor a pele e o pelo do animal.

Quanto mais ampla a variedade de mercadorias, maior será a satisfação do freguês, diz Abade. "O cliente brasileiro, diferentemente do de outros países, quer uma loja com o maior número de soluções para não precisar ficar se locomovendo para ter acesso ao que precisa."

Mesmo com o sucesso dos pet shops de bairro, há empreendedores que preferem investir seus recursos em uma marca já consolidada e optam pela compra de uma franquia.

É o caso do administrador Jonas Ziani Pradel, 32, que adquiriu sua primeira unidade da Petland em 2018 e hoje já conta com quatro lojas no Rio Grande do Sul.

Jonas, que já tinha uma franquia no ramo de alimentação, queria diversificar os negócios e começou a pesquisar setores. "Fiz um estudo e, ao final, percebi o potencial gigante de crescimento do setor pet", diz.
Para ele, a grande revolução no setor virá com a mudança da medicina veterinária tradicional para os tratamentos preventivos.

"Os pets já saíram dos pátios, já entraram nas nossas casas e apartamentos e, hoje, são como nossos filhos. Atualmente, a maioria dos tutores acaba levando seus animais ao veterinário somente quando eles já estão doentes, mas isso deve mudar nos próximos anos."

Na opinião do empresário, o próximo passo será antecipar qualquer tipo de problema de saúde do pet, para que ele não fique doente ou para que o diagnóstico seja feito precocemente.

"Essas questões superam o consultório veterinário e vão para a loja e, sobretudo, para o setor de estética. O pet shop do futuro vai ser uma integração entre clínica, setor estético e loja com consultores, solucionando todas as necessidades do tutor em um só lugar, de forma ativa e preventiva."

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