Descrição de chapéu Páscoa

Ovos de Páscoa com muito recheio ajudam confeiteiros iniciantes a faturar na pandemia

Na crise, profissionais de outras áreas investem na produção de chocolates

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Cristiane Teixeira
São Paulo

Enquanto grandes marcas diversificam tamanhos, formatos, ingredientes e embalagens dos chocolates oferecidos nesta Páscoa, confeiteiros independentes seduzem o paladar do brasileiro com aquilo em que são imbatíveis: cascas de chocolate repletas de recheio, servidas como uma sobremesa.

“Os ovos de colher são os mais pedidos”, afirma a chef Cristiane Araujo, 39, que fez carreira com doces finos para festas. “O consumidor percebe o sabor fresco e sem conservantes dos recheios.”

Ao ver os eventos de sua agenda adiados indefinidamente por causa da pandemia, a especialista encontrou nas aulas online de confeitaria um serviço rentável. À frente de uma câmera em sua casa, em São Paulo, ela atraiu alunas de vários estados do país e observou que muitas estão ali para iniciar uma nova profissão em um negócio próprio.

Uma delas é Nathália Agostini, 30, que trocou a fisioterapia pelas panelas e formas no segundo semestre de 2020. Em sua Páscoa de estreia, a empreendedora de São Caetano do Sul, no ABC, produziu 280 ovos, batendo rapidamente sua expectativa de entregar 50 unidades.

“Era uma meta muito baixa, mas ainda assim me surpreendi. Parei de aceitar pedidos lá pelo dia 20 de março, porque meus materiais e insumos acabaram”, diz.

Além de familiares, amigos e clientes dos tempos em que atendia como fisioterapeuta, vários compradores chegaram por indicação e pelas redes sociais, uma constante entre os confeiteiros artesanais. “Noto uma mudança de atitude no consumidor, um olhar empático para os pequenos produtores”, relata.

Segundo Nathália, que trabalha em sua casa, a estratégia para dar conta sozinha de tantas encomendas foi planejar-se e enxugar o cardápio, o que facilitou a produção. Apostou tudo nos ovos de colher e limitou os tamanhos a três (300 g e 450 g, além de um kit com duas miniaturas de 110 g cada uma), com preços entre R$ 55 e R$ 75 (dependendo do sabor e do peso).

Dos 15 recheios previstos inicialmente, manteve 11, todos baseados nos brigadeiros que já vendia. “Alguns podem ser preparados antes e ficar congelados por uns dias, até a hora de montar e entregar os ovos”, diz.

Quem trabalha com ovos de colher não escapa dos recheios mais solicitados pelos apreciadores, como o de Nutella e o de frutas vermelhas. Os campeões vendas de Nathália são os ovos de de crème brûlée e de brigadeiro de licor Amarula com avelãs.

Cristiane, sua professora, tem uma tática para testar os recheios: oferece um kit degustação com três mini ovos. “É uma porta de entrada para os clientes: eles experimentam diferentes sabores e depois encomendam os preferidos em tamanhos maiores.”

Com uma assistente fixa e ajudantes contratados na alta temporada, a chef oferece uma linha de Páscoa mais extensa, dividida entre os ovos de colher e os convencionais. Mas mesmo estes não são obrigatoriamente simples: podem receber uma camada interna de doce de leite argentino, por exemplo.

Em tamanhos que vão de 200 g a 450 g, seus produtos custam entre R$ 79 e R$ 169 e encareceram desde o ano passado. “As matérias-primas subiram muito, principalmente o chocolate, que é belga”, explica.

Ovo com recheio de doce de leite argentino da chef Cristiane Araujo
Ovo com recheio de doce de leite argentino da chef Cristiane Araujo - Ana Schad/Divulgação

Para reduzir custos sem diminuir a qualidade, ela adotou embalagens mais simples, como celofane e caixas de papel e acetato. “Agora, só uso tecido quando me pedem”, diz Cristiane.

Em sua segunda Páscoa atrás do balcão, a ex-fotógrafa Gabriela Pessoa, 35, se sentiu mais segura para inovar e somar a seu cardápio ovos com a casca de chocolate incrustada de castanhas e frutas glaceadas —tipo de chocolate chamado de "bark" fora do Brasil.

Ainda que variedades como a de cupuaçu com castanha-do-pará já contem com consumidores fiéis, nenhuma delas superou os ovos de colher em vendas, segundo a empreendedora. Porém, mesmo nesses ela deu um jeito de se diferenciar da concorrência: “Eu ponho um pouquinho de fruta nas cascas para que as pessoas saibam que são feitas por nós”.

Quem divide as tarefas com Gabriela é o marido, Francisco Pessoa, 38, também fotógrafo e corretor de imóveis. Quando a pandemia se instalou no Brasil, ambos foram forçados a encontrar uma alternativa de trabalho.

Como era época de Páscoa, ela não perdeu tempo e passou uma semana estudando tudo relacionado a chocolate, de fornecedores a preparo e conservação. Uma amiga nutricionista ajudou a definir as combinações de sabores, e os dois passaram a produzir da cozinha de casa, na Vila Diva, zona leste de São Paulo.

“Lançamos e vendemos o bastante para querer continuar no segmento”, conta Gabriela, que avançou em suas pesquisas em busca de um caminho mais autoral. Foi então que descobriu o "bark" e passou a oferecê-lo em barras durante o ano todo.

Se por um lado o cardápio da marca Confeita Gabi é compacto, com apenas nove sabores, por outro permite que os clientes escolham o tipo de chocolate (escuro ou branco) e peçam outras adaptações.

Nesta Páscoa, oferecendo ovos de 260 g a 500 g, vendidos entre R$ 50 e R$ 90 (dependendo do tipo, sabor e peso), o casal lucrou em torno de R$ 7.000, o triplo do que ganharam na mesma data do ano passado. E há espaço para mais, na opinião de Francisco.

“Parte da nossa clientela já experimentou chocolates de outros confeiteiros de confiança. As pessoas estão percebendo que o custo-benefício é maior do que o dos produtos de supermercado”, diz ele.

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