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Mercado de personal chefs cresce impulsionado por famílias cansadas de delivery

Profissionais preparam refeições para o dia a dia e ensinam clientes a cozinhar

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São Paulo

A pandemia criou uma nova demanda para os personal chefs, cozinheiros contratados por diária para trabalhar na casa do cliente. Se antes o serviço era um luxo reservado a datas especiais, agora esses profissionais têm sido cada vez mais buscados para preparar comida do dia a dia e dar aulas de culinária.

Nutricionista pós-graduada em gastronomia, a personal chef Aline Simas, 32, está com a agenda lotada. Ela vai à casa dos clientes para cozinhar pratos em kits suficientes para durar de 12 a 15 dias.

O cardápio é criado a partir de uma entrevista remota, na qual a chef apura os hábitos e preferências da família, suas restrições alimentares e principais demandas nutricionais.

Pelo pacote, que envolve a criação do menu e a execução em uma diária de trabalho, Aline cobra R$ 600 —em geral, ela passa de seis a sete horas cozinhando. Somente as compras dos ingredientes ficam a cargo do cliente, a partir de lista elaborada por ela.

A personal chef Aline Simas
A personal chef Aline Simas - Divulgação

“O perfil da clientela mudou. Mães e pais que trabalhavam fora e almoçavam em restaurantes estão em home office com filhos, que também deixaram de se alimentar nas escolas. Todos estão querendo uma alimentação mais saudável, diminuindo gastos”, diz.

Com cerca de 45 agendamentos por mês, Aline já contratou duas ajudantes e decidiu ensinar o ofício para outros profissionais.

No início de junho, ela iniciou seu primeiro curso de personal chef 100% online. Ao longo de 12 semanas, com uma aula semanal de duas horas de duração, ela ensina como conquistar e fidelizar clientes, formalizar o negócio, controlar as finanças, cuidar da postura, da vestimenta e das mídias sociais. O curso custa R$ 1.000.

Entre as 12 alunas matriculadas, segundo Aline, há chefs de cozinha, nutricionistas e até executivas dispostas a mudar de carreira.

“Não dou aulas de culinária, mas de empreendedorismo, tanto que todas as alunas já sabem cozinhar. A procura foi 100% feminina”, conta.

Criador da plataforma Meu Bistrô, que conecta clientes a 2.000 personal chefs cadastrados, o administrador de empresas Carlos Apollaro, 53, notou outra mudança no perfil dos usuários.

Eventos corporativos, que já respondiam por cerca de metade da clientela da plataforma, diminuíram de tamanho —encontros para muitas pessoas deram lugar a pequenas ações de relacionamento.

O personal chef Fernando Pulcino
O personal chef Fernando Pulcino - Divulgação

Por meio do Meu Bistrô, por exemplo, o chef Fernando Pulcino, 37, foi contratado para passar 15 dias na copa de uma empresa do setor financeiro, preparando pequenos almoços para clientes – na era pré-pandemia, esses almoços eram realizados em restaurantes sofisticados.

Eventos corporativos, diz Fernando, estão entre seus preferidos porque prometem ganho bem maior. “Enquanto cobro em torno de R$ 190 pela diária de um evento social, posso cobrar R$ 390 de empresas, porque o orçamento parte de outro patamar."

A plataforma cobra 13% de comissão do profissional, mais 10% de taxa de serviço do cliente, mas permite que o pagamento seja parcelado em quatro vezes.

Também tem gente contratando personal chef para aprender a cozinhar. Jornalista com mestrado em nutrição, com passagem pela escola Le Cordon Bleu, em Paris, Luciana Mastrorosa, 42, vai à casa dos clientes para ensinar de tudo, de um simples arroz com feijão a pratos mais complexos.

As aulas duram de duas a quatro horas e podem começar dentro do supermercado. “Há clientes que me pedem até para acompanhar as compras”, afirma Luciana, que cobra em média R$ 100 por hora.

Dentro da cozinha, nem tudo acontece diante do fogão. Há lições de como cortar, higienizar e armazenar ingredientes, ou ainda congelar os pratos prontos.

“A maior demanda tem sido pelas aulas sobre comida do dia a dia, porque ninguém aguenta viver só de ​delivery”, diz.

A personal chef Luciana Mastrorosa
A personal chef Luciana Mastrorosa - Divulgação

Diretora da ChefNutri, consultoria especializada em gestão de qualidade e boas práticas para restaurantes e negócios de alimentação, Fabiana Borrego, explica que o trabalho de personal chef exige, do cozinheiro, os mesmos cuidados exigidos pelos estabelecimentos comerciais.

A lista começa pela vestimenta, que deve ser adequada à cozinha e desprovida de adornos, como anéis e relógios. Na pandemia, o cuidado deve ser redobrado e o uso de máscara, obrigatório.

“Não recomendo trabalhar com a mesma roupa que a pessoa veio da rua. Em vez de colocar só um avental sobre a camiseta, melhor se trocar inteiramente, inclusive os sapatos”, afirma.

Prender e proteger cabelos também é essencial. “Mas não precisa usar aquela touquinha branca. Como se espera do personal chef um visual mais charmoso, vale amarrar um lenço.”

Durante a execução do serviço, é hora de botar em prática toda a teoria sobre higienização e conservação de alimentos.

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) disponibiliza gratuitamente a Cartilha Boas Práticas para Serviços de Alimentação, enquanto o Sebrae oferece um curso online, também grátis, com duração de 20 horas. Ter um certificado como esses para divulgar, na avaliação da consultora, é um bom caminho para conquistar a confiança da clientela.

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