Clínicas privadas de vacinação têm boom e quase dobram em meio à pandemia

Baixo investimento e difusão de informação sobre imunizantes explicam crescimento

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São Paulo

A expectativa de comercialização de imunizantes contra a Covid-19 no mercado privado, ainda que incerta, tem atraído empreendedores para o setor de clínicas particulares de vacinação.

De 2020 para cá houve um boom na abertura desses estabelecimentos, que quase dobraram no país, segundo Geraldo Barbosa, presidente da ABCVAC (Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas).

Marcos Tendler, diretor-executivo do marketplace Vacinas.net, em São Paulo 
Marcos Tendler, diretor-executivo do marketplace Vacinas.net, em São Paulo  - Karime Xavier/Folhapress

No Brasil, mesmo uma pessoa sem experiência na área da saúde pode investir no ramo desde que o negócio tenha um responsável técnico, que pode ser médico, enfermeiro, farmacêutico ou biomédico —até 2017, uma regra exigia que esse papel fosse desempenhado por um médico e um enfermeiro.

A flexibilização da lei, somada à difusão de informações sobre vacinas na pandemia e o baixo investimento que clínicas menores exigem, explicam o crescimento do setor.

Na rede de franquias Saúde Livre Vacinas, a procura por novas unidades aumentou de 50% a 60% desde março do ano passado, segundo Rosane Orth, diretora administrativa da empresa. Em expansão, a marca tem hoje 42 unidades espalhadas pelo país e outras 18 em fase de implementação.

Uma clínica no formato "store in store" —dentro de outro estabelecimento— pode ser montada com R$ 135 mil. O faturamento médio é de cerca de R$ 100 mil por mês, e o tempo de retorno do investimento varia de 18 a 24 meses.

Segundo a ABCVAC, o Brasil tinha 15 mil pontos privados de vacinação no fim do ano passado, incluindo farmácias, laboratórios e clínicas, que são cerca de 3.000 unidades.

Ainda que mais intenso na pandemia, o crescimento desse mercado não é novidade. O mesmo aconteceu durante o surto de H1N1, quando o número de clínicas no país aumentou cerca de 60% de 2016 para 2017. Mas apenas metade desses estabelecimentos conseguiu manter as operações.

"Muita gente acha que é um serviço fácil, que é só aplicar a vacina, mas é mais complexo", diz Barbosa, da ABCVAC.

Todas as doses aplicadas e os eventuais efeitos adversos devem ser notificados ao Ministério da Saúde. Portanto, antes de abrir o negócio, é preciso conhecer a fundo as regulamentações do setor.Empreendedores também devem se precaver da grande oscilação de demanda característica do segmento.

No ano passado, por exemplo, houve corrida por vacinas contra a gripe. Já neste ano, governos estaduais e municipais estão fazendo campanha pedindo para que as pessoas compareçam aos postos de saúde por causa da baixa procura pelo imunizante.

A expansão do número de clínicas é positiva, mas o setor se preocupa com a cadeia de fornecedores, que não cresce no mesmo ritmo. Segundo Barbosa, faltam algumas vacinas em locais de grande procura, como os imunizantes contra hepatite A e tetra viral.

Diante da imprevisibilidade, é fundamental que a expansão do negócio aconteça de forma lenta e gradual.

Além disso, o estabelecimento precisa ter um plano de negócio como qualquer outro, segundo Fábio Souza, consultor do Sebrae-SP. Embora seja um nicho específico, ele diz ser importante que o empreendedor amplie o portfólio de serviço, aumentando sua fonte de receita.

Foi o que fez a pediatra Lilian Zaboto, que inaugurou durante a pandemia duas novas unidades da clínica de vacinação Vacinville. A expansão só foi possível porque ela firmou parceria com sócias que apostam na comercialização da vacina contra a Covid-19 no mercado privado —por enquanto, não há autorização para isso.

Lilian Zaboto, pediatra e dona de unidade da clínica Vacinville, no Shopping Villa Lobos, em SP
Lilian Zaboto, pediatra e dona de unidade da clínica Vacinville, no Shopping Villa Lobos, em SP - Karime Xavier/Folhapress

Um dos estabelecimentos foi inaugurado em março deste ano no shopping Villa Lobos, no Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.Além de ter estrutura para vacinação em domicílio, a rede firmou parceria com o shopping para a aplicação de testes contra o coronavírus no estacionamento do local.

Para driblar a concorrência, Zaboto investe no atendimento. "Usamos aparelhos para aliviar a dor da vacina e temos óculos de realidade virtual para distrair as crianças durante a aplicação", diz.

O crescimento das clínicas pelo país também estimulou a criação do marketplace Vacinas.net, que faz a conexão entre quem precisa se imunizar e quem executa o serviço. A empresa foi fundada em março do ano passado e hoje conta com 151 clínicas cadastradas em sua plataforma.

No site, os consumidores podem escolher a clínica e agendar a aplicação na unidade ou em casa. De 5% a 10% do valor de cada venda é repassado ao marketplace.

Segundo o fundador, Marcos Tendler, a empresa espera atingir a marca de 700 clínicas de vacinação parceiras até o final de 2022, o que significa aumentar em mais quatro vezes a abrangência."Estamos vivendo uma revolução biotecnológica que deve trazer para o mercado não só atualizações dos imunizantes já existentes mas também novas fórmulas", diz Marcos.

Embora o mercado das clínicas esteja em crescimento, a pandemia, paradoxalmente, agravou o declínio na cobertura vacinal no país. Relatório do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde mostra que em 2020 menos da metade dos municípios atingiu ou superou as metas de cobertura estabelecidas pelo plano de imunização para nove vacinas, entre elas a MMR (contra sarampo, caxumba e rubéola) e a BCG (contra tuberculose). O medo da Covid-19 é um dos motivos apontados para o recuo.

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