O avanço da produção de energia eólica no país trouxe oportunidades para pequenos e médios negócios que utilizam soluções tecnológicas para atender empresas geradoras.
Criado em 2017, o software da Delfos Intelligent Maintenance, de Fortaleza, usa inteligência artificial para prever falhas nas turbinas eólicas, evitando paradas e perdas de produção.
A plataforma funciona como um engenheiro virtual, mostrando onde fica o ponto que demanda manutenção. Então, uma equipe de suporte técnico informa aos clientes quais as ações recomendadas.
Com a pandemia, os 25 funcionários da empresa passaram a trabalhar em home office, incluindo a equipe da base comercial, no Rio de Janeiro. Mesmo assim, a startup tem conquistado novos clientes, segundo Guilherme Studart, presidente da Delfos.
Hoje, estão conectados à plataforma mais de 1.500 aerogeradores em sete estados do Nordeste, além de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. O modelo é de assinatura, e o preço varia conforme a quantidade de itens monitorados —a empresa não informou os valores cobrados.
“Existe espaço para evitar desperdícios e gerar mais energia limpa. Essa foi nossa grande motivação para aplicar tecnologia de ponta em um segmento em que acreditamos muito”, diz o empresário.
Já a Arthwind, de Sorocaba (interior de São Paulo), faz inspecções preventivas com a ajuda de drones e minirrobôs. Os drones captam imagens do lado externo das pás dos aerogeradores para detectar falhas, e os minirrobôs fazem uma análise interna.
Fundada há quatro anos, a empresa apostou em desenvolvimento robótico próprio e firmou parcerias internacionais. O investimento inicial foi de R$ 180 mil.
Segundo o diretor-executivo, Armando Costa, 37, o faturamento cresceu 200% a cada ano. A startup já vistoriou 6.500 aerogeradores, principalmente nas regiões Sul e Nordeste do país.
Até o fim de 2021, a companhia quer lançar um robô que, por meio de cabos, escala as pás das turbinas eólicas para medição e limpeza do sistema de para-raios, trabalho que ainda é feito manualmente.
“O Brasil tem dado muitas oportunidades às empresas que buscam inovar e trazer competitividade a quem gera energia. Não estamos falando de apertar parafusos, mas de negócios que queiram trazer tecnologia e aumentar a eficiência energética”, diz Costa.
Cesar Rissete, gerente nacional de competitividade do Sebrae, concorda que as condições são favoráveis para a atuação de pequenos negócios no ramo de energia eólica.
“É um setor em expansão. A questão é ter condição técnica, com certificação e demais requisitos exigidos pelo setor, porque há um grande mercado a se explorar”, afirma.
Desde 2002 atuando na fabricação de micro e minigeradores de energia eólica, o engenheiro mecânico Luiz Cezar Sampaio Pereira, 80, acredita que esse mercado deverá permanecer aquecido nos próximos meses, por causa do risco iminente de racionamento decorrente da crise hídrica.
A sua empresa, a Enersud, localizada em Maricá (RJ), vende kits com aerogeradores que não dependem de instalação especializada.
Os itens podem atender às necessidades de condomínios, embarcações e torres de telecomunicação.
O conjunto mais simples, com uma turbina de 1,38 m de diâmetro, custa R$ 4.000. O preço do maior modelo, com 5,55 m de diâmetro, chega a R$ 80 mil —o equipamento requer distância de pelo menos 50 m de outras construções.
Antes da compra dos produtos, a empresa precisa fazer uma análise do local da instalação, porque é preciso verificar se há condições técnicas para o funcionamento —por exemplo, lugares com ventos de velocidade média inferior a 4 m/s são inviáveis para a produção de energia.
Há dois anos, a Enersud precisou enxugar o portfólio e reduzir a equipe de 14 funcionários pela metade para se manter em atividade, em razão do aumento do preço de insumos importados e da baixa procura do mercado interno.
“Mas este ano está muito melhor. O reajuste que fizemos foi na dose certa e reduziu bastante os custos. Embora as vendas oscilem muito de um mês para o outro, no primeiro semestre de 2021 vendemos 50% a mais do que em todo ano anterior”, afirma.
“Na última crise energética, não conseguimos atuar muito, porque a energia eólica era um recurso ainda pouco conhecido. Hoje, é amplamente divulgada, e as pessoas sabem onde encontrar essa alternativa”, completa.
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