Empresários do setor do turismo contam como reagiram às restrições da pandemia

Donos de agências, lojas e pousadas ampliaram atuação e mantiveram contato com o consumidor

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Denise Meira do Amaral
São Paulo

Veja abaixo quatro empresários do setor do turismo contando como fizeram para passar pela crise no setor, causada pela pandemia de Covid-19.

‘Criamos conteúdo para o cliente quando ele estava em casa’
Fabiana Donato, 47
sócia-diretora da Donato Viagens

A Donato tem 25 anos e sempre trabalhamos com viagens em família. Como o tempo, passamos a trabalhar com grupos de pessoas mais velhas. O foco sempre foi viagem internacional. Quando veio a pandemia, 95% das nossas saídas eram para fora do país e nossos clientes faziam parte do grupo de risco.

Nos primeiros meses, de março a setembro de 2020, criamos ações pensando no nosso público, que estava isolado e se sentindo sozinho em casa. Fizemos parceria com uma importadora de vinhos italianos e oferecemos lives com sommeliers da Itália.

A partir de setembro de 2020 começamos a trabalhar com destinos nacionais e viagens individuais, para pequenos grupos familiares, por períodos mais curtos. Conforme as pessoas foram ganhando confiança para viajar, aumentamos os grupos.

Também passamos a ser mais ativos nas redes sociais, como forma de manter viva a nossa marca para os clientes.

A partir de agosto teremos nossos primeiros grupos saindo novamente. Os destinos serão Lençóis Maranhenses, Serra da Mantiqueira (SP), cidades históricas de Minas Gerais e um resort na Bahia. A primeira viagem internacional será para Armênia e Geórgia, em setembro.

Nosso rendimento caiu em torno de 60% na pandemia. Só agora estamos começando a retomar. Mas provavelmente só vamos recuperar mesmo em 2022 ou 2023.

Como nossos clientes, em média, têm acima de 70 anos, eles foram os primeiros a tomar a segunda dose da vacina. Com o resto da família sendo vacinada, eles começam a querer sair mais. Depois de tanto tempo dentro de casa, vislumbrar a chance de viajar é um grande sonho para eles.


‘Continuei ativa nas redes sociais para não perder engajamento’
Lia Braga, 42
empresária e fundadora da pousada Lambuze, na Chapada dos Veadeiros (GO)

A Lambuze foi inspirada num projeto que conheci na Califórnia, com trailers de hospedagem em um mirante. Sou de São Paulo, mas tinha uma paixão pela Chapada dos Veadeiros e tive esse insight quando conheci o Mirante do Pôr do Sol. Foi assim que a Lambuze nasceu, em 2019, com investimento em torno de R$ 1 milhão numa área de mais de 2.000 m², com o menor impacto possível para o Cerrado.
Operamos por seis meses e veio o lockdown, que durou outros seis. Foi um grande desafio. Tinha uma pequena reserva financeira que foi o que me manteve. Continuei com um trabalho forte no Instagram para manter o perfil ativo e o engajamento. Segui em contato com hóspedes que queriam reservar e tomei cuidado para que nossos três trailers seguissem em forma.

Eles são bem distantes uns dos outros, para preservar a privacidade. E isso mesmo antes da pandemia. Nosso café da manhã já era servido no trailer numa cesta de piquenique, antes disso ser comum..
Como estamos a 3 km da Vila de São Jorge, os hóspedes pedem delivery nas refeições, se não quiserem sair, ou petiscam algo no nosso bar. Os trailers também têm cozinha.

Os hóspedes se surpreendem porque os trailers são muito mais elaborados do que parecem. Eles têm sala, cozinha, quarto, hidro aquecida ao ar livre no deck e rede. A ideia é uma experiência rústica, mas com conforto.

Temos 99% de aprovação dos clientes. Estamos cheios até o fim de setembro, impulsionados pela recomendação de quem veio e gostou. Temos dias disponíveis em outubro, mas para final de semana só em dezembro. Eu digo umas 80 vezes por dia que estamos lotados. Temos mais movimento que no pré-pandemia.

O próximo passo é a ampliação. Mais três unidades. num novo mirante, com mais glamour. Vai se chamar Lambuze Outdoor, porque terão tetos de vidro e pé-direito alto.


‘Passei a investir em novas frentes e criei cursos online’
Lucas Estevam, 31
influenciador de viagens, apresentador e empresário

Sempre gostei de viajar. Há quase dez anos, quando fui trabalhar na Alemanha, comecei a passear pela Europa. Ficava um final de semana em Roma, outro em Paris, e compartilhava tudo no Facebook.

Em 2011, inaugurei meu blog Estevam Pelo Mundo. Ao voltar para o Brasil, já sabia que queria viver de viagens. Com o tempo, mais pessoas foram me conhecendo, e o blog virou um programa de TV em Campinas, onde morava, em 2014. Hoje, meu canal no YouTube tem 1,3 milhão de inscritos e tenho mais de 700 mil seguidores no Instagram.

Sempre planejei minhas viagens com pelo menos um ano e meio de antecedência, mas, com a pandemia, tudo foi por água abaixo. Tive que repensar muita coisa. Como passei muito tempo em casa, pensei em novos projetos e criei uma série, a “Brasil 60”, gravada em todos os estados do Brasil, disponível no Youtube.

Precisei viajar o mundo todo para descobrir que o melhor país é o nosso. Atingi patrocinadores que antes não alcançava e gerei renda com parceiros preocupados com o turismo nacional.
Desde que voltei a viajar pelo Brasil, escolhi hotéis que estavam adotando protocolos de higiene e foquei atividades ao ar livre. Procurei dar dicas de prevenção da Covid. Como influenciador, tenho uma responsabilidade social maior.

Passei a empreender em novas frentes, como mercado financeiro e alimentício. Também investi em infoprodutos, com cursos online.

A pandemia escancarou a necessidade de nos diversificarmos. Hoje tenho 15 pessoas trabalhando diretamente comigo. Nosso faturamento aumentou muito, uns 300% em relação a antes da pandemia.

Outra novidade foi participar de uma campanha para uma empresa de tecnologia, em que publiquei no Instagram minha primeira foto de beijo com meu namorado, o Hugo. Quando me assumi LGBTQIA+, deixei de ser chamado por certas marcas, mas muitas empresas gay-friendly começaram a me procurar. Valeu muito a pena.


‘Sem empréstimos e redução de jornada, não teria sobrevivido’
Nina Taterka Prado, 47
artesã e empresária, fundadora da loja Canoa, em Paraty (RJ)

Fundei a Canoa porque queria trabalhar com algo que fizesse sentido para mim. Antes da pandemia eram duas lojas, uma de arte popular, aberta em 2015, e a mais antiga, com arte de povos indígenas, inaugurada em 2010.
Resolvi fechar a loja três dias antes do decreto municipal. Tinha passado um navio pela cidade com um caso de Covid e estávamos assustados.
Mas logo percebi que não adiantava falar “fique em casa” se nossos parceiros, os indígenas principalmente, não tinham alimentos para permanecer confinados. Os povos daqui, no caso os Guarani, dependem da comida do supermercado. Por isso, iniciei uma campanha de arrecadação de fundos para abastecer as aldeias de Paraty.
Como tinha acabado de passar pelo verão, tinha um bom caixa e consegui esticá-lo por um tempo. Entrei no programa de redução da jornada do governo e contei com empréstimo a juros baixos e carência, que foram fundamentais. Sem políticas públicas não teria sobrevivido. Como a proprietária de uma das lojas a pediu de volta, precisei fechá-la em agosto. Acabei tendo que fazer cortes e demissões.
Em abril do ano passado, inauguramos o ecommerce da Canoa. Antes a gente vendia pouco online. Hoje comercializamos de 20% a 30% do que vendíamos no ponto físico.
A loja ficou fechada de março até setembro do ano passado e, em abril deste ano, fechamos novamente, por um mês.
Até hoje ainda temos uma correntinha na entrada, para controlarmos o fluxo de pessoas. Além de álcool em gel, damos máscaras descartáveis a quem estiver sem.
Como Paraty é uma região turística no eixo Rio-São Paulo e as pessoas costumam vir de carro, o movimento turístico voltou a crescer assim que a cidade reabriu, em agosto do ano passado. Hoje vendo menos miudezas, o tíquete médio subiu bastante. As pessoas não vêm na loja para passear —parece que agora já entram com um objetivo. O segmento de decoração cresceu muito na pandemia, houve uma valorização da casa.
Em paralelo, resolvi tocar um projeto familiar. A casa em que cresci vai virar hospedagem, a Casa Canoa. Estamos concluindo agora.

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