Veja histórias de quem abriu um novo negócio depois de fechar as portas

Restrições impostas pela pandemia atingiram em cheio empreendedores, que encontraram saídas para a crise

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Denise Meira do Amaral
São Paulo

Quatro empresários que tiveram que fechar seus negócios durante a pandemia contam como conseguiram se reinventar e empreender novamente em meio ao cenário de incertezas. Leia os depoimentos a seguir.

Kátia Barbosa sorri na cozinha do seu restaurante
Kátia Barbosa no restaurante Katita, na zona norte do Rio - Lucas Seixas/Folhapress

'Após encerrar quatro restaurantes, comecei a investir em novos formatos'

Kátia Barbosa, 58, cozinheira, empresária e jurada do reality Mestre do Sabor, da TV Globo

Sempre gostei de cozinhar, mas entrei na gastronomia por necessidade, em 2002. Meu irmão tinha um restaurante com a minha cunhada, o Aconchego Carioca, na Praça da Bandeira, no Rio. Comecei ajudando em tudo. Depois, meu irmão acabou saindo e eu virei sócia. Abrimos mais três unidades e o bar Kalango.

Quando começou a pandemia, todo mundo do setor ficou apavorado. Isso porque dono de restaurante já vendia o almoço para pagar o jantar.

Na minha fábrica, onde produzo os bolinhos, ficamos só eu e um cozinheiro. Deixei os outros funcionários com o seguro do governo. Depois, eles foram voltando aos poucos.

A primeira ideia foi investir no delivery, como todo mundo. Abri a cozinha para entrega em março de 2020. Virou o Katita em Kasa, com os mesmos pratos dos restaurantes, como o baião de dois e bobó de camarão, mas embalados a vácuo e congelados.

Tivemos de fechar os outros restaurantes. Mantivemos só o Aconchego da Praça da Bandeira e a cozinha delivery. Precisei de empréstimo do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte). Também estamos renegociando impostos atrasados.

O Katita acabou crescendo e, em novembro de 2020, recebemos uma proposta de parceria com o Norte Shopping, no Méier, para abrir um restaurante a baixo custo, com desconto no aluguel. Foi uma tentativa de sobrevivência e virou um sucesso.

Há um mês, abrimos a segunda unidade, no Uptown Shopping, na Barra. E, em junho deste ano, reabrimos o Kalango, mas em novo endereço, agora em Botafogo.

Estar na TV neste momento foi uma grande sorte. Meu nome ficou mais visado. Quando você consegue passar algo positivo às pessoas, é muito legal. Porque é assim que penso a vida. Acredito que a comida está ligada a afeto, infância e história de vida. Todo o meu trabalho é pautado nisso.

Suzane apoiada em um prateleira com sapatos
A empresária Suzane Araújo, dona da Sapatinho de Luxo - Alex Lima/Divulgação

'Não saberia se daria certo se não tivesse arriscado'

Suzane Araújo, 24, dona de franquias da marca Sapatinho de Luxo

Sempre gostei de vender. Aos 13 anos já ajudava na cantina da minha mãe em uma escola, na zona rural de Nova Mamoré, em Rondônia. Fui para a cidade com 15 anos para estudar e comecei a trabalhar numa empresa.

Quando surgiu uma oportunidade, no fim de 2019, resolvi abrir um bar. Até então, não tinha nenhum pub que funcionasse à noite na cidade.

Com a pandemia, tive que fechar o estabelecimento. Vendi o ponto por R$ 25 mil, com tudo o que tinha dentro. Consegui pagar as dívidas e sobraram R$ 15 mil.

Pensei: "O que vou fazer agora?". Tenho um filho de sete anos e larguei do pai do dele justamente porque ele não aceitava que eu trabalhasse. Foi quando uma amiga me falou sobre o esquema de microfranquia.

Assinei o contrato com a marca Sapatinho de Luxo e, com R$ 15 mil, comecei o meu negócio. Eles me mandaram uma primeira leva com 190 pares.

Paguei R$ 8.000 em mercadoria, mais os royalties, e consegui fazer cerca de R$ 21 mil em um mês e meio. Comecei vendendo dentro de casa, mas fazemos muitas entregas. Não tenho que pagar aluguel nem funcionário.

Pensei, então, que queria ter uma loja. Descobri que havia uma franquia à venda na cidade de Ariquemes e liguei para os proprietários. No dia seguinte, dirigi 500 quilômetros para conversar com eles.

Vendi meu carro por R$ 109 mil e peguei um dinheiro emprestado com o meu pai. Dei a primeira parcela há cerca de três meses.

Precisei mudar de cidade com meu filho e deixei minha mãe vendendo no interior para mim. Hoje tenho cinco funcionários na loja. Ela fica numa das ruas mais bonitas da região. Se eu não tivesse arriscado, não saberia se daria certo ou não.

Valéria está sorrindo para a foto, com os braços cruzado, em frente a uma estante com produtos
Valéria Alleoni, dona do Bioma Salon, em Piracicaba - Divulgação

'Não foi fácil, depois de velha, ter de mudar tudo'

Valéria Alleoni, 57, cabeleireira e dona do Bioma Salon Valéria Alleoni, em Piracicaba (SP)

Comecei trabalhando aos 13 anos em um salão de Piracicaba, no interior de São Paulo, como auxiliar de cabeleireira. Aos 20 anos, montei meu próprio salão, o Instituto Valéria.

Quando começou a quarentena, não dei tanta bola porque achei que duraria 15 dias. Só que depois foram mais 15, mais 15, e comecei a ficar nervosa. Logo vi salões vendendo vouchers de serviços para quando a pandemia melhorasse. Isso nos deu um respiro. Também fizemos campanha para venda de produtos.

Quando pudemos abrir novamente, adotei esquema de rodízio. Dividi o pessoal em dois grupos, porque não tinha serviço para todos. Mas não precisamos demitir ninguém.

Nesse período, comecei a pensar em investir em produtos naturais, porque muitas clientes me pediam xampus veganos e colorações sem química. Acho que a pandemia acelerou esse processo, principalmente entre a turma mais jovem.

Soube que o Laces and Hair [rede de salões especializada em tratamentos botânicos para os fios] estava com um projeto de expansão e pensei na hora: "Pode ser a minha mudança".

Meus filhos e minha nora falaram que a tendência daqui para frente é justamente essa: cuidar do ambiente, do couro cabeludo, da nossa saúde. Não foi fácil, depois de velha, ter de mudar tudo. Fechei meu antigo salão, que ficava junto à minha casa, e abri o Bioma Salon Valéria Alleoni em um novo prédio, neste mês.

O projeto Bioma funciona assim: o Laces escolhe salões que já são estabelecidos em suas cidades e os convertem em estabelecimentos sustentáveis. É um sistema de licenciamento: a gente paga royalties sobre o serviço, para poder usar o nome.

Acho que vamos atingir uma nova geração de mulheres, vamos abrir mais o leque. Planejo um aumento de 30% no faturamento, mas espero que chegue a 100% em breve.

Arthur sentado de pernas cruzadas em cima da mesa com um laptop no seu colo
Arthur Chini, sócio e diretor da MESSS - Keiny Andrade/Folhapress

'A estratégia foi unir forças'

Arthur Chini, 29, fundador da agência MESSS

Abri minha agência, a Hay Studio, voltada para a área de relações públicas, estratégia, marketing de influência e moda, em 2017. Quando a pandemia começou, as marcas que não tinham esse lado desenvolvido, não tinham mídias sociais com conteúdo, não tinham um bom site nem relacionamento com influenciadores, se desesperaram.

Percebi que a empresa já não oferecia serviços para essa nova realidade. Precisei fechá-la e abrir novas frentes para sobreviver ao mercado. A estratégia foi unir forças.

Juntei-me a Giulia Braide, hoje minha sócia e que tinha na época uma agência de criação e produção executiva de campanhas. Abrimos juntos a MESSS, uma agência dedicada ao mercado da comunicação e moda, com olhar no digital e foco em influenciadores, em abril de 2020.

Essa união nos potencializou muito. A gente já trabalhava muito em conjunto quando percebi que nossas áreas eram complementares e seria uma boa saída para esse período de pandemia. Fomos trilhando esse momento de incertezas, com a aposta na criatividade e inovação. Não sei o que teria sido se cada um tivesse continuado com a sua empresa separadamente.

Decidimos focar os influenciadores porque eles são muito mais próximos de seus seguidores. Eles inserem o produto dos nossos clientes de maneira real em sua vida, o que cria uma forte conexão com o público.

Minha parceria com a Giulia aumentou muito a visibilidade da MESSS. Empreender sozinho é muito mais difícil. O faturamento também nem se compara. Crescemos juntos mais de 100%.

Na minha antiga agência, éramos eu e mais duas pessoas. Hoje, somos eu, Giulia e mais 12. Eu empreendo desde meus 23 anos, é a realidade que conheço.

Com a MESSS tenho vontade de empreender todos os dias porque estou criando um negócio com a minha visão, com o que eu acredito. Isso me motiva a acordar e ter mais dor de cabeça, porque quem empreende sabe que é preciso estar o tempo inteiro pilhado.

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