Cooperativas atraem empresários em busca de crédito mais barato e fácil

Número de negócios associados a essas instituições financeiras aumenta 123% em cinco anos

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São Paulo

Num contexto de crise econômica e aumentos constantes da Selic, taxa básica de juros da economia, as cooperativas de crédito surgem como alternativa para os pequenos empreendedores que precisam de dinheiro.

Segundo Thiago Borba Abrantes, coordenador do ramo crédito da OCB (Organização de Cooperativas do Brasil), tomar um empréstimo em cooperativas custa, em média, 30% a menos do que nos bancos tradicionais. A cifra pode variar de acordo com região e instituição.

Mas essa não é a única vantagem. De acordo com pesquisa da FGV e do Sebrae, publicada no início de setembro, 2 das 3 instituições que mais emprestam proporcionalmente a pequenos empreendedores são sistemas de cooperativas: Sicoob e Sicredi.

Gabriel Cabral/Folhapress

Cerca de metade das empresas que buscam financiamentos são atendidas em ambas as instituições. O número é maior do que em bancos privados e públicos mais procurados para esse fim.

A combinação de crédito mais barato e mais fácil ajuda a explicar o aumento no número de empresas cooperadas —para pedir empréstimo, o empreendedor precisa necessariamente se associar.

"As pessoas jurídicas são cerca de 30% dos nossos associados, mas, em carteira de crédito, já representam 53%. Passaram as físicas em 2021. Só neste ano, emprestamos R$ 24 bilhões para micro e pequenas empresas", afirma Francisco Reposse Junior, diretor comercial e de canais do Sicoob, sistema que tem cerca de 6 milhões de cooperados.

Nos últimos cinco anos, o número de negócios associados a cooperativas de crédito cresceu 123%. A grande maioria dessas empresas são micro, pequenas e médias.

Só de dezembro de 2019 até o mesmo mês de 2020, período que engloba parte da pandemia, a cifra avançou 14%.
Reposse diz que o aumento mais recente pode ter também a ver com a pandemia, momento especialmente difícil para se obter crédito em outras instituições financeiras.

"A conversa anda. As pessoas falam umas com as outras. Então uma parte dos novos cooperados pode ter vindo porque não conseguiu crédito em outro lugar."

Para se associar a uma cooperativa, o empreendedor deve apresentar documentos e pagar uma taxa —a periodicidade e o valor variam conforme a instituição.

Uma vez dentro, a relação se assemelha à que ocorre com os bancos. Há produtos como cartão de crédito, cheques, seguros e opções de investimento como CDB e LCI, com a diferença de que o cooperado é sócio, não cliente, e a instituição não visa o lucro.

"Como cliente de um banco, não participo dos resultados. Na cooperativa, sim, seja recebendo as sobras ou, eventualmente, ajudando a cobrir prejuízos", diz Abrantes, da OCB. O dinheiro a ser emprestado, aliás, é dos associados com excesso de capital, que fazem a oferta como forma investimento.

O crédito é mais barato também porque a natureza de organização não lucrativa dá benefícios às cooperativas.

"Elas emprestam a uma taxa mais baixa porque o custo do dinheiro para elas é menor. Há menos tributos, empréstimos compulsórios e custos operacionais. Elas se enquadram numa categoria diferente da dos bancos", diz Alexandre Chaia, economista e professor de finanças do Insper.

Outro motivo para a diferença das taxas é a proximidade do cooperado com a instituição, que tende a diminuir o risco de calotes.

"Bancos operam em escala nacional, com clientes, e as cooperativas são mais de nicho e têm associados. Ou seja, conhecem melhor seus membros", afirma Chaia.

O risco é algo mais crítico para as pequenas empresas, cuja gestão tende a ser menos profissional e cujos números geralmente não são auditados. Assim, as taxas podem subir. Isso não ocorre com grandes corporações, que conseguem capital barato.

Para se ter uma ideia da importância das cooperativas para os pequenos em tempos de crise, elas foram responsáveis por 20% de todos os contratos firmados por meio do Pronampe, programa do governo federal de auxílio às pequenas empresas. Ficaram atrás apenas de Banco do Brasil e Caixa, duas instituições públicas.

"O cooperativismo sempre se sobressai durante crises. Isso é um diferencial. Em 2008, grandes bancos europeus foram socorridos por sistemas corporativistas, como Rabobank (sistema holandês) e Crédit Agricole (francês)", afirma Abrantes, da OCB.

Magda Calegari, consultora do Sebrae-SP, diz que o cooperativismo, já forte no interior, está ganhando tração também nos grandes centros, mas ressalta que ainda há muito desconhecimento por parte dos pequenos empreendedores sobre o tema.

"O modelo está se tornando mais conhecido nas grandes cidades agora. Vemos, no entanto, em nossos eventos e feiras de negócios, que alguns ainda têm receio de participar e medo de ter de cobrir prejuízos caso a instituição vá mal."

Ela ressalta, porém, que, assim como no mercado financeiro, há fundos garantidores que podem acudir o cooperado nessas situações.

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