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Empreendedores buscam redes de apoio para ter novas ideias e crescer

Troca de experiências dá fôlego a pequenos e médios negócios em meio à crise

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São Paulo

Conduzir um negócio sozinho em meio à crise pode ser uma empreitada desafiadora e solitária. Por isso, empreendedores têm se unido para trocar experiências, aliviar a sobrecarga mental e buscar novas ideias para suas empresas.

A pandemia evidenciou a importância de se buscar aliados e partilhar vivências para além da bolha do próprio negócio, diz Juliana Segallio, consultora de marketing e vendas do Sebrae.

O contato com outros empreendedores pode trazer desde insights sobre o negócio até parcerias concretas com outras marcas. "Mesmo um concorrente direto não precisa ser um inimigo se as empresas atuarem de forma em que ambos ganhem com a troca de vivências."

Um homem está em pé atrás de um balcão enquanto outro está sentando em uma baqueta à frente da mesa. Os dois sorriem
Francisco Mancuso e Alan Edelstein, donos do Rincon Escondido - Jardiel Carvalho/Folhapress

Foi pensando em dividir as angústias de empreender sozinha que, há 11 anos, a empresária Ana Fontes começou um blog em que compartilhava o dia a dia e dilemas da profissão com outras empreendedoras.

Dona de um coworking e de um site de recomendações, ela viu a página alcançar cem mil acessos após seis meses.

"Eu me sentia muito sozinha e comecei a escrever sobre o que dava certo ou não. De forma despretensiosa e orgânica, o site foi juntando muitas mulheres e proporcionou uma troca muito forte entre nós", afirma.

Decidiu, então, transformá-lo em um negócio social e fundou a RME (Rede Mulher Empreendedora), plataforma que hoje reúne 100 mil pequenas empresárias cadastradas. A iniciativa também deu origem ao instituto de mesmo nome, fundado em 2017 e voltado à capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade.

Na pandemia, a décima edição do fórum nacional da organização recebeu mais de 110 mil inscrições para as sessões de networking e mentoria. O evento, gratuito, foi realizado entre os dias 17 e 19 deste mês.

Encontros e projetos de entidades que reúnem empreendedores em redes formais —como a RME, Sebrae, Endeavor, Rotary, Anjos do Brasil e Rede Kai— podem ser um caminho para quem procura compartilhar vivências com outros empresários para aplacar os efeitos da crise atual.

Assistente social e artesã em Lençóis Paulista (SP), Raquel de Fátima Correa, 39, participa de projeto da RME voltado para o fomento ao empreendedorismo feminino na cidade. Ao se ver sem renda na pandemia, decidiu fundar a marca de plantas e produtos ecológicos Cio da Terra.

Compartilhou angústias e recebeu mentoria de empreendedoras mais experientes que integram a rede. "Minha família não vem de uma cultura empreendedora. Nas mentorias, troquei experiências e me libertei de diversos receios, como o de apostar em uma linha de crédito", diz ela.

No início da empreitada, Raquel tirava dúvidas contábeis e trocava figurinhas com a contadora Eliana de Lima Pereira, 39, dona da marca de canecas personalizadas Canelika's e também membro da RME.

A troca de experiências garantiu o apoio que Eliana precisava para deixar o escritório de contabilidade onde trabalhava até 2020 e dedicar-se exclusivamente à marca. Em plena pandemia, assumiu o ponto físico do pai, antes uma relojoaria, e buscou outros pequenos empresários da região para se unir e inovar.

"Sempre estou pensando em algo novo para trazer aos clientes e, por isso, fico em contato frequente com colegas e até concorrentes", diz Eliana, que se juntou a uma boleira local para oferecer bolos em canecas customizadas.

Em parceria com Raquel, ela vende mudinhas de plantas em canecas produzidas com defeito na estampa, que antes seriam descartadas e agora viram item de decoração.

Também revende insumos comprados em excesso para concorrentes e abre espaço em sua loja para que outras marcas de personalização ofereçam itens como camisetas e chinelos.

"Conversamos e nos ajudamos. Aqui eles ganham espaço físico para expor e os clientes ganham mais opções", afirma.

A conexão por um interesse em comum também uniu os empresários Francisco Mancuso, 50, e Alan Edelstein, 43, e os fez buscar contato com outros empreendedores apaixonados por churrasco.

Eles são os donos do Rincon Escondido, espaço localizado na Vila Madalena, em São Paulo, que oferece desde jantares e eventos corporativos até facas artesanais e cursos de parrilla (grelha) argentina. Ex-executivos de vendas de uma multinacional, abandonaram juntos a carreira corporativa para empreender.

"Já é um processo solitário pedir demissão e fazer esse movimento de mudança. Todas suas decisões são questionadas", afirma Alan. "Sozinho, não sei se eu teria feito", completa Francisco.

Atualmente, eles apostam na presença online para trocar experiências com outros pequenos e médios empresários do ramo.

Para compartilhar técnicas, histórias e dicas com esses empreendedores, criaram a Confraria Los Pibes, clube que recebe cerca de 50 mestres churrasqueiros, especialistas em carnes e interessados em abrir seu negócio na área.

O pacote com seis reuniões mensais sai por R$ 2.340 e inclui a experiência de jantar do Rincon, com cortes de carne e bebidas selecionadas.

Nos momentos de maior restrição da pandemia, os itens eram enviados à casa de cada participante, e a Confraria virou uma reunião online para que pensassem juntos em soluções, como produtos para ecommerce e kits em parceria com fornecedores de carnes, eles contam.

"Recebemos muitos empreendedores, inclusive de outros estados. Queremos criar conexões que sejam vitoriosas para todos", diz Alan.

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