Para inovar, não é preciso criar um novo aplicativo ou alguma ferramenta supertecnológica. Pequenas e médias empresas podem ser tão inovadoras quanto as grandes se estiverem atentas às necessidades dos consumidores e conseguirem transformá-las em produtos e serviços.
É o que afirma Paula Englert, CEO e sócia da consultoria de tendências Box 1824, que tem entre seus clientes grandes companhias, como Grupo RD (Raia, Drogasil e Onofre), ABInbev, Uber, Spotify e Google.
Para identificar tendências e entender a fundo como os brasileiros consomem, a Box 1824 entrevista milhares de pessoas todos os anos —no último, foram 4.000. Além disso, a consultoria recorre a dados de institutos de pesquisas, estudos acadêmicos e consultas com especialistas de áreas que vão desde antropologia até economia.
Englert ressalta que toda grande companhia que conseguiu transformar o segmento no qual atua —ou até criou um novo modelo de negócio— começou pequena.
Ela cita os setores de alimentação e vestuário, nos quais negócios menores têm sido bem-sucedidos no atendimento a nichos. O crescimento do número de restaurantes veganos é uma evidência desse movimento, afirma.
Para a especialista, a proximidade dos pequenos empreendimentos com seu público-alvo é uma grande vantagem a longo prazo, uma vez que uma grande tendência para os próximos anos é a busca por uma relação de afetividade com os produtos e serviços que são consumidos.
"Estamos saindo daquele pensamento de que aquilo que vem de fora é melhor", diz ela, acrescentando que essa é uma tendência vista não só no Brasil, mas em toda a América Latina, região acostumada a considerar produtos estrangeiros como superiores.
"O consumidor está buscando cada vez mais o que é local. O pensamento agora é: ‘O que está próximo de mim é melhor e me representa’."
Como exemplo desse movimento, Englert cita o crescimento da venda direta, seja por aplicativos de mensagens, seja presencialmente. Consumidoras de cosméticos, mesmo que escolham grandes marcas, preferem comprar das vendedoras que já as conhecem, diz a especialista.
No setor de alimentação também fácil identificar essa preferência. Fornecedores de refeições prontas e restaurantes de bairro vêm crescendo com o aumento da procura por comida caseira.
Na prática, essa valorização da proximidade se traduz em um atendimento mais humano e individualizado.
Nas grandes empresas, o relacionamento com o consumidor é regido por uma série de políticas corporativas que tiram a autonomia do funcionário para resolver um problema de forma personalizada, diz Englert. "Mesmo que você esteja falando com uma pessoa, muitas vezes parece que é um robô. São tantas regras, tantos roteiros, que você despessoaliza aquela relação."
Outra grande tendência apontada pela Box 1824 é a preocupação com saúde, que a passa a ser vista não só como ausência de doenças, mas como bem-estar geral, que inclui saúde mental, afirma Englert
"A saúde se torna uma premissa das decisões que eu tomo: onde eu trabalho, como eu me alimento e me desloco."
Ela cita como exemplo os carros, que vinham perdendo relevância à medida que aplicativos e meios de transporte com menor impacto ambiental ganhavam espaço. Esse panorama mudou com a pandemia, afirma a especialista.
"O veículo passou a ser um espaço de proteção. A relação com o carro foi ressignificada por causa dessa necessidade de cuidar da saúde."
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