Foi pensando em ajudar mulheres como ela que a empresária Jully Souz, 32, criou em 2017 o espaço Zene Afro Estilo, um local de "acolhimento estético-afetivo", nas palavras dela. Localizado no Rio de Janeiro, o espaço oferece tranças e penteados afro para valorizar a beleza e promover a autoestima das mulheres negras.
A história é tema do vigésimo terceiro episódio da série Negócios Plurais, sobre empreendedorismo e diversidade, realizada pela Folha em parceria com o Instagram. Toda semana, o jornal publica em seu perfil na rede social relatos em vídeo de empreendedores de todas as regiões do país.
"Todo empreendedor começa resolvendo o próprio problema. E o meu era a questão com o meu cabelo. A partir do momento em que eu resolvi o problema com o meu cabelo, eu pensei: 'Posso resolver o problema de outras pessoas que são iguais a mim'", diz ela.
"Quando eu mandava currículo sem foto, meu currículo era aprovado. Com foto, não. Então às vezes eu chegava à entrevista, as pessoas olhavam para mim e falavam: 'Ok, mas e aí, você vai cortar, você vai prender, o que você vai fazer com o seu cabelo?'", conta.
Em 2016, após o fim do casamento e o enfrentamento de uma depressão, Jully foi morar com duas amigas que tinham um salão de beleza e que também atendiam clientes em casa. Ela diz que chegava do trabalho cansada, encontrava a sala cheia de mulheres e, para agilizar o serviço das amigas e poder finalmente descansar, começou a ajudá-las a fazer tranças e penteados afro.
Tempos depois, Jully perdeu o emprego e passou a frequentar o salão, onde aprendeu um novo ofício e tomou gosto pelo trabalho. O debate sobre transição capilar estava em alta, e ela percebeu que aquele salão era diferente, não era apenas um lugar onde as pessoas iam para cuidar da beleza, havia uma efervescência cultural ali.
Desde os 14 anos ligada a movimentos sociais —negro, da juventude, feminista e do hip hop—, Jully viu uma oportunidade. "Toda a minha construção social e política, de me entender como mulher preta periférica, vem desses movimentos."
O espaço Zene, ela conta, surgiu primeiro nas redes sociais, a partir dos vídeos que ela publicava de seus próprios penteados e tranças. "Eu compartilhava meus momentos de cuidado com o meu cabelo e logo eu vi que era uma possibilidade de ganhar dinheiro."
Na avaliação de Jully, o diferencial do Zene Afro Estilo foi compreender que era possível unir cultura, movimento social e ativismo por meio da estética. "Zene significa moça bonita no dialeto de Angola. Tem tudo a ver com autoestima, autoafirmação, com a pessoa se sentir bonita e valorizada."
Muita gente fala: 'Ah, é só um cabelo'. Não é só um cabelo, a gente carrega força, feminilidade, cultura e ancestralidade no cabelo
Assista ao vídeo:
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