Descrição de chapéu The New York Times

Nomes de variantes da Covid viram desafio de marketing para negócios

Companhias batizadas com letras gregas lidam de forma bem-humorada com a nova exposição

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Shane O’Neill
The New York Times

O momento é estranho para quem trabalha na Omicron Granite & Tile, em Ohio, ou no Omicron Family Restaurant, em Wisconsin [ambos nos Estados Unidos]. Ou ainda para quem for membro de uma das diversas sociedades universitárias americanas cujos nomes incluem "ômicron" —especialmente se a sigla incluir também a palavra "delta".

Em maio, a OMS (Organização Mundial da Saúde) anunciou que começaria a se referir às variantes mais importantes da Covid-19 por meio de letras gregas.

Mulher de costas, com camiseta preta escrita "Omicrom", segura uma bandeja em um restaurante
Funcionária do restaurante Omicron Family em Wisconsin (EUA); estabelecimento leva o nome de uma variante do coronavírus - Kevin Miyazaki/The New York Times

A ideia era simplificar os nomes e evitar a confusão que pode ser causada ao identificar doenças com base em localizações geográficas (a gripe espanhola, por exemplo, não se originou na Espanha).

"Delta" é mais fácil de lembrar do que "B.1.617.2". Mas, se uma empresa usa a palavra "ômicron" em seu nome, é bem possível que prefira que as pessoas falem sobre a variante B.1.1529.

Harshil Shah, diretor da Omicron Sensing, fabricante de equipamentos elétricos em Mumbai, na Índia, disse que as notícias sobre a variante afetaram a presença de sua empresa na internet.

"Nosso nome costumava vir na primeira página de resultados de busca, se o termo de referência era ômicron", disse Shah. Agora, ele só aparece depois de páginas e mais páginas de resultados sobre a pandemia do coronavírus.

A Omicron Sensing é uma das organizações cujo nome era positivo semanas atrás, mas agora evoca uma variante contagiosa da doença.

Por isso, a empresa precisou alterar suas estratégias de marketing ao se ver associada, mesmo que tangencialmente, à história noticiosa mais importante dos últimos dois anos: a Covid-19 e sua crescente lista de mutações.

A questão é: como tratar a conexão? A Omicron Energy, uma empresa que vende equipamentos de teste para sistemas elétricos, recebeu esse nome porque seu fundador, Rainer Aberer, achava que letras gregas evocavam um senso de conhecimento técnico e matemático.

Hoje, um comunicado no site da Omicron Energy diz que "não há coisa alguma que possa ser feito com relação a essa conotação", que a empresa espera "que não perdure".

Mulher que segura uma bandeja e usa sa camista "comprei Corona no Ômicron"
A atendente Alexa Braden no Omicron Family Restaurant, nos EUA - Kevin Miyazaki/The New York Times

Os dados iniciais da variante ômicron demonstram que ela é altamente contagiosa, mas pode causar sintomas mais amenos do que os de outras variantes.

A Delta Omicron International Music Fraternity, uma das diversas organizações fraternais que trazem em sua designação os nomes de duas variantes da Covid-19, demonstrou paciência e estoicismo semelhantes em um comunicado na qual afirma que seus integrantes estão "perplexos diante da coincidência", mas que não antecipam "qualquer mudança no trabalho".

Epidemias, desastres e outras tragédias já geraram mudanças súbitas em nomes que anteriormente eram neutros. O Ayds, um confeito que ajudava a reduzir o apetite, estava no mercado há décadas antes que a epidemia de Aids transformasse seus comerciais em piadas macabras.

No começo, a empresa decidiu seguir firme. "Que a doença mude de nome", disse um porta-voz do fabricante do Ayds à revista americana Advertising Age em 1986.

Mas em 1988 o presidente do conselho da companhia declarou ao jornal americano The New York Times que as vendas do produto tinham caído em mais de 50%.

O furacão Katrina teve efeito igualmente catastrófico sobre o nome. Depois da tempestade de 2005, os registros da previdência social americana mostram que o número de crianças registradas com o nome Katrina despencou, de acordo com dados do governo americano.

E a rede canadense de TV CBC noticiou em setembro que algumas pessoas que têm o mesmo prenome que Osama bin Laden continuavam a sentir repercussões pessoais, 20 anos depois dos ataques do 11 de setembro.

No caso de ômicron, há quem esteja encarando a sobreposição de nomes com curiosidade ou bom humor.

Tara Singer, presidente da Omicron Delta Kappa Society, uma fraternidade universitária, disse que não estava preocupada com o efeito provocado pela variante ômicron no setor de relações públicas de sua organização. "A Delta Air Lines se saiu bem, e nós também nos sairemos."

A Delta Air Lines está se recuperando do declínio de faturamento causado pela pandemia (como todo o setor de aviação), mas a variante delta continua a ser assunto complicado para a companhia.

Um porta-voz da Delta disse ao The New York Times que, na comunicação interna, empregados da companhia se referem à mutação do vírus como "a variante".

A companhia de aviação também reagiu com um pouco de humor. Henry Ting, o vice-presidente de saúde da empresa, escreveu no Twitter que a empresa "prefere chamar a variante de B.1.617.2 porque é muito mais simples de lembrar e dizer".

Singer apontou que alguns membros da Omicron Delta Kappa estão se divertindo com a coincidência. Ela se lembra de um integrante ter brincado que "se aparecer uma variante kappa, vou tomar uma cerveja Corona".

O Omicron Family Restaurant, em West Bend, Wisconsin, está levando o trocadilho duplo com "ômicron" e "corona" um passo adiante.

Neste mês, o restaurante começou a comercializar, por US$ 15 (cerca de R$ 85), uma camiseta com foto da cerveja Corona e os dizeres "peguei minha Corona no Omicron".

John Tsiampas, gerente do restaurante, disse ter percebido um aumento no número de fregueses desde que a variante emergiu. "Alguns ficam para comer; outros entram para tirar uma foto e vão embora."

O pai e tio de Tsiampas abriram o restaurante em 1990; os dois emigraram da Grécia para os EUA na década de 1960, e escolheram o nome Omicron para honrar sua herança grega e se diferenciar de outros estabelecimentos.

Tradução de Paulo Migliacci

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