De bitcoin a veganismo, idosos mudam hábitos de consumo; leia depoimentos

Envelhecimento populacional gera demandas e desafia mundo dos negócios

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O envelhecimento populacional acelerado gera demandas e impõe às empresas que conheçam e dialoguem com os consumidores mais velhos.

Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgado no ano passado mostrou que a proporção de idosos com mais de 65 anos no Brasil pode saltar dos 7,3%, em 2010, para 40,3% em 2100.

Segundo Caroline Minucci, consultora do Sebrae, o público maduro quer se manter ativo por mais tempo e frequentemente muda os hábitos.

Veja a seguir depoimentos de pessoas com mais de 60 anos que mudaram os hábitos de consumo.

Mulher de camisa preta e óculos sorri para foto; ela tem árvores ao fundo, em uma paisagem de floresta
A atriz e ativista Lucélia Santos, 64, virou vegana e lê os rótulos dos produtos que consome - Divulgação

‘Virei vegana e leio todo rótulo de produto que compro’
Lucélia Santos, 64, atriz e ativista ambiental, que volta ao teatro em abril com a peça "Vozes da Floresta"

Sou vegetariana há 40 anos e sempre procuro fortalecer a agricultura orgânica e familiar, ainda mais nesse contexto do PL [projeto de lei] do veneno aprovado pela Câmara dos Deputados.

Em janeiro, me transformei em vegana totalmente, deixando de consumir itens como ovos. Comecei a incrementar muito os sucos que faço e estou adorando.

No dia a dia, outro hábito que mudou é que agora leio, antes da compra, todos os rótulos de produtos para ter certeza de que eles não causam nenhum tipo de sofrimento animal.

Com isso, troquei, por exemplo, a marca de creme e de xampu que costumava usar. Claro que dá mais trabalho, mas me sinto muito bem de estar ligada à roda da vida. É um compromisso e uma posição política muito forte.

‘Parei de pintar o cabelo e isso para mim foi uma libertação'
Eulália Domingues Xavier, 66, aposentada

Sou vegetariana e tenho uma alimentação saudável. No mercado, prefiro pagar um pouquinho mais caro e comprar frutas, verduras e legumes orgânicos, sem agrotóxicos. São hábitos que eu adquiri há cinco anos, após um diagnóstico de câncer no ovário.

Há uns dois anos eu também parei de pintar o cabelo e isso para mim, como mulher, foi uma libertação.

Não tem nada de desleixo em assumir os cabelos grisalhos, mas muita gente pensava assim. Eu uso um xampu matizador à base de açaí para não amarelar os brancos e passei a gostar do meu cabelo como ele é.

Também não uso mais produtos que façam testes em animais. Com o tempo a gente vai tomando consciência de que não precisa agredir um bicho para ter uma bolsa, um cinto, um sapato.

‘Vou virar cidadã digital e comprar empresa no metaverso’
Leila Navarro, 69, autora, empreendedora, palestrante e ativista

Com a idade, tornei-me mais minimalista. Saí de um dúplex de 375 m² para um apartamento de 50 m². A única coisa viva nele sou eu. Não tenho nem planta, ou teria que cuidar, e só quero cuidar de mim.
Mudei a relação com o dinheiro. Eu tenho bitcoins.

Compro na internet, mas gosto de ir ao mercado e de experimentar roupa antes de levar.
Não sou muito ligada em saúde, mas faço tratamento ortomolecular para manter uma vida de qualidade. Não faço ginástica.

Falo para o meu namorado que ele é amante, porque sou casada com o trabalho. Viajo muito. Fui para a Estônia, onde há cidadania digital. Vou virar cidadã digital de lá e comprar uma empresa no metaverso.

E sonho em ir para a Lua com o [CEO da Tesla] Elon Musk, meu crush.

‘Assinei streaming alternativo e penso em mudar para a praia’
Duca Rachid, 61, autora de telenovelas como "Joia Rara" (2013) e "Órfãos da Terra" (2019)

Gosto muito de frequentar o teatro e, antes da pandemia, às vezes assistia uma peça no sábado e outra no domingo. Com o isolamento, aumentei o consumo de livros, séries e filmes. Fiz, inclusive, a assinatura de uma plataforma de streaming que tem produções mais alternativas.

A minha profissão demanda muitas horas de trabalho e, mesmo antes da crise, já ficava bastante tempo em casa. Ainda assim, na pandemia passei a fazer novos questionamentos. Não me sinto segura em lugares cheios e fico pensando se faz sentido continuar morando em São Paulo.

Às vezes penso em mudar para a praia porque tudo aquilo que me agradava na capital paulista, como teatro e restaurante, eu não tenho mais com a mesma frequência.

‘Eu e meu marido temos saúde e queremos viajar’
Arlete Maria Caron Gutierrez, 72, diretora de escola aposentada

Eu e meu marido, Carlos Alberto, adoramos viajar de navio. Fora do país, já fizemos cruzeiros por locais como França, Turquia, Grécia e Índia.

Quando a pandemia chegou, começamos a viajar pelo Brasil: retornamos a alguns lugares, como Foz do Iguaçu, no Paraná, e aproveitamos para conhecer outros, como Ubatuba, no litoral de São Paulo, e Poços de Caldas e Capitólio, em Minas.

Meu marido faz o planejamento: ele fica o dia todo atrás do computador de olho nos roteiros de viagem. Acho que fizemos umas 15 neste período.

Foi uma oportunidade para valorizar nosso país, mas sempre tomando cuidados contra a Covid. Neste ano já marcamos passeios, entre eles para Maragogi, em Alagoas. Temos saúde e queremos aproveitar.

‘Descobri a tecnologia e até cogito fazer cartão de crédito’
Sérgio Crivelari, 75, professor aposentado

Nunca tive muito interesse pela tecnologia. Antes da pandemia eu não precisava de celular e, quando dava aulas, usava o computador da própria escola.

Descobri novas possibilidades quando ficamos presos em casa. Comecei a fazer compras pela internet e também ganhei um aparelho celular. Isso foi um divisor de águas.

Na internet descobri novos restaurantes, passei a comparar preços e a procurar por alimentos mais saudáveis. Comecei a consumir mais hortaliças e carnes magras. A mudança tem sido importante para a minha saúde e veio para ficar. Considero que ganhei praticidade e tenho mais poder de escolha.

Ainda não tenho cartão de crédito, mas uso o da minha filha. Sou correntista de um banco e vivem tentando me convencer a fazer um. Agora cogito essa possibilidade.

‘Faço aulas de teatro online e me reinventei durante o isolamento’
Ida da Silva Bazoli, 75, dona de casa

Comecei a fazer aulas de teatro online na pandemia. Fazemos diálogos pelo aplicativo Zoom e até estamos amadurecendo a ideia de apresentar uma peça. Estou adorando e não vejo a hora de conhecer as minhas amigas também pessoalmente.

É um investimento que vale a pena e importante para manter a saúde mental durante o isolamento. Antes eu era mais afastada da tecnologia e, nos últimos meses, me reinventei. No começo, eu só usava o telefone para atender ligações. Agora eu uso o zap, YouTube e a minha filha me chama de rainha do Google porque pesquiso tudo lá.

Além do teatro, também fiz artesanato, dança contemporânea e psicoterapia pela internet. As atividades online são práticas, mas ainda assim prefiro quando podemos sair para bater perna.

Não ligo mais tanto para carne; cerveja e vinho ainda caem bem'
Zé Alexanddre, 63, cantor, vencedor to The Voice + em 2021

Com a pandemia, se preciso de algo, tipo corda para violão, não vou mais à loja. É o tal do Mercado Pago e dos deliveries. A loja física meio que desapareceu para a minha família.

Quanto à alimentação, quando a gente envelhece, mudam algumas coisas. Não ligo mais tanto para carne. Não virei vegetariano, mas me habituei a comer mais salada. Cerveja e vinho ainda caem bem.

A publicidade não conversa com os velhos. Talvez campanhas me convencessem, talvez não, mas acho que falta interesse. E olha que a classe dos velhinhos é rentável.

Uma mudança que veio com idade foi pensar mais no presente e não arquitetar muito o futuro. Sonho com um sítio cheio de frutas, mas não me desesperarei se isso não for possível.

‘Quero manter um estilo próprio e uso o que me dá liberdade’
Roseli Almeida Alves, 67, pedagoga

Gosto muito de viajar e procuro fugir dos pacotes fechados. Prefiro ir para lugares em que eu possa caminhar e aprender algo novo. É andando que observo as coisas, converso com as pessoas e tento sempre aproveitar a gastronomia local.

Sempre me preocupei em ter uma alimentação saudável e, durante a pandemia, adquiri o hábito de cozinhar. Uso a internet para procurar as receitas e testo os meus temperos. Às vezes dá errado, mas eu insisto.

Eu também cortei glúten e derivados de leite. Acho que é uma maneira de olhar para dentro e cuidar de mim sem esperar por ninguém. Para o meu guarda-roupa, escolho coisas diferentes.

Não gosto de modinhas e também não ligo para essa coisa de que cada peça tem uma idade. Quero manter um estilo próprio e uso o que me dá liberdade.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.